No interior de São Paulo, quatro equipes se revezam para levar aos moradores de rua uma ajuda concreta e espiritual
Monique Coutinho
Da redação
“Pela Evangelização: ir ao encontro dos marginalizados”, essa é uma das intenções de oração do Papa Francisco para este mês de agosto. O Pontífice vem chamando à atenção para ações solidárias e destacando a importância de levar a Palavra de Deus aos mais carentes.
Em uma de suas homilias, o Santo Padre defende a proximidade aos mais necessitados como um aspecto fundamental da comunidade cristã, e observa ainda que os cristãos devem estender as mãos àqueles que a sociedade tenta excluir. “Jesus ‘sujou’ as mãos tocando os leprosos“, afirma.
Um exemplo de quem atende esse apelo do Santo Padre é a Pastoral de Rua, que existe em diversas dioceses espalhadas pelo Brasil. Nossa equipe conversou com a coordenadora da Pastoral de Rua de Guaratinguetá (SP), Lucineia Ayres. Ela conta que o órgão serve os necessitados há cerca de 18 anos e é composto por quatro equipes, que toda segunda e quinta-feira saem para as ruas oferecendo alimentos para o corpo e alma das pessoas carentes.
De acordo com a coordenadora da Pastoral, Lucineia Ayres, o real objetivo da pastoral é levar a presença do Deus Vivo. “A comida é só uma desculpa pra gente chegar até eles e conversar, saber do que eles estão precisando naquele momento e fazer de tudo, dentro do possível, para ajudá-los”.
A responsável disse que o principal alvo da Pastoral de Rua são os mais necessitados desabrigados, mas que, quando sobram doações, os envolvidos distribuem para asilos e locais que precisam de ajuda.
“A gente sempre doa o que nos excede. Há uma família para a qual a pastoral dá uma cesta básica todo mês, que é de um senhor que era taxista. Ele foi arrumar a antena em cima da casa e caiu, bateu a cabeça no tanque e ficou paraplégico.”
Aprendendo com os moradores de rua
Os moradores de rua tem muito para ensinar. Segundo a coordenadora, nenhum deles comem sem antes fazer uma oração. “Entregamos a comida e eles mesmos já falam: ‘Vamos orar? Vamos agradecer?’, e se existe alguém que ainda não se alimentou, eles recordam o irmão e pedem para deixar algum alimento. Eles estão sempre pensando no outro e dividindo o nada deles com o outro.”

Todo morador de rua que faz aniversário, a pastoral o presenteia com bolo / Foto: Pastoral de Rua (Guaratinguetá – SP)
Em um de seus encontros com voluntários, o Papa Francisco falou que muitos dos necessitados estão famintos não só de alimentos, mas de “liberdade e futuro”.
A responsável pela pastoral concorda com as palavras do Pontífice, e acrescenta ainda que é preciso ter a união do órgão publico, da Igreja e dos leigos, porque além da comida, muitos precisam de tratamento médico, psicológico e de recuperação. “Se todo mundo desse as mãos sem interesse pessoal, as coisas fluiriam melhor”.
Voluntariado
Doar-se sem esperar nada em troca faz mais bem a quem pratica o ato do que a quem o recebe. Para Lucineia, é muito gratificante trabalhar como voluntária, principalmente diante dos testemunhos relatados.
“É ver as pessoas se entregarem. É no pedir que existe muita graça, porque, quando a pessoa abre o coração para doar, Deus já vem e faz uma obra. Estamos justamente para isso, para servir a Deus e para que mais pessoas venham amar a Deus como ele merece ser amado, não da boca para fora, mas sim com atitudes concretas.”
Ao concluir, a coordenadora do órgão recorda a importância do voluntariado e diz que ainda existem muitas pessoas boas no mundo. “Pessoas que realmente se entregam, que tem tudo na vida e que não precisavam fazer isso, mas que a felicidade deles é encontrada nesse pequeno gesto. É essa a importância. Não somos nós que convidamos, é Deus quem os traz.”