Ajuda ao Haiti e assistência aos refugiados são, atualmente, prioridades para a Cáritas Brasileira
Luciane Marins
Da Redação
A Cáritas Brasileira desenvolve uma série de projetos que beneficiam milhares de pessoas pelo país. Embora suas ações mais conhecidas sejam relacionadas a situações de emergência, como os desastres sócio ambientais, a entidade atua em programas voltados para catadores de material reciclável, refugiados, infância, adolescência e juventude, economia popular solidária entre outros.
Em meio às celebrações do jubileu dos 60 anos da entidade, a integrante da coordenação colegiada da Cáritas Brasileira, Alessandra Miranda, falou ao noticias.cancaonova.com sobre a diversidade dessas ações.
Ela explica que, embora diferentes, os programas têm em comum a busca e a garantia dos direitos das pessoas mais empobrecidas, destaca o SOS Haiti e o trabalho com os refugiados como prioridade, conta como é administrado o recurso do Fundo Nacional de Solidariedade e faz um convite para todas as pessoas ajudarem a Cáritas, sendo doador ou voluntário.
noticias.cançaonova.com – O trabalho da Cáritas abrange diversos projetos, seja com catadores de material reciclado, refugiados entre outros. O que eles tem em comum?
Alessandra Miranda – A Cáritas tem essa amplitude nos seus projetos. O que temos em comum independente do grupo que a gente atinge é a perspectiva da garantia e da mobilização dos direitos. Independente se ela trabalha com a economia solidária, com os catadores, com as emergências, com a infância, adolescência e juventude, a perspectiva do direito vai ser o eixo condutor e vai nos colocar em ação para garantir naquele momento o projeto ou para contribuir no projeto posterior de continuidade com a comunidade. Esse eixo, que une os projetos na perspectiva dos direitos, se dá muito através da presença junto aos fóruns e conselhos de direto daquele tema específico. Se a gente tem um projeto ligado à economia solidária por exemplo, automaticamente, as pessoas vão participar dos conselhos de direitos da economia solidária.
noticias.cançaonova.com – Diante da diversidade de projetos, como eles são coordenados? Você destacaria algum de maneira específica, há um “carro-chefe”, ou todos têm a mesma visibilidade?
Alessandra Miranda – Eles são coordenados através do secretariado nacional. A Cáritas é uma ação em rede, temos um secretariado nacional em Brasília, os escritórios regionais que estão nos estados, muito parecido com a organização da CNBB, e temos as Cáritas diocesanas e paroquiais. O secretariado nacional dá o suporte para as Cáritas nos regionais e os regionais dão o suporte para as Cáritas diocesanas e paroquiais. Assim a gente desenvolve a coordenação dos projetos nos diversos temas . Um tema muito forte para a Cáritas como um todo, na maioria dos estados, são as emergências, ou as ações de prevenção de riscos que são ligadas as enchentes, aos acidentes como a lama em Mariana por exemplo.
É um processo que a gente coordena a nível nacional, encaminha o material para os regionais e os regionais que já têm os agentes formados naquele tema entram atuando no local. Muitas vezes temos os coordenadores trabalhando na Cáritas, são os funcionários, por vezes, as pessoas que coordenam esses trabalhos são voluntários, na grande maioria das vezes. É um processo formativo. Primeiro os agentes vêm, fazem o processo formativo a nível nacional, regional, e depois coordena o projeto no seu lugar, por exemplo, nas paróquias ou dioceses.
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noticias.cançaonova.com – Quais projetos atualmente têm prioridade para a Cáritas?
Alessandra Miranda- Dois são considerados prioridade porque estão nos exigindo essa prioridade, um deles é sobre a emigração e os refugiados, até então a gente não tinha no Brasil uma demanda tão grande de pessoas pedindo refúgio, ou emigrantes que vinham para o Brasil, a nossa imigração era muito interna, de estado para estado. Temos essa necessidade de ampliar e atender de fato as pessoas refugiadas e os imigrantes porque eles têm a Cáritas como referência, e quando chegam, batem na porta da Cáritas, seja na Cáritas paroquial lá do Norte, seja na Cáritas da Arquidiocese de São Paulo. Isso nos colocou numa exigência de aprofundarmos o tema com toda rede Cáritas e dar respostas concretas as necessidades que as pessoas buscam com a gente.
Outro tema que tem sido prioridade também são as emergências, seja no Brasil, ligadas a questão da chuva, das barragens, seja fora do Brasil, porque temos uma cooperação muito importante com o Haiti. E o Haiti vem sofrendo de uma maneira muito concreta os grandes desastres sócio-ambientais. A gente tem gastado bastante energia na questão dos refugiados e das emergências.
noticias.cançaonova.com – Qual o diferencial do Fundo Nacional de Solidariedade e como ele é mantido?
