Documento é um pedido do Papa e auxiliará especialistas, catequistas e formadores em temáticas que estão no centro do debate social e civil
Da redação, com Vatican News
“Que é o homem?”. Extraída do Salmo 8, a pergunta foi escolhida pela Pontifícia Comissão Bíblica como título de um estudo jamais tentado antes, de uma leitura antropológica sistemática da Bíblia que perpassa toda a Sagrada Escritura, os capítulos do Gênesis e do Apocalipse.
O secretário da Pontifícia Comissão Bíblica, o padre jesuíta Pietro Bovati, explica que o pedido de um estudo sistemático sobre a visão antropológica da Sagrada Escritura foi feito pelo próprio Papa Francisco. O resultado são os quatro capítulos reunidos em mais de 330 páginas – no volume publicado pela Livraria editora vaticana (Lev ) – de um minucioso estudo acerca da criatura humana e da sua relação com o Criador, como são narradas na Sagrada Escritura.
Na introdução é possível compreender o ponto de partida do estudo: “Em sua história milenária a humanidade progrediu no conhecimento científico, pouco a pouco elevou sua consciência acerca dos ‘direitos do homem’, testemunhando um respeito crescente pelas minorais, os indefesos, os pobres e marginalizados, mas, apesar desses progressos, em boa parte do contexto contemporâneo se perdeu o sentido da vida humana como dom de Deus. Já o apóstolo São Paulo atribuía à falta de respeito por Deus a consequência de uma sociedade permeada pela desordem, violência, rebelião e crueldade”.
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O documento prossegue constatando que fenômenos dessa natureza, dolorosos e dramáticos, caracterizam também o mundo, onde é colocado em questão o valor antropológico da diferença sexual, em que se percebe a fragilidade das relações conjugais e o difundir-se de violências domésticas. “Em geral, se deve constatar o manifestar-se de egoísmos e prepotências que geram guerras cruéis, além de produzir uma instabilidade do planeta, como formas desastrosas de pobreza e segregação”, apontou o estudo.
Portanto, a finalidade do estudo é fornecer a especialistas, catequistas, formadores, um instrumento considerável, para auxiliar o desenvolvimento das disciplinas filosóficas e teológicas, bem como ser um texto de referência do qual é possível extrair princípios de reflexão sobre temáticas que estão no centro do debate social e civil – divórcio, adultério, homossexualidade ou, por outro lado, o celibato sacerdotal. As leituras que se obtêm não se furtam a enfrentar as questões em sua delicadeza, mas ao invés de buscar respostas precisas a quesitos que não estão contemplados na Bíblia, remetem aos princípios do magistério bíblico.
Sobre o divórcio, o documento reitera com clareza que o ensinamento de Jesus introduz elementos de novidade radical, porque o Mestre assevera peremptoriamente a indissolubilidade do matrimônio, proibindo o divórcio e as novas núpcias. E, todavia, se recorda que o cônjuge que – constatando que a relação esponsal não é mais expressão de amor – decide separar-se de quem ameaça a paz ou a vida dos familiares, não faz um ato contrário ao matrimônio; aliás, o ensinamento de Jesus atesta paradoxalmente a beleza e a santidade do vínculo propriamente ao declarar que este não realiza seu sentido em condições de injustiça e de infâmia.
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Em síntese, o primeiro capítulo apresenta o homem como criatura de Deus, um ser frágil feito de “pó” vivificado pelo “sopro” divino. O segundo capítulo mostra a condição do homem “no jardim” aprofundando os aspectos do alimento, do trabalho e da relação com os outros seres vivos. “Uma série de importantes relações contribui para delinear a responsabilidade do ser humano na adesão ao projeto divino”, diz o documento. O terceiro capítulo, como acenado, trata do homem enquanto relação, portanto, em suas relações de tipo esponsal, filial, fraterna e amigável.
“Algumas dessas questões – explica o estudo – foram objeto de atenção do Magistério, como na recente Exortação pós-sinodal Amoris Laetitia”. O último capítulo tem por tema a história do homem que “transgride o mandamento divino escolhendo um caminho de morte”, onde a vicissitude “é, porém, articulada com a intervenção divina, que torna a história evento de salvação”.
“O intento do presente o Documento é, portanto, fazer perceber a beleza e também a complexidade da divina Revelação em relação ao homem. A beleza induz a apreciar a obra de Deus, e a complexidade convida a assumir um humilde e incessante esforço de pesquisa, de aprofundamento e de transmissão”, afirma o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Luis Francisco Ladaria Ferrer.