Quem conviveu com Padre Léo fala de sua missão de evangelizar, utilizando todos os recursos possíveis para que a Palavra de Deus fosse anunciada
Kelen Galvan
Da redação, com colaboração de Elaine Santos
“O maior legado que o Padre Léo deixou foi de um grande evangelizador”. A afirmação é do fundador da Comunidade Canção Nova, monsenhor Jonas Abib, que conviveu com o sacerdote por vários anos, até o fim de sua vida.
Padre Jonas lembra que o Padre Léo “amava a Bíblia” e conta que, todos os anos, ele pedia ao monsenhor uma Bíblia nova e a lia inteira “de capa a capa” no decorrer daquele ano.
“Nas viagens, ele estava com a Bíblia na mão e lendo a Bíblia. Em casa, ele estava preparando as suas palestras com a Bíblia na mão. Então, o grande legado que ele deixou foi de um grande evangelizador. E o mais importante foi que as suas pregações e as suas homilias eram maravilhosas. As brincadeiras dele serviam para segurar as pessoas e depois colocar o essencial. O Padre Léo não era um brincalhão, ele era um grande evangelizador”, afirma padre Jonas.
Humor do Padre Léo
O cofundador da Comunidade Bethânia, Diácono Ideraldo Paloschi, considera Padre Léo uma pessoa privilegiada por Deus. “Deus quis assim, pra ele ser diferença no mundo. Vejo que, em muitas pregações, as pessoas demonizam muito as coisas do mundo, e o padre Léo usou essas coisas para transformar em pregação e humor”.
Ideraldo lembra que as piadas do Padre Léo não eram inspiração divina, mas de livros de piadas, porque ele lia muito e lia tudo o que podia. “No Evangelho, Jesus fala muito claro: ‘não é o que entra no homem que o torna impuro, é o que sai’ (Mc 7,15). E tudo aquilo que o padre Léo lia, as piadas, os livros, ele transformava em bênção e graças. As piadas eram piadas de livros, que ele tirava o que não prestava – como dizia Jesus: ‘vai pra fossa’ (Mc 7,19), e aproveitava o humor para ajudar as pessoas”.
Esse humor característico do Padre Léo sempre fez parte de sua personalidade, mas ele foi “lapidando” isso ao longo de sua história, recorda Ideraldo. “O [bom] humor fez ele levar muitas pessoas para Deus. Só que eu acho um erro grave o identificarmos como um homem que contava piadas. Nós não podemos trazer ele como referência de um bom piadista. Ele era um homem de Deus, que usava disso para levar as pessoas para Deus”, destaca.
“Acho um erro grave o identificarmos como um homem que contava piadas. Ele era um homem de Deus, que usava disso para levar as pessoas para Deus”
Ideraldo Paloschi
O diácono lembra que muitas esposas contavam que seus maridos não gostavam de ir à Missa, mas ouviam as pregações do Padre Léo. “Porque era uma linguagem que chegava ao coração daqueles que estavam longe. Como chegar ao coração de quem está longe se eu chego impondo normas e regras? Primeiro eu tenho que apresentar o amor a Jesus e esse amor que vai transformando a pessoa à conversão. Padre Léo fazia isso”.
O moderador-geral da Comunidade Bethânia, padre Vicente de Paula Neto, recorda alguns episódios bem-humorados do trabalho evangelizador de Padre Léo. Assista abaixo a entrevista à repórter Elaine Santos:
Pregava experiência de vida
Ideraldo conta que padre Léo era muito intenso em tudo o que fazia e suas pregações eram experiências de vida. Um homem autêntico, de poucas amizades, que se colocava por inteiro em cada situação e muito desapegado, assim Ideraldo descreve Padre Léo. “Ele não acumulava coisas. Tinha umas dez camisas, dois pares de sapato e três calças. Quando ganhava um presente ou já doava o que ganhou, ou ficava e doava outra coisa. Essa era a vida dele”, lembra.
O diácono disse que o Padre Léo começou a morar na casa mãe da Comunidade Bethânia – em São João Batista (SC) – em 2001, e sua vivência ensinou muito como um consagrado deve ser, no cuidado com as coisas, no trabalho e no zelo. “Ele era um homem que deu sua vida pela comunidade e pela Igreja”.
Retiro com os casais
Ideraldo lembra que o padre Léo sempre teve um cuidado especial para com as famílias e começou a realizar retiros para casais muito cedo, ainda quando ele morava em Brusque. Na época, os encontros aconteciam na Casa Padre Dehon.
“Um cuidado fundamental, porque a questão da dependência química está muito ligada à família. Muitas dores ligadas à família. Bethânia sempre teve muita ligação com a família. Os retiros para os casais, que são incomparáveis, que ele conseguia levar de uma maneira muito simples, coisas sérias na vida íntima do casal que ele conseguia passar sem tabu, sem medo. E quantas graças os casais receberam”.
Celiane Inês Silva Ramos e Ademar Aparecido Ramos, conhecido como Mazinho, tiveram a oportunidade de participar de um retiro de casais com o Padre Léo, em 2004, na cidade de Lavrinhas (SP). Ela conta que o encontro foi um marco em seu relacionamento.
Aos 11 anos de idade, ela sofreu uma molestação sexual de um tio-avô, e isso criou muitas barreiras com relação ao relacionamento sexual. “Eu tinha muito medo, senti muitas vezes que isso não devia partir do coração de Deus, por causa dos traumas e daquilo que eu vivi”.
Celiane diz que, desde seu namoro com Mazinho, buscava cura interior. E, ao entrar para a Comunidade Canção Nova foi acompanhada por algumas pessoas nessa questão. Ela conta que foi dando passos nesse caminho de cura, mas ao fazer o retiro com o Padre Léo pôde experimentar algo diferente de tudo o que já tinha vivido.
“A liberdade com que ele falava do Cântico dos cânticos, a beleza com que ele trazia e iluminava a nossa mente com relação ao sacramento do matrimônio, à vida conjugal e à vida sexual, derrubou muitas barreiras dentro de mim. O extremo pudor que eu tinha – claro, o pudor é importante, mas eu tinha um exagero por causa do que eu havia vivido. Então, eu e o Mazinho sempre brincamos que existe na nossa vida o antes e o pós Padre Léo”, explica.
“Existe na nossa vida o antes e o pós Padre Léo. O que ele pregou foi o fechamento, o coroamento da minha cura”
Celiane Ramos
Celiane lembra que, no retiro, Padre Léo falava com muita clareza e bom humor sobre o relacionamento sexual, mas também com muita prudência e respeito; falou da beleza da vivência conjugal. E ela considera esse o maior fruto para sua vida pessoal, pois após esse encontro, começou a viver seu casamento de forma mais livre e tranquila.
“Foi uma bênção, uma graça de Deus para mim, de modo especial. De fato, o que ele pregou foi o fechamento, o coroamento da minha cura. A partir daí, pude vivenciar o relacionamento conjugal e sexual com a beleza que Deus havia pensado e criado”.
Durante os dias de retiro, eles tiveram a oportunidade de sentarem-se à mesa com Padre Léo e ali ele falou sobre a importância dos casais começarem a escrever e falar da beleza do sacramento do matrimônio para outros casais. Na época havia pouca literatura sobre isso, com testemunhos de vida conjugal.
“Mazinho e eu nunca escrevemos, mas a partir deste retiro a gente começou a trabalhar em todos os retiros, que fazemos para casais, aquilo que aprendemos com Padre Léo”, destaca.