Brasília

Homilia da Missa em memória à construção de Brasília

Excelentíssimo Dom João Braz de Aviz, Arcebispo de Brasília, que nos hospeda, nesta noite, com esta Celebração Eucarística no Cruzeiro de Brasília. Eminentíssimo Cardeal Dom Geraldo Majella Agnelo, Arcebispo Primaz de São Salvador; Eminentíssimo Dom Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo; eminentíssimo Cardeal Dom José Freire Falcão, Arcebispo Emérito de Brasília; excelentíssimo Dom Geraldo Lirio Rocha, Arcebispo de Mariana e presidente da Conferência Nacional dos Bispos no Brasil (CNBB), excelentíssimo Dom Raymundo Damasceno, Arcebispo de Aparecida e presidente do CELAM (Conselho Episcopal Latino-americano). Excelentíssimos Arcebispos, bispos, excelentíssimas autoridades civis e militares, quero registrar a presença do Dr. Gilberto Carvalho, chefe do Gabinete da Presidência da República, representação do Presidente da República. O excelentíssimo governador do Distrito Federal, Rogério Rosso, a vice-governadora, a excelentíssima Ivelise Longhi; excelentíssimos senhores embaixadores, representantes dos diversos países aqui presentes, autoridades dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, autoridades militares, do Exército, da Marinha e da Aeronáutica; queridos sacerdotes, diáconos, religiosos e religiosas, seminaristas, vocacionados e vocacionadas, irmãos e irmãs de Brasília e de outras unidades da Federação e visitantes de outros países.

É necessário que o Filho do homem seja levantado, para que todos aqueles que n'Ele crerem tenham a vida eterna e possam cumprir também as obras que Ele faz e outras ainda maiores (Jo 3, 14). A cruz vitoriosa de Cristo ressuscitado é o estandarte que a Igreja levanta na sua longa história de evangelização, a partir dos apóstolos que foram testemunhas e instrumentos das grandes obras de Deus, com a certeza de que estas seguirão acontecendo em virtude da Sua promessa: “Se me pedirdes alguma coisa em meu nome Eu a farei” (Jo 14,13-14).

Hoje estamos aqui reunidos no Cruzeiro de Brasília para celebrar um desses magníficos dias: uma grande obra do Senhor de nossa era contemporânea, que é a comemoração da primeira Missa celebrada no dia 3 de maio de 1957 neste solo brasileiro, centro geográfico da Nação e capital da República Federativa do Brasil.

A Igreja eleva – com esta Celebração Eucarística – ao Deus Todo-poderoso um hino de ação de graças, pois uma vez mais se cumpriram aquelas palavras proféticas do Redentor dos homens: “Quem crê em mim fará obras ainda maiores”.

Como é belo ver o símbolo da nossa fé: a cruz, presidindo aqui esta Celebração Eucarística no mesmo local onde o Cardeal Arcebispo de São Paulo na época, Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, celebrou a Divina Eucaristia em memória da primeira Santa Missa em solo continental realizada no dia 1º de maio de 1500 pelos primeiros evangelizadores.

Sim, queridos brasileiros e povo da capital deste País-continente, demos graças ao Senhor, porque o braço de Deus não se dobrou, o Divino Mestre confirmou a Sua presença entre nós, demonstrando com esta obra magnífica “nova capital” que Ele está no meio de nós. “Pelos vossos frutos vos conhecerão”, dizia o Senhor. Quanta coisa foi feita em tão pouco tempo! O que são cinquenta anos para uma civilização destinada a perdurar até o fim dos tempos? Mas quanto foi feito para tornar efetivo o sonho do saudoso presidente Juscelino Kubitschek e quanta gente não viveu e morreu por este sonho! Que Deus os tenha em Sua glória.

Neste momento não poderia deixar de manifestar uma expressão sincera, estou certo de assim exprimir o nosso comum sentimento de solidariedade cristã, ao recordar a figura desse cristão valoroso, homem de fé, católico de convicção que foi o fundador e o presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira. Seu idealismo não se limitou somente a concretizar os preceitos e as motivações constitucionais da Carta Magna do Brasil, ele foi além: “Deste Planalto Central, dizia ele, desta solidão que em breve se transformará em cérebro das altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o amanhã do meu país e antevejo esta alvorada com fé inquebrantável e uma confiança sem limites no grande destino”. Menos de um ano depois, no discurso da primeira Missa Campal, Juscelino Kubitschek de Oliveira, podia afirmar: “E se hoje é o Dia de Santa Cruz, dia em que a capital recém-nascida recebe o seu batismo cristão, dia em que nela se verifica pela primeira vez o mistério da conversão do Pão em Carne e Sangue do Salvador do mundo”.

