Braille existe há 191 anos. Especialistas comentam a importância da acessibilidade das pessoas com deficiência visual
Denise Claro
Da redação
No dia 8 de abril, o Brasil comemora o Dia do Braille. Segundo o Censo 2010, existem, no Brasil, 6,5 milhões de pessoas com alguma deficiência visual. Desse total, 582 mil são cegas. O sistema de leitura e escrita foi desenvolvido pelo francês Louis Braille, em 1825, que ficou cego durante a infância.
Regina Fátima Caldeira de Oliveira, coordenadora da revisão braille da Fundação Dorina Nowill para Cegos, explica sobre o sistema:
“O sistema braille é o sistema natural de escrita utilizado pelas pessoas cegas em todo o mundo e é baseado em seis pontos em relevo. A partir deles, é possível formar combinações e representar assim todas as palavras, números e símbolos existentes, como os de informática, fonética e até de partituras musicais. São 63 combinações que, aplicadas aos diferentes contextos, permitem aos cegos lerem tudo o que é representado na escrita comum.”
A data, na visão de Regina, é importante por conscientizar as pessoas sobre o sistema e por mostrar que, por meio dele, os cegos podem ter acesso à educação, informação, cultura, lazer e também à tecnologia.
“Hoje em dia, por exemplo, temos no mercado editorial, além dos livros em braille, os livros digitais (livros falados). Os cegos também podem usar computadores, celulares e tablets. A acessibilidade acontece principalmente por meio de leitores de tela.”
Braille e Tecnologia
A tecnologia aliada ao sistema Braille trouxe mais oportunidades para os cegos. Para o Doutor em Engenharia de Sistemas e Computação, professor Antônio Borges, a união Braille+Computador é de grande relevância. Além dos avanços com os computadores e síntese de voz, por meio de programas como Dosvox e NVDA, o professor destaca que existem outros meios.
“Hoje, por meio de impressoras especiais, a produção de textos em Braille, transcritos a partir de qualquer original, pode ser feita em segundos. Além disso, existem dispositivos de geração de letras em braille em tempo real, que permitem a visualização imediata de qualquer conteúdo da tela do computador diretamente em braille. O que é exibido em síntese de voz, ao ser transcrito para Braille imediatamente e sem esforço, torna a qualidade da leitura muito mais precisa do que realizada unicamente por meio da audição dos textos sintetizados.”
O professor e gerente do projeto Dosvox (mais utilizado no Brasil pelos cegos, com cerca de 80 mil usuários) ainda lembra que, atualmente, todos os smartphones e tablets têm facilidade de tratamento de acessibilidade para cegos.
“Os aparelhos já trazem de fábrica programas leitores de tela bastante sofisticados, integrados aos sistemas operacionais (Android, iOS, Windows Phone e BlackBerry), e a própria pessoa cega pode localizar as informações pelo vidro do aparelho, pois há uma série de gestos específicos (sequências de movimentos de dedos sobre o vidro) que são interpretados pelo programa leitor de telas como comandos para localizar ou exibir informações sonoramente.”
Ethel Rosenfeld é professora e perdeu a visão aos 13 anos de idade. Utiliza computador, celular e navega pela internet por meio de softwares como o Dosvox e o Jaws (leitor de tela americano).
“Tudo o que aparece na tela, o programa lê para mim em voz alta. Utilizo muito para ler e responder e-mails, Skype e Facebook. No celular também existe comando de voz para tudo. Assim que comprei, ativei as opções que eu precisava na parte de acessibilidade. A tecnologia ‘abriu um mundo’ para nós.”