14 de setembro

Igreja em SP prepara centenário de nascimento do Cardeal Arns

Dom Odilo Scherer e o coordenador de Pastoral comentam valor da celebração deste centenário para a Igreja local

Julia Beck
Da redação

Cardeal Paulo Evaristo Arns /Foto: Arquivo – Arquidiocese de São Paulo

A arquidiocese de São Paulo celebra na próxima terça-feira, 14 de setembro, o Centenário de Nascimento do Cardeal Paulo Evaristo Arns. A abertura do ano festivo será marcada por uma solene celebração eucarística na Catedral da Sé, às 10h. A missa será presidida pelo arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer.

Estarão presentes na abertura do centenário algumas autoridades públicas e de outras instituições religiosas, sociais e culturais. Cardeal Arns, falecido em 14 de dezembro de 2016, aos 95 anos, foi o 5º arcebispo de São Paulo.

O arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer, destaca que Dom Paulo foi uma personalidade marcante e que, recordá-lo, é também uma oportunidade para que as novas gerações o conheçam melhor.

A iniciativa de celebrar o centenário do Cardeal Arns surgiu no ano de 2020. O coordenador de Pastoral da arquidiocese, padre Tarcísio Mesquita, conta que, entre fevereiro e março deste ano, foi criada uma comissão responsável pela organização desta celebração.

Programação

Além da missa de abertura, outras atividades estão programadas. No dia 14, às 20h, será realizada a live “Paulo, Profeta e Pastor”. Ela será transmitida pelas plataformas digitais da arquidiocese.

Nos meses seguintes e também em 2022, estão previstas mais ações comemorativas, entre as quais um curso on-line sobre a atuação de Dom Paulo. Também está previsto um dia a ele dedicado durante a Semana Teológica da Faculdade de Teologia da PUCSP, em outubro. Outras iniciativas focam o papel do ‘Cardeal da Esperança’ para a promoção do diálogo ecumênico e inter-religioso e uma exposição fotográfica na Basílica Menor de Sant’Ana (Rua Voluntários da Pátria, 2.060, bairro de Santana), a partir de 28 de outubro.

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Dom Paulo também receberá outras homenagens, entre as quais sessões especiais no Senado, na segunda-feira, 13 de setembro, às 10h; e na Câmara Federal, nesta mesma data, às 14h. Também na Câmara Municipal de São Paulo haverá uma sessão solene por ocasião do centenário, no dia 20 de setembro, às 14h.

Quem foi o Cardeal Arns

Cardeal Odilo Scherer participa da Assembleia da CNBB / Foto: Arquivo Canção Nova

Cardeal Arns foi bispo auxiliar de São Paulo de 1966 a 1970 e, arcebispo, de 1970 a 1990. Foi o período imediatamente posterior ao Concílio Vaticano II.

“Ele procurou traduzir as decisões do Concílio em novas práticas pastorais para a renovação da Igreja”, recorda Dom Odilo.

Dom Paulo, ressalta o Cardeal Scherer, teve especial atenção pelas periferias da cidade de São Paulo, que crescia rapidamente e precisava de igrejas, paróquias, comunidades, padres, agentes de pastoral bem preparados.

O 5º arcebispo de São Paulo “procurou dar especial atenção à participação dos leigos na vida da Igreja e da sociedade”, complementa.

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A ação do Cardeal Arns, relembra padre Tarcísio, ficou conhecida como “Operação Periferia”. “Ele destinou esforço intenso de atividade, organização e estruturas para a organização da atuação da Igreja nas periferias”, pontua.

O presbítero afirma que Dom Paulo foi também um grande incentivador da vida pastoral da Igreja. “Usou dos recursos da Igreja a serviço da evangelização”.

O trabalho com os encarcerados também é um dos destaques da vida do Cardeal Arns. “Ele sofreu inúmeras ameaças de morte, mas seguiu sua vida e enfrentou com destemor essas dificuldades”, pontua padre Tarcísio. 

