Dia Mundial do Doente

Sofrimento humano e fé cristã: saiba mais sobre o assunto

A Igreja Católica em todo o mundo celebra hoje o 19º Dia Mundial do Doente, no mesmo dia da memória litúrgica de Nossa Senhora de Lourdes.

Na Carta em que instituiu oficialmente a celebração, escrita em 1992, o Papa João Paulo II escreveu que a Igreja "busca salientar o caráter salvífico do oferecimento do sacrifício que, vivido em comunhão com Cristo, pertence à essência mesma da redenção".

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.: Entrevista com Dom Antônio Augusto Duarte
.: Entrevista com a doutora Maria Inez Carvalho

Qual é exatamente a doutrina da Igreja com relação ao sofrimento? O que significa esse caráter salvífico?

De acordo com o Bispo Auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro e assessor da Federação de Associações Médicas Católicas Latino-Americanas (FAMCLAM), Dom Antônio Augusto Dias Duarte, desde os seus inícios a Igreja reconhece no sofrimento, assumido por Jesus, a força e a eficácia para a salvação e redenção da humanidade.

"Quando a Igreja fala do caráter salvífico do sofrimento humano, refere-se justamente que não há outro caminho para libertar-nos do pecado e suas consequências que o sofrimento", explica.

No entanto, isso não significa que ela deseje que as pessoas sofram:

"A doutrina é no sentido de que deem significado ao sofrimento, identifiquem seu sofrimento físico e moral com os de Jesus na Cruz, para que possam receber todos os frutos da salvação que derivam desse altar de sacrifício. […] A libertação total do ser humano é a libertação para o amor. Não há sofrimento que seja salvífico que não tenha significado em Cristo. Ele deve abrir-nos a porta para o amor e, assim, encontramos a libertação", elucida o bispo.

Na Mensagem que escreveu para o Dia do Doente deste ano, o Papa Bento XVI afirma que "o sofrimento permanece sempre carregado de mistério, difícil de aceitar e carregar". Nessa perspectiva, quando acolhido como força salvadora, o sofrimento pode ajudar a crescer a vida da fé.

"E a fé firme gera a esperança segura de que, após o sofrimento, vem a ressurreição, aquele bem que é inimaginável. A vida em abundância veio através da morte e dos sofrimentos que Jesus padeceu nos últimos instantes da existência terrena e nos trouxe a esperança que ilumina a nossa vida, a de que a morte e o sofrimento não têm a última palavra. A última palavra é que Cristo ressuscitou, Cristo vive. Não se pode viver o sofrimento sem ter essas duas imagens: Cristo na Cruz e Cristo Ressuscitado", complementa.

Perda de sentido

Uma forte corrente no mundo contemporâneo valoriza demasiadamente o bem-estar físico, material, e define como qualidade de vida a ausência absoluta de sofrimentos, dores, contrariedades.

"Assim, qualquer sofrimento perde seu caráter de mistério da fé e passa a ser um inimigo a ser eliminado a qualquer preço. Como não se consegue eliminar o sofrimento em si, elimina-a se pessoa que sofre. Logo, o ser humano mais frágil, que sofre, que precisa de mais cuidado, se torna um objeto descartável", adverte Dom Antônio.

É comum que os enfermos se sintam marginalizados ou até mesmo excluídos devido à sua condição, ainda mais na cultura ocidental, que prima pelos aspectos que ressaltam a boa forma e a aparência. Mas é exatamente aí que o doente é chamado a dar um testemunho fundamental: o do amor de Deus.

"É uma experiência que encontramos na vida de muitos que vivem o sofrimento com fé e esperança. A manifestação mais palpável é a alegria na dor. Muitas pessoas têm profundos sofrimentos físicos ou morais, mas são pessoas de fé, que vivem de esperança. Estão sempre de bom humor, alegres, bem dispostas,e  nem parecem que tem algum padecimento; não porque sejam insensíveis, mas porque estão sempre em paz, muito alegres", conclui o bispo.

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Papa João Paulo II é apontado como exemplo de vivência cristã do sofrimento humano

Um testemunho de vida

A presidente da FAMCLAM, Maria Inez Linhares de Carvalho, ajuda a organizar toda uma rede de trabalho junto ao Ambulatório da Providência e à Casa de Apoio Santo Antônio, instituições que prestam assistência especial às pessoas carentes soropositivas na Arquidiocese do Rio de Janeiro.

O trabalho iniciou há 23 anos e atende a população excluída, como prostitutas e prostitutos, mendigos, crianças de rua e outros.

"Como encontrar a alegria de viver sem fé? Como convencer essas pessoas a serem do bem, largar o álcool e a droga, e enfrentar uma doença que não tem cura, se não há fé?", questiona a médica.

Ela conta que a sobrevida é muito maior através do processo de conversão pelo qual passam essas soropositivos, destacando a importância da fé em Cristo na hora do sofrimento, pois traz paz e serenidade aos doentes.

"A gente houve coisas como: 'Doutora, agradeço a Deus por ter Aids'. Eu levei um susto. 'Foi através dela que conheci o que é carinho', justificam. São pessoas que nunca tiveram carinho, não sabiam o que era isso".

Maria Inez diz que algumas doenças chegam a ser curadas através dessa realidade de vivência comunitária do sofrimento, exatamente como indica Bento XVI na Mensagem deste ano:

"Se cada homem é nosso irmão, ainda mais o fraco, o sofredor e o necessitado de cuidados devem ser centro da nossa atenção, para que nenhum deles se sinta esquecido ou marginalizado".


O Dia Mundial do Doente

A data foi criada em 1992, pelo Papa João Paulo II, com o objetivo de "sensibilizar o povo de Deus e, por conseguinte, às várias instituições sanitárias católicas e a sociedade civil a assegurar a melhor assistência possível aos enfermos; ajudar o enfermo a valorizar, no pleno humano e sobretudo sobrenatural, o sofrimento; fazer que se comprometam na pastoral sanitária de maneira especial as dioceses, as comunidades cristãs e as famílias religiosas; favorecer o compromisso cada vez mais valioso do voluntariado; recordar a importância da formação espiritual e moral dos agentes sanitários; e, por último, fazer que os sacerdotes diocesanos e religiosos, assim como quantos vivem e trabalham junto aos que sofrem, compreendam melhor a importância da assistência religiosa aos enfermos".

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.: Carta Apostólica Salvifici Doloris, de João Paulo II, sobre o sentido cristão do sofrimento humano

 

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