Dia da cidade do futuro, a cidade que representa o encontro da Pátria brasileira com o seu próprio centro de gravitação, recolhe a sua alma eterna. Dia em que Brasília, ontem apenas uma esperança e hoje entre todas a mais nova das filhas do Brasil, começa a erguer-se integrada no espírito cristão, causa, princípio e fundamento da nossa unidade nacional. Dia em que Brasília se torna autenticamente brasileira, porque desde as suas origens o Brasil existe com a presença de Cristo.

Meus irmãos e minhas irmãs em Cristo, o Senhor hoje nos convida a assimilar sempre mais aquilo que os homens de fé em Deus realizam para o bem de uma nação e de sua pátria, mas pensemos também na Igreja que já desde a aurora da evangelização nessas terras não deixou de marcar a sua presença nas regiões e foi a primeira a fincar, no Cerrado, o madeiro da cruz na Terra de Santa Cruz.

Hoje, a Arquidiocese de Brasília rende homenagens a estes apóstolos modernos que creram que a fé se implantaria pela graça de Deus no Planalto Central da Nação brasileira. Não é possível deixar de recordar as figuras gigantescas de Dom Fernando Gomes dos Santos, Dom Hélder Câmara, meu predecessor na Nunciatura apostólica no Brasil, Dom Armando Lombardi, depois o seu primeiro Arcebispo: Dom José Newton de Almeida Baptista.

Em 1960 uma personalidade forte dedicou as suas melhores energias para cumprir o lema do seu brasão: “Venha nós o vosso Reino”. E como não dirigir também uma palavra à sua eminência reverendíssima: o cardeal Dom José Freire Falcão, aqui presente, cuja sábia condução do destino dessa Igreja particular consolidou a missão de fé de seu predecessor e segue com a sua discreta, mas eficaz, presença entre nós, servindo de elo e união e de continuidade na vida desta arquidiocese.

Estou certo, eminência, que também a figura de Dom Ávila permanecerá igualmente em nossos corações, pois aquele que foi bispo auxiliar de Brasília e posteriormente arcebispo do Ordinariado Militar soube fazer jus à missão de sucessor dos apóstolos, e seguramente Dom Osvino, o nosso novo arcebispo do Ordinariado da família militar, aqui presente, se unirá em preces por este povo que zela pela defesa do Brasil.

Hoje em particular, façamos da nossa presença aqui um feixe de orações elevadas ao Altíssimo, em sinal de gratidão e de reconhecimento, ao excelentíssimo senhor Arcebispo Dom João Braz de Aviz, que vem demonstrando tenazmente como a Igreja quer ser servida com esta preparação esmerada do XVI Congresso Eucarístico Nacional e hospedar em sua arquidiocese a Assembléia Geral Ordinária dos Bispos do Brasil. Muito obrigado, Dom João!

O que dizer daquele que podemos considerar o apóstolo dos apóstolos, a força viva dessa comunidade, leigos e religiosos e religiosas. Quantos não viveram os primórdios desta cidade e quantos não puderam contar coisas que ficaram somente escritas no livro da vida. Quando Deus Nosso Senhor enxugar todas as lágrimas dos olhos que habitam neles. Quantos padres, catequistas, agentes de pastorais e tantos mais que se desdobraram para levar a Palavra de Deus no Plano Piloto e na sua Cidade Satélite.

Brasilienses, esta cidade não vai parar, não vai parar porque Deus Nosso Senhor fará obras ainda maiores, como disse São João! Daqui deste “centro nevrálgico” de decisões pulula um espírito desbravador ao estilo dos antigos bandeirantes, aqui convivem harmonicamente os brasileiros provindos de todas as regiões da Nação, constituindo os brasilienses que já vão para a segunda geração.

E sobre estes novos brasileiros quero dizer agora da bênção de Deus. Vocês devem agradecer aos seus predecessores que construíram a Capital, os trabalhadores que dos quatro cantos da Nação vieram em busca de futuro e do sucesso. Agradeçam também aos que os educaram para uma vida melhor nas escolas e nas universidades. Não se esqueçam também dos que curaram a saúde do corpo e da alma nos hospitais e nos asilos. Aqueles que os protegeram dando segurança aos lares de todo esse imenso território, que já superou os dois milhões de habitantes.

Todos concordam que todo o mundo que fez a cidade deve se fazer cidadão; mais ainda: os cidadãos são a cidade. Para construir uma cidade é mister edificar a consciência do cidadão, por isso, como nos recorda o salmista: “Se o Senhor não construir a nossa casa, em vão trabalham os que a edificam; se o Senhor não guardar a cidade em vão vigiarão os sentinelas”. Como não recordar então quando São Paulo, ao falar à comunidade dos coríntios, aponta: “Vós sois a construção de Deus”.

