"Família e trabalho são lugares privilegiados para a realização da vocação do homem, que colabora na obra criadora de Deus no presente", assinalou o Papa Bento XVI durante audiência com os participantes do Encontro Internacional promovido pela Fundação Centesimus Annus – Pro Pontifice sobre o tema "Família, Negócios: superar a crise com novas formas de solidariedade. A vinte anos da Centesimus annus" (Roma, 13-15 de outubro). O encontro com o Pontífice aconteceu na Sala Clementina do Palácio Apostólico Vaticano, na manhã deste sábado, 15.
O Encontro marcou o 20º aniversário da Encíclica Centesimus Annus, do Beato João Paulo II, publicada 100 anos após a Encíclica Rerum Novarum, bem como o 30º da Exortação Apostólica Familiaris Consortio.
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.: NA ÍNTEGRA: Discurso de Bento XVI
Nos 120 anos de desenvolvimento da Doutrina Social da Igreja, aconteceram no mundo grandes mudanças, que não eram sequer imagináveis no momento da histórica encíclica do Papa Leão XIII.
"No entanto, ao mudarem as condições externas, não se alterou o patrimônio interno do Magistério social, que sempre promove a pessoa humana e a família, no seu contexto de vida, também de negócios. O Concílio Vaticano II falou da família em termos de Igreja doméstica, de "santuário intocável", onde a pessoa amadurece nos afetos, na solidariedade, na espiritualidade. Também a economia, com as suas leis, deve sempre considerar o interesse e a proteção de tal célula primária da sociedade", sublinhou o Papa.
Bento XVI recordou que o amor está na base do serviço à vida, fundado na cooperação que a família dá à continuidade da criação, à procriação do homem feito à imagem e semelhança de Deus. "E é principalmente na família que se aprende como a atitude certa a se viver em sociedade, também no mundo do trabalho, economia, negócios, deve ser guiada pela caritas, na lógica da gratuidade, da solidariedade e da responsabilidade de uns pelos outros".
A crise do trabalho e da economia eclode uma crise familiar: conflitos de cônjuges, de gerações, aqueles entre o tempo para a família e para o trabalho, a crise de emprego, criam uma situação complexa de mal-estar que afeta o próprio viver social.
"É preciso, por isso, uma nova síntese harmoniosa entre família e trabalho. […] O modelo familiar da lógica do amor, da gratuidade e do dom deve ser alargado a uma dimensão universal. […] Para haver verdadeira justiça, é necessário adicionar gratuidade e solidariedade. […] Não é missão da Igreja definir os caminhos para enfrentar a crise. No entanto, os cristãos têm o dever de denunciar os males, testemunhar e manter vivos os valores que sustentam a dignidade humana, e promover as formas de solidariedade que favorecem o bem comum, a fim de que a humanidade se torne sempre mais família de Deus", concluiu.