A Paz esteja convosco!
As celebrações do Ano Sacerdotal, que foram recentemente concluídas, me incentivaram a mandar-vos uma cordial e fraterna saudação e a destinar-vos uma palavra de encorajamento no árduo compromisso pastoral que estais desempenhando como pastores da grei que o Senhor vos confiou em nesta nobre Nação. Desejava dizer-vos estas coisas pessoalmente e escutar também as vossas alegrias e as vossas dores, bem como a esperança que nutris e os desafios que afrontais todos os dias. Os vossos testemunhos e as vossas mensagens, que chegam a esta Congregação Missionária, nos dão muita consolação e nos estimulam a levantar fervorosas orações, a fim de que o Senhor vos torne sempre mais fortes na fé e vos sustente nos vossos esforços para propagar a Boa Nova de Jesus Cristo nesta dileta Nação.
Tendo em mente a insigne figura de São João Maria Vianney, o Cura d’Ars, que foi muito recordado durante o Ano Sacerdotal, reconhecemos acima de tudo – com toda a humildade – que somos chamados por Jesus a ser "não mais servos, mas amigos" (cf. Jo 15, 15), não por nossos méritos, mas pela Sua infinita misericórdia. Ele nos conferiu a insigne dignidade de ser Alter Christus e ministros da sua palavra, do seu Corpo e Sangue, e do seu Perdão. Recordamos sempre as suas palavras: "Não fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi e vos constituí para que vades e produzais fruto, e o vosso fruto permaneça" (Jo 15, 16).
Exatamente porque um sacerdote é um Alter Christus – também, Ipse Christus –, ele deve ser um Homem de Deus e Homem para os outros.
Antes de tudo, Homem de Deus: isto é, aquele que leva os homens a Deus e traz Deus aos homens. Ele deve, portanto, distinguir-se como homem de oração e de vida austera, profundamente enamorado por Jesus Cristo e, como João Batista, ansioso por proclamar a sua presença em meio a nós, particularmente na Santa Eucaristia.
Um sacerdote deve ser, pois, também um Homem para os outros: alguém, isto é, inteiramente dedicado aos fiéis jovens e adultos, confiados aos seus cuidados pastorais, e a todos aqueles com que o Senhor Jesus desejou identificar-se ou àqueles a que mostrou benevolência: os pecadores, antes de tudo, e os pobres, os doentes e marginalizados, as viúvas, as crianças, bem como as ovelhas que ainda não são do seu rebanho (cf. Jo 10, 16). Um eclesiástico terá, então, cuidado para resistir a todo desejo de enriquecer-se com os bens materiais ou de buscar favores para a própria família ou etnia, ou de nutrir uma ambição doentia de fazer carreira na sociedade ou na política. Tudo isso é estranho à sua vocação sacerdotal e o distrai gravemente da sua missão de conduzir os seus fiéis, de bom pastor, sua vida de santidade, da justiça e da paz.
Permiti-me, caríssimos irmãos, que me atenha agora sobre o importante papel de um Bispo ou de um sacerdote como operador da unidade no seio da Igreja de Deus. Essa missão tem uma dúplice dimensão e comporta a comunhão com o Papa, a "pedra" sobre a qual Jesus desejou edificar a sua Igreja, e a união dos membros que dela fazem parte.
Em primeiro lugar: comunhão com o Santo Padre. Sabemos bem o quanto alguns de vós deveis ter sofrido no passado recente devido à sua fidelidade à Santa Sé. Prestamos homenagem a cada um daqueles que, na certeza de que, como afirma o Papa Bento XVI, "a comunhão com Pedro e seus sucessores, de fato, é garantia de liberdade para os pastores da Igreja e para a própria Comunidade a eles confiada": de fato, "o ministério petrino é garantia de liberdade no sentido da plena adesão à verdade, à autêntica tradição, de tal forma que o Povo de Deus seja preservado de erros concernentes à fé e à moral" (Homilia do Papa na Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, 29 de junho de 2010). A exemplar fidelidade e a admirável coragem, demonstrada pelos católicos na China com relação à Sé de Pedro, são um dom precioso do Senhor.
A outra dimensão da unidade dos cristãos é a união entre os membros da comunidade eclesial. É esse importante desafio que já estais afrontando, buscando reforçar a unidade no seio da mesma Igreja. Seria útil entrar frequentemente em espírito no
Na homilia anteriormente citada, o Santo Padre afirmou: "Se pensamos nos dois milênios de história da Igreja, podemos observar que – como havia prenunciado o Senhor Jesus (cf. Mt 10, 16-33) – nunca faltaram para os cristãos as provações, que em alguns períodos e lugares assumiram o caráter de verdadeiras e próprias perseguições. Essas, no entanto, apesar do sofrimento que provocam, não constituem o perigo mais grave para a Igreja. O dano maior, de fato, provém daquilo que polui a fé e a vida cristã dos seus membros e das suas comunidades, afetando a integridade do Corpo Místico, enfraquecendo a sua capacidade de profecia e testemunho, manchando a beleza de seu rosto". E o Papa indica o instigador de tal situação nefasta quando declara: "Um dos efeitos típicos da ação do Maligno é exatamente a divisão no interior da comunidade eclesial. As divisões, de fato, são sintomas da força do pecado, que continua a agir nos membros da Igreja mesmo após a redenção. Mas a palavra de Cristo é clara: 'Non praevalebunt – não prevalecerão' (Mt 16, 18). A unidade da Igreja está enraizada na sua união com Cristo, e a causa da plena unidade dos cristãos – sempre a se buscar e renovar, de geração em geração – é, então, sustentada pela sua oração e sua promessa".
Louvamos ao Senhor pelos esforços já realizados ou em curso rumo à unidade no seio da Igreja, também no fiel cumprimento das indicações dadas pelo Santo Padre na Carta que Ele vos endereçou em 27 de maio de 2007, e pelos resultados obtidos até agora. Desejo suplicar que Deus abençoe as vossas iniciativas a fim de que a unidade dos Pastores entre si e com o seu rebanho seja sempre mais enraizada em Cristo e na Igreja "ad maiorem Dei gloriam".
Nesta mais propícia circunstância, honro-me em assegurar-vos a proximidade espiritual de Sua Santidade o Papa Bento XVI, o Qual vos abençoa com afeto paternal, conjuntamente àqueles que são confiados aos vossos cuidados pastorais, e vos convida a prosseguir intrépidos o seu caminho da santidade, da unidade e da comunhão, como fizeram as gerações que vos precederam.
Que Maria Santíssima, Auxiliadora dos Cristãos, que a Igreja na China venera em Sheshan com filial e terna devoção, vos proteja e faça frutificar todo o vosso propósito para espalhar o bom perfume do Evangelho de seu Filho Jesus em todos os cantos da vossa amada Pátria. Neste importante e comprometedor compromisso, vos assista o luminoso exemplo do inesquecível missionário na China, padre Matteo Ricci S.J., do qual recordamos, com grata afeição, o 400º aniversário de partida rumo ao Reino do "Senhor do céu".
Com a renovada garantia das nossas orações e com fraternas saudações In Corde Mariae.
Cardeal Ivan Dias
Prefeito
+ Robert Sarah
Secretário
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