Dia Mundial da Água

Geógrafo analisa reserva e distribuição de água doce no Brasil

Brasil possui 12% da água do mundo; especialista explica por que há tantos problemas

Denise Claro
Da Redação

Brasil vive crise hídrica, apesar de deter 12% da água doce do planeta. Foto: Agência Brasil

Brasil vive crise hídrica, apesar de deter 12% da água doce do planeta. Foto: Agência Brasil

Na véspera do Dia Mundial da Água, celebrado nesta terça-feira, 22, uma reflexão sobre a água doce do Brasil. De todos os países do mundo, ele é o que possui maior quantidade de água doce. Somente no território brasileiro, estão 12% da água do planeta. Para se ter uma ideia, o continente europeu inteiro possui apenas 7%.

Apesar disso, a água doce do país parece ser mal distribuída e mal utilizada. Faltam sistemas de abastecimento de água, e leis que permitam mais investimentos. A crise hídrica que o sudeste do país viveu no ano passado e o constante drama da água no nordeste confirmam isso.

Para Gerson de Freitas Junior, geógrafo e doutorando em Sustentabilidade Social e Desenvolvimento, o problema começa na casa dos brasileiros. “Infelizmente, no Brasil, há muitas décadas, não se têm cuidado da água de forma estratégica e como um bem comum a todos. Isso ocorre desde o consumidor residencial aos órgãos públicos. A água é tão ou mais importante do que o petróleo e alguns cientistas chegam mesmo a designá-la como ‘ouro azul’.”

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O especialista lembra que, no mundo, há escassez de água em vários lugares e que muitos conflitos sérios, inclusive armados, ocorrem por causa deste recurso. Para ele, no Brasil, apesar de se ter avançado em relação à legislação, à criação de Conselhos e em novas formas de gestão e uso da água, se está muito longe do cuidado ideal.

“Ainda são muitos os problemas, como a falta de saneamento básico e tratamento adequados (ainda há muito esgoto lançado diretamente em corpos hídricos), o desperdício (as atividades agropecuárias são, de longe, as que mais desperdiçam), o esgotamento de reservas e a poluição de aquíferos, entre outros.”

Além disso, apesar do país possuir grandes reservas de água doce, para o geógrafo, ela está mal distribuída, pois há lugares como o nordeste em que há muita gente e pouca água; e outros como a Amazônia, região de maior disponibilidade de água doce, mas que não tem tanta gente consumindo.

“A demanda humana por água também influencia na disponibilidade hídrica. Ainda que uma região apresente chuvas abundantes e riqueza hidrográfica, se a demanda (consumo) por água para atividades humanas for maior do que a capacidade de armazenamento e de reposição dos sistemas naturais, poderá haver escassez. Por outro lado, ainda que a disponibilidade natural seja baixa, mas o uso for racional e eficiente, ou seja, a gestão for adequada, haverá maiores possibilidades lidar bem com a baixa disponibilidade.”

Gerson lembra ainda que as áreas urbanas, densamente povoadas e industrializadas, possuem uma elevada demanda e dependem da água vinda da Amazônia, como o Centro-Oeste e o Sudeste. Sobre a recente crise vivida na região, o especialista afirma que já era esperada.

Gerson de Freitas Junior é geógrafo e doutorando em Sustentabilidade e Meio Ambiente/ Foto: Angelo Rubim.

“Sabia-se há décadas que a crise ocorreria, pois estudos climáticos e meteorológicos indicavam a recorrência de períodos secos como o dos últimos anos, e estudos demográficos e socioeconômicos indicavam o crescimento populacional e o correspondente aumento da demanda por recursos hídricos. A crise que ainda nos aflige é resultado direto de gestão inadequada. Organismos internacionais e diversos cientistas brasileiros convergem para a posição de que houve despreparo de governos em diversas escalas. E ainda não foram tomadas medidas efetivas para evitar problemas mais graves no futuro.”

Consumo e Futuro

São muitas as possibilidades de investimento para impedir que no futuro, situações como a atual se repitam. Investimentos em tecnologias mais adequadas, minimização de perdas, uso racional da água, incentivo ao reuso e à instalação de sistemas de uso eficiente da água (como sistemas de captação e armazenamento de água da chuva) devem ser feitos, além de programas de recuperação florestal. O consumo voraz da água e de bens também deve ser reduzido.

“Consome-se muita água de forma indireta, a chamada ‘água virtual’, que é a água que não vemos, mas é utilizada para produzir o que consumimos. Precisamos apenas de 2 a 3 litros de água por dia para viver, mas consumimos quase 200 litros por dia, na média brasileira, com todas as nossas outras atividades cotidianas. Comprar sem controle não ajuda, pois cada bem material, como uma calça jeans ou mesmo os produtos do supermercado, por exemplo, precisam de muita água para serem produzidos. Quando trocamos bens sem grande necessidade, jogamos alguma coisa fora ou desperdiçamos alimentos, estamos desperdiçando a água que foi utilizada no processo produtivo.”

O especialista reforça, ainda, que o cuidado com a água está na conscientização de todos: “Cidadãos, Comunidades, Bairros, Municípios, Estados e Nação, precisam trabalhar juntos para a legítima e efetiva governança da água. A sociedade como um todo precisa se unir e buscar soluções de forma coletiva, com o objetivo do respeito comum, baseando nossas ações sobre uma ética ambiental e na dependência da vida em relação a este recurso tão valioso.”

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