Entre os temas dos dramas familiares e coletivos, Papa Francisco abordou também sobre o abandono, a indiferença, as doenças e o risco de ser “cristãos mornos”
Da redação, com Rádio Vaticano
Nesta Sexta-feira, 3, milhares de fiéis acompanharam a Via-sacra, presidida pelo Papa Francisco no Coliseu romano. Este ano, as meditações foram confiadas ao Bispo emérito de Novara, Dom Renato Corti.
Os temas foram os dramas familiares do mundo atual, a presença feminina na Igreja e a “tristeza no abisso” de tantas almas feridas pela solidão. O abandono, a indiferença, as doenças, a morte de um ente querido; o risco de ser “cristãos mornos”, dramas coletivos como o tráfico de seres humanos, a condição das crianças-soldado, o trabalho em regime de escravidão, os jovens roubados de si mesmos, feridos em sua intimidade e barbaramente profanados com abusos sexuais; a pena de morte ainda praticada em muitos países, e toda forma de tortura e opressão violenta de inocentes.
Dom Corti enriqueceu as meditações utilizando textos do Papa Paulo VI, do Cardeal Carlo Maria Martini e do Ministro paquistanês Shahbaz Bhatti, assassinado em 2011.
Dois brasileiros estavam entre as pessoas que carregaram a cruz de Jesus durante a Via-Sacra: os irmãos Rafaela e Vitor, adotados no Brasil por um casal de italianos, participaram da cerimônia ao lado dos pais na terceira estação.
Além deles, também levaram a cruz duas religiosas iraquianas e pessoas provenientes da Síria, Nigéria, Egito, China, entre outras.
Ao final da 14ª estação, o Papa leu a seguinte oração:
“Ó Cristo crucificado e vitorioso, a tua via-sacra é a síntese de tua vida, é o ícone de tua obediência à vontade do Pai, a realização do teu infinito amor por nós pecadores, a prova de tua missão e o cumprimento definitivo da revelação e da história da salvação. O peso da tua cruz nos liberta de todos os nossos fardos. Na tua obediência à vontade do Pai, nós nos damos conta da nossa rebelião e desobediência. Em ti vendido, traído e crucificado pela tua gente, nós vemos nossas cotidianas traições e infidelidades. Na tua inocência, vemos a nossa culpa; no teu rosto esbofeteado, cuspido e desfigurado, vemos a brutalidade dos nossos pecados. Na crueldade da tua paixão, vemos a crueldade do nosso coração e das nossas ações. No teu sentir-te abandonado, vemos todos os abandonados pelos familiares, pela sociedade, pela atenção e pela solidariedade. No teu corpo sacrificado e dilacerado vemos os corpos dos nossos irmãos abandonados nas ruas, desfigurados pela nossa negligência e indiferença. Na tua sede, Senhor, vemos a sede do teu Pai misericordioso que em ti quis abraçar, perdoar e salvar toda a humanidade. Em ti, divino Amor, vemos ainda hoje os nossos irmãos perseguidos, decapitados e crucificados pela sua fé em ti, sob nossos olhos ou com frequência com nosso silêncio cúmplice. Imprime em nosso coração sentimentos de fé, esperança, caridade, de dor pelos nossos pecados e leva-nos a nos arrepender pelos nossos pecados que te crucificaram. Leva-nos a transformar a nossa conversão feita de palavras em conversão de vida e de obras. Leva-nos a manter em nós uma recordação viva do teu rosto desfigurado para não esquecermos nunca o grande preço que tu pagaste para nos libertar. Jesus Crucificado, reaviva em nós a fé , que ela não ceda diante das tentações. Reaviva em nós a esperança, para que não se perca seguindo as seduções do mundo; guarda em nós a caridade, que não se deixe enganar pela corrupção e a mundanidade. Ensina-nos que a Cruz é o caminho para Ressurreição. Ensina-nos que a Sexta-feira Santa é a estrada para a Páscoa de luz. Ensina-nos que Deus jamais esquece nenhum de seus filhos e jamais se cansa de nos perdoar e de abraçar com a sua infinita misericórdia. E ensina-nos a não nos cansar de pedir perdão e de acreditar na misericórdia sem limites do Pai.”