Defensor dos direitos humanos, promotor de esperança

No período em que Dom Paulo integrou a arquidiocese de São Paulo, o Brasil vivia a Ditadura Militar. Dom Odilo recorda que, nesse cenário, o Cardeal Arns tomou posição firme em favor dos direitos humanos e da dignidade humana, conforme o ensino social e moral da Igreja. “Também denunciou torturas e perseguições políticas e se posicionou em favor das liberdades democráticas”, ressalta Dom Odilo.

Padre Tarcísio reforça que Dom Paulo foi um pacifista que ativamente lutou e se esforçou para extinguir os regimes autoritários e promover a implementação da democracia.

“Que a memória de Dom Paulo, seu destemor, sua coragem, sua generosidade e sabedoria possa ser motivo e incentivo para o surgimento de novos defensores dos direitos humanos e da democracia”, desejou o presbítero.

O lema da ordenação de Dom Arns foi “Ex Spe in Spem” – De esperança em Esperança. Dom Odilo frisa que a esperança fundada no Evangelho e nas promessas de Deus marcou o pastoreio de Dom Paulo. “Por isso, encontrou forças e coragem para tomar posições em momentos difíceis, que deram também esperança a outras pessoas que se inspiraram nele”, afirma.

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Personalidade nacional e internacional

O 5º arcebispo de São Paulo tornou-se uma personalidade de projeção nacional e também internacional. Para Cardeal Scherer, foram vários fatores importantes que o fizeram ganhar tal visibilidade.

Antes de tudo, Dom Odilo destaca a personalidade e liderança marcantes de Dom Paulo. “Também o momento político que o Brasil viveu foi ocasião para projetar o discurso e a ação de Dom Paulo. Em momentos de limitação da liberdade de fala e manifestação, Dom Paulo manteve a coragem de falar e isso chamou a atenção”, observa.

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Segundo padre Tarcísio, o Brasil conquistou definitivamente seu ritmo democrático graças a muitas pessoas, entre elas Dom Paulo. “Ele foi um bispo muito querido por pessoas também fora da Igreja Católica como judeus, outros grupos cristãos, personalidades internacionais: Jimmy Carter (ex-presidente dos EUA), Robert Kenned (irmão de John F. Kennedry)…”, sublinha.

Perda

Ao recordar a partida de Dom Paulo, em dezembro de 2016, Dom Odilo sublinha o legado deixado pelo cardeal depois de um longo episcopado em São Paulo. “Foi grande e sua memória continua presente em São Paulo”, lembra.

“Ele marcou a arquidiocese de São Paulo, que o recorda com carinho e gratidão. Ele favoreceu o surgimento de numerosas comunidades nas áreas periféricas da cidade, criou muitas paróquias, visitou as paróquias, crismou milhares de jovens, ordenou numerosos sacerdotes”, conta o purpurado.

Cardeal Arns, aponta Cardeal Scherer, falou e escreveu muito. “Isso permanece como legado para a história. Sua personalidade também está sempre ligada à defesa da dignidade humana, pelo diálogo com todos e em favor das liberdades democráticas”, finaliza.

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Padre Tarcísio lembra que o corpo de Dom Paulo foi sepultado debaixo do altar da Catedral Metropolitana de São Paulo. “Ali ele esteve presidindo a eucaristia com tanto vigor. (…) Ao reviver a história do Cardeal Arns, revivemos também a história de uma Igreja presente, justa, ativa e amorosa para com o ser humano e justiça”, comenta.

Apesar do sentimento de orfandade, provocada pela perda do 5º arcebispo de São Paulo, o presbítero afirma que há também um sentimento de orgulho. “Eu estava junto de Dom Paulo, eu o conheci de perto, peguei em sua mão, ouvi suas palavras, conversei com ele, vi seu exemplo e levo isso para a minha vida”.

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