Meus irmãos e minhas irmãs, o Redentor dos homens nos ensinou que deveríamos construir sobre a rocha e não sobre a areia, não basta ser cidadão, é preciso edificar sobre a rocha dos valores cristãos; só estes darão consciência às mais nobres ambições de um povo que acredita no destino da sua Pátria amada.

Seja-me permitido citar aqui Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota, então Arcebispo de São Paulo, ao ressaltar para nós que: “Brasília está com esta primeira Missa alicerçada no Divino Sacrifício, oferecido neste altar-monumento, sobre a Sagrada pedra, dela sendo ofertante a vítima do próprio Cristo”.

É preciso que, em outras cidades, também se vá evangelizar o Reino de Deus e hoje pessoalmente no Santo Sacrifício da Eucaristia Jesus começou a evangelização de Brasília. É uma mensagem cheia de esperança para esta cidade, que é o coração do Brasil de hoje, não o de amanhã, esta não é mais a cidade do futuro, é onde se constroem as esperança de um povo. E o é, porque a Terra de Vera Cruz verá o sinal d'Aquele que nos redimiu com o sinal que se constrói a verdadeira esperança dos homens e das mulheres que a edificam.

Esta Santa Missa dizia o cardeal Cerejeira que o legado pontifício é como a sagração do Brasil novo pelo próprio Cristo e o Brasil será sempre novo se souber viver com a juventude perene de Deus, que alegra a nossa juventude, se souber ser o esteio e o sinal da civilização cristã como dizia aquele digno purpurado patriarca de Lisboa: “Que faça refulgir o brilho para todo o mundo”. Não é triunfalismo, mas sim, ânsias de maturidade cristã na história do Cristianismo. Que o Evangelho floresça por estas terras e pelo Brasil afora!

O povo brasiliense e toda a Nação dirigem hoje o olhar para esta capital, sede do Governo Federal do Distrito Federal. Eu peço que, movido pela mesma esperança dos primeiros cidadãos que aqui vieram sonhando com uma vida melhor e, sem dúvida, uma vida feliz, mas, sem dúvida, uma grande responsabilidade dos que conduzem o destino da Nação, por todos, especialmente por aqueles que nos honram hoje com sua presença, as altas autoridades do Distrito Federal e do Governo, roguemos ao Altíssimo luz e abundantes bênçãos pelo futuro de paz e prosperidade do Brasil.

O Brasil é também sede da Nunciatura Apostólica no Brasil, e como núncio apostólico, representante do Santo Padre, embaixador de cargo do corpo diplomático, sinto-me honrado e feliz por viver esses momentos solenes, que jamais se borrarão da minha memória. Sou grato também de comemorar aqui o iter de que conduziu o Estado brasileiro a promulgar o acordo com a Santa Sé: Porta aberta destinada a consolidar sempre mais a constante pacífica convivência entre ambas instituições.

Agradeço também, em nome do Santo Padre, a presença de vários representantes do corpo diplomático, acreditado junto ao Governo brasileiro pelas numerosas demonstrações de amizade a vidas a quem tenho a feliz oportunidade de servir de união entre a Santa Sé e os mais diversos representantes oficiais de cada Estado.

A presença da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, com a sua presidência, o maior episcopado do planeta, nos garante a unidade compacta que a Igreja Católica no Brasil quer manter com a Sede de Pedro e com o nosso amadíssimo Papa Bento XVI.

Ao excelentíssimo Dom Geraldo Lirio Rocha, Arcebispo de Mariana, presidente da CNBB, aos excelentíssimos cardeais e excelentíssimos bispos, às vésperas da 48ª Assembléia Geral Ordinária da CNBB, vão minha saudação e minha expressão de comunhão, agradecendo a Deus de nos poder unir ao júbilo dos brasilienses e dos brasileiros que festejam e comemoram este significativo evento eclesial.

Nesta Celebração Eucarística peçamos a Deus, meus irmãos e irmãs em Cristo, que aceite as nossas humildes ofertas, tudo o que somos, nosso trabalho, a vida do lar, os sonhos e projetos para uma vida melhor, invocamos o Espírito Consolador para que a Eucaristia se conforme como reza o lema do Congresso Eucarístico: o Pão da Unidade dos Discípulos e Missionários fortaleça as nossas aspirações de caridade na fé e aumente a confiança depositada na Palavra de Deus, para que se propaguem em toda a nossa região, na esteira daqueles destemidos apóstolos do começo que hoje são para nós o esteio de continuidade. Eles estão a dizer-nos: “Sonhai e ficareis aquém” (São José Maria Escrivá).

Jesus Cristo é o Senhor! É questão de fé, a mesma fé com que Deus nos abençoa, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

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