Arquidiocese de São Paulo

Padre Júlio relata influência de Dom Arns nas questões sociais

Legado de Dom Paulo, sobretudo neste período de crise política e econômica, é voltado para o cuidado com os mais pobres, diz padre Júlio Lancellotti

André Cunha
Da redação, com colaboração de Camila Morais

Padre Júlio Lancelloti, da Arquidiocese de São Paulo, conhecido pelo trabalho com moradores de rua, conta como Dom Paulo Evaristo Arns foi influente nas questões sociais da capital paulista.

De acordo com o padre, foi Dom Paulo quem criou as pastorais sociais – pastoral de rua, a pastoral do menor, da criança, a pastoral operária, da juventude, a pastoral carcerária – na Arquidiocese de São Paulo. “Todas nasciam do coração de Dom Paulo. E ele nos chamava e dizia: levem pra frente, levem o Evangelho a todos; a partir dos mais pobres, dos mais fracos, dos pequenos. Dom Paulo nunca se defendeu; sempre defendeu os outros”.

O padre falou também de sua experiência particular com o cardeal Arns:

“Uma experiência de sempre de nos animar, como na morte do Joilson de Jesus, quando nas rádios se pedia para virem à Catedral jogarem ovos podres no cardeal, dizendo que ele era defensor de bandido, que ele era comunista. Nós todos tentando cuidar da segurança dele, e ele feliz, tranquilo, dizendo: ‘fiquem em paz!'”

Padre Júlio lembrou ainda o episódio quando a catedral de São Paulo foi cercada pela polícia e pelo exército, no período da ditadura militar, durante o culto em homenagem ao jornalista Vladimir Herzog. Ele tinha 38 anos, era casado, pai de dois filhos e diretor de jornalismo da TV Cultura de São Paulo. Foi encontrado morto, supostamente enforcado, nas dependências do 2ª Exército, em São Paulo, em 25 de outubro de 1975.

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Na ocasião, cerca de 8 mil pessoas protestavam dentro da catedral e Dom Paulo pediu para todos saírem em paz, “sem aceitar provocações”. “Ele nunca desanimou, mesmo quando tivemos que viver grandes desafios. Nunca se cansou, mas sempre levou à frente o evangelho de Jesus”, afirmou padre Júlio.

Para o sacerdote paulista, o legado de Dom Paulo, sobretudo neste período de crise política e econômica, é voltado para o cuidado com os mais pobres.

“Nesse momento em que o Brasil está se esfacelando pela corrupção, pela desfaçatez e a falta de vergonha, o silêncio de dom Paulo é eloquente. É um silêncio que diz: voltem-se para os trabalhadores, para os desempregados, para os aposentados. Não tirem do povo seus direitos. Façam com que esse povo possa viver. Dom Paulo sempre foi o defensor dos pobres e dos fracos”, destacou padre Júlio Lancelloti.

Dom Paulo Evaristo Arns morreu na manhã dessa quinta-feira, 14, após um período de internação para tratar complicações na saúde, decorrentes da idade. Seu corpo está sendo velado na Catedral da Sé, em São Paulo. O sepultamento será amanhã, às 15h.

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