Alessandra Miranda- O Fundo Nacional de Solidariedade é um gesto concreto de solidariedade que tem início na Campanha da Fraternidade, que é o tempo em que a Igreja no Brasil traz um tempo em pauta, um tema social, importante para a sociedade brasileira. Fazemos um caminho de reflexão durante a quaresma e no Domingo de Ramos todas as ofertas nas Missas das igrejas no Brasil são revertidas para esse fundo, parte fica para um fundo diocesano e parte para esse fundo nacional de solidariedade. Até 2014, a Cáritas fazia a coordenação deste fundo junto com a CNBB, hoje continuamos no conselho gestor deste fundo porém, quem faz a gestão direta é a CNBB.
O fundo nacional de solidariedade tem uma importância para o apoio a pequenos projetos, sejam eles de mobilização para garantir os direitos, a formação e a capacitação de pessoas, sejam projetos voltados para as pequenas produções ligadas à economia solidária, a cooperativas e associações. É um gesto muito concreto da Campanha da Fraternidade para aqueles que as vezes necessitam de muito pouco recurso financeiro para dar o primeiro passo, para organizar o grupo, para dimensionar um trabalho, seja ligado a um quintal produtivo, seja ligado às hortas comunitárias ou à organização da comunidade como um todo. Então, o fundo nacional de solidariedade tem essa importância, vem tendo essa importância ao longo do tempo.
É um fundo que precisa ser mais fortalecido, a gente sabe que as dioceses têm ainda mais capacidade de colaborar, mas a gente entende que junto disso a Campanha da Fraternidade também precisa ser fortalecida, porque é o debate sobre aquele tema que vai fazer com que a gente mobilize as igrejas pra fazer um gesto concreto que é a doação de cada um na missa, e esse dinheiro se transforma em solidariedade concreta aos pobres.
noticias.cançaonova.com – Como as pessoas podem ajudar os trabalhos da Cáritas? Como pode ser feita a ajuda material, e além dela, quais as outras formas de ajudar?
Alessandra Miranda- Tem a rede permanente de solidariedade (RPS), no site (caritas.org.br) tem todas as informações. A pessoa se fideliza como um doador com um recurso mensal para a realização dos projetos da Cáritas. Esse recurso vai chegar e vai ser direcionado para os projetos que têm mais urgência, principalmente os projetos com crianças e adolescente que é um grupo grande.
Tem uma outra forma de colaborar que não é material mas é uma maneira concreta também, sendo um voluntário da Cáritas. As pessoas podem procurar a Cáritas da sua paróquia, diocese ou estado e dizer do desejo de ser voluntário, serão acolhidas e na medida que forem surgindo as demandas, essas pessoas serão convocadas para serem voluntários. Tendo em vista que a Cáritas faz um processo com o voluntário. Os trazemos para dentro da Instituição, poque queremos voluntários que compreendam a missão da Cáritas. Não queremos voluntários que venham e sejam utilitaristas e voltem para suas casas. Então essas são as duas formas concretas de colaborar.
Mas eu gostaria de fazer um apelo de um gesto concreto que as pessoas podem fazer nesse momento que é para o SOS Haiti. Nós abrimos recentemente o SOS Haiti em função do tornado que teve lá. O Haiti já vinha de uma fragilidade muito grande, não se recuperou ainda do desastre que aconteceu em 2010 com o terremoto, e agora, se vê de novo sem água, sem comida, com a cólera e outras doenças por causa da falta de infraestrutura. A doação poder ser em qualquer valor.
noticias.cançaonova.com – Nesse tempo que você trabalha na Cáritas teve alguma situação ou algum trabalho que tenha te sensibilizado de maneira especial?
Alessandra Miranda- O público que a gente tem acompanhado são sujeitos de muita vulnerabilidade, mas tem um grupo que tem marcado bastante também a identidade da Cáritas, são os catadores de materiais recicláveis. A gente tem uma ação em quase todos os estados, um projeto para catadores de materiais recicláveis ligados à economia solidária. Você reconhecer, dar visibilidade para as pessoas que estão invisíveis é um processo muito interessante e dramático ao mesmo tempo. Essas pessoas se organizam pra viver ali naquela região dos grandes lixões. São famílias, as crianças, adolescentes e jovens também estão naquela situação e a gente até começou a perceber que não dava mais para trabalhar só com os adultos mas que a gente teria que trabalhar com os filhos dos catadores de materiais recicláveis. Então é um tema bem forte que nos convoca também a olhar para um conjunto de elementos que estão em torno desses sujeitos.