Do nascimento no Biguá, colônia agrícola, à conversão ao sacerdócio e santificação no período de doença: veja três fases marcantes da vida de Padre Léo
.: 1ª reportagem da série “Servo de Deus – Padre Léo”
O diagnóstico era de câncer no sistema linfático, conjunto de órgãos e tecidos que produzem células responsáveis pela imunidade. “Porque veio essa doença, eu não sei, mas para que eu sei: é para fortalecer a minha fé, para que eu seja um sacerdote mais santo que eu não estava sendo”, disse padre Léo em sua última pregação. “Quando ele falou pra mim que ele relevava tudo, eu sinceramente pensei ‘ele não imagina o que ele vai passar'”, revela dr. Roque.
“Se tem um momento que eu posso dizer que ali o Léo já estava santo, é no período da doença. Ele nunca reclamou da dor”, afirma a irmã de Padre Léo, Célia Pereira. “O pessoal médico já está acostumado a ver essas coisas todos os dias. O que não estão acostumados a ver é uma pessoa tão resiliente a uma doença, isso sim”, destaca dr. Roque.
O moderador-geral da Comunidade Bethânia, padre Vicente de Paula Neto, conta que, conforme avançavam a doença e o tempo de internação, o próprio padre Léo foi dizendo que a comunidade precisava se preparar, que padre Vicente seria o responsável dali em diante. Em visita à sua comunidade, no Recanto de São João Batista (SC), mesmo proibido pelos médicos, quebrou regras e abraçou todo mundo. “Com isso, Deus fez com que, como comunidade, nós tirássemos os olhos do Padre Léo e colocássemos os olhos no carisma e na missão”, afirma padre Vicente.
Em dezembro, Padre Léo queria pregar no Hosana Brasil, mas já mal conseguia caminhar sozinho. Segundo dr. Roque, o prognóstico era muito ruim na época, mas quando chegava a médica, o sacerdote sentava na cama e dizia que não sentia nada. “Poucos sabem que depois da pregação ele ficou muito mal. Eu pensei que ele fosse morrer naquele dia já”.
“Eu vi uma pessoa se santificar com a doença”
Dr. Roque Savioli
Na pregação, padre Léo destacou: “Talvez o encardido tenha lhe tirado as pernas, mas Deus lhe deu o dom de escrever. Escreva!”. Nem mesmo a dor tirou dele essa determinação. Ziza Pereira, irmã do Padre Léo, conta que ela dizia para o irmão descansar, mas ele dizia que tinha pressa de evangelizar. “Já sentia na maneira dele conversar que ele já sabia que estava no fim”, acrescenta o irmão, Ernani Pereira. A partir dali, padre Léo foi piorando e foi para a UTI. “Eu vi uma pessoa se santificar com a doença”, enfatiza dr. Roque.
Padre Léo escreveu seis livros no hospital. Quando Célia falava dos livros para ele, começavam a melhorar os sinais vitais. Mas padre Léo não resistiu. O céu do sul de Minas Gerais viu retornar o filho desta terra. No incio de 2007, Tarcísio, conhecido como Padre Leo, deixou o palco da vida depois de 300 dias de luta contra o câncer. Uma multidão tomou a rua em frente à igreja matriz.
“Se tem um momento que eu posso dizer que ali o Léo já estava santo, é no período da doença”
Célia Pereira
Itajubá e Biguá
Itajubá, a cidade grande que o menino da roça descobriu que o mundo era bem maior. Foi aí que ele iniciou o consumo de drogas. “Nessa época a gente percebeu pelo cheiro, mas comportamento como pessoa nunca mudou. Tanto que o meu pai nunca acreditou”, relata Célia.
No caminho do sacerdócio, as drogas ficaram pra trás. Nascia o sacerdote do Sagrado Coração de Jesus. Era a certeza da criança que brincava de ser padre. “Igual o padre fazia na igreja ele fazia, ele fazia todas as orações, imitava a hóstia”, conta Ziza.
O céu era próximo do pequeno Tarcísio, que acreditava que era logo ali, no fim das montanhas onde nasceu. O Biguá faz parte do imaginário de muita gente devido às histórias contadas dali. As pessoas querem pisar nesse chão, conhecer a terra do Padre Léo. Visitar esse lugar é ter certeza que todo grande homem nasce pequeno. Os irmãos Ziza e Ernani recordam que colher mandioca era a atividade dele, e à noite era a hora de sentar na taipa do fogão e ler para a mãe.
O ritmo no campo ainda segue o Senhor do tempo. A luz chegou, agora tem mais casas e quem sabe até um futuro santo. “Uai, pode ser sim, eu acredito que é. Eu ouvi essa conversa e disse ‘tomara que seja mesmo’. Eu gostei, ele mereceu porque ele era bom mesmo. Tem um santo no Biguá”, afirma o lavrador Antônio Fernando Santana sobre a possibilidade de padre Léo vir a ser santo.
A caminhada da vida é feita de pequenos passos. Em alguns deles, é possível renascer, diante das escolhas que Deus permite.