AUDIÊNCIA

Papa: Dante, o profeta da esperança, ressoa o fascínio de Deus

Francisco recebeu uma delegação de 50 pessoas da Arquidiocese de Ravenna-Cervia por conta do Ano dedicado a Dante Alighieri

Da redação, com Vatican News

Arquidiocese de Ravenna-Cervia, localizada ao norte da Itália / Foto: Reprodução Youtube

O Santo Padre recebeu em audiência, na manhã deste sábado, 10, na Sala Clementina, uma delegação de 50 pessoas da Arquidiocese de Ravenna-Cervia, norte da Itália, por ocasião do Ano dedicado a Dante Alighieri. O Papa agradeceu aos presentes por compartilharem com ele a alegria de inaugurar as celebrações do 7º centenário da morte de Dante Alighieri.

Para ele, disse Francisco, Ravenna é a cidade do seu “último refúgio” — o primeiro foi Verona. Com efeito, em Ravenna, o poeta passou os seus últimos anos e concluiu a sua obra: segundo a tradição, ali ele compôs os cantos finais do Paraíso. Portanto, em Ravenna, Dante terminou a sua vida terrena e concluiu aquele exílio, que tanto marcou a sua existência e inspirou seus escritos.

O poeta Mário Luzi, recordou o Papa, destacou o valor do seu transtorno e da descoberta superior que a experiência do exílio reservou a Dante. Isto leva-nos a pensar na passagem bíblica: o exílio do povo de Israel na Babilônia, que constitui, por assim dizer, uma das “matrizes” da revelação bíblica. Da mesma forma, para Dante, o exílio foi tão significativo, que se tornou uma chave importante para interpretar, não apenas a sua vida, mas a “viagem”, de cada homem e mulher, na história e também além da história.

A morte de Dante em Ravenna ocorreu — como escreve Boccaccio — “no dia em que a Igreja celebrava a Exaltação da Santa Cruz”. Por isso, pensamento do Papa dirigiu-se àquela cruz de ouro, que o Poeta viu, certamente, na pequena cúpula azul-marinho, constelada por centenas de estrelas, no Mausoléu de Gala Placidia ou àquela imagem de Cristo, brilhante e lampejante, — para usar a imagem do Canto do Paraíso — na ábside da Basílica de Santo Apolinário “in Classe”.

Em 1965, por ocasião do sétimo centenário do nascimento de Dante, recordou Francisco, São Paulo VI doou a Ravenna uma cruz de ouro para ser colocada sobre seu túmulo, que permaneceu, até então, como ele dizia, “privada de um sinal de religião e esperança”. E o Papa ponderou:

“A mesma cruz, por ocasião deste sétimo centenário, volta a brilhar no lugar que conserva os restos mortais do Poeta. Que este possa ser um convite à esperança, àquela esperança da qual Dante foi profeta. A esperança é, pois, que as celebrações, deste centenário da morte do grande poeta, possam estimular-nos a reler a sua Comédia”.
Cientes da nossa condição de exilados, exortou, deixemo-nos arrastar por este caminho de conversão. De fato, Dante convida-nos, mais uma vez, a redescobrir o sentido, perdido ou obscurecido, da nossa existência humana.

Poderia parecer, explicou o Papa que, às vezes, estes sete séculos causaram certa distância intransponível entre nós, homens e mulheres da era pós-moderna e secularizada, uma distância também do poeta, que foi um expoente extraordinário em uma época áurea da civilização europeia.

No entanto, observou, algo nos diz que não é bem assim. Os adolescentes, por exemplo — até os de hoje —, se tiverem a oportunidade de se aproximar da poesia de Dante, de maneira acessível, poderão encontrar, inevitavelmente, toda a distância do autor e do seu mundo, mas, também, uma ressonância surpreendente.

Isto, porém, poderá acontecer somente se a alegoria deixar espaço ao símbolo, o humano parecer mais evidente e nu, a paixão civil vibrar de modo mais intenso, e, enfim, quando o fascínio da verdade, da beleza e do bem, e, sobretudo, de Deus, demonstrar sua poderosa atração.

O Santo Padre concluiu seu discurso aos presentes na Sala Clementina, tomando como exemplo este evento dantesco, que ultrapassa os séculos. E, citando as palavras São Paulo VI, exortou: “Poderemos contar com a riqueza da experiência de Dante, para atravessar os tantos bosques obscuros da nossa terra e realizar, felizmente, a nossa peregrinação na história, a fim de chegarmos à meta sonhada e desejada por cada homem: ‘o amor, que move o sol e as outras estrelas”.

Ao término do seu pronunciamento, o Papa Francisco prometeu, à delegação de Ravenna-Cervia, que, na conclusão das celebrações deste centenário, oferecerá uma reflexão mais ampla sobre este importante evento.

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