Secretário da Congregação para o Culto Divino explica o novo decreto divulgado na quarta-feira, 25, com as disposições para as celebrações que vão desde o Domingo de Ramos até o Domingo de Páscoa
Vatican News
O arcebispo Arthur Roche, secretário da Congregação para o Culto Divino, explica o novo decreto do Dicastério para as celebrações da Páscoa em tempos de pandemia. Ele afirma que, neste momento de provação, “devemos tentar parar o contágio, sem interromper a nossa oração, ao contrário, multiplicando-a”. Confira a entrevista concedida ao Vatican News, em que descreve as normas do decreto que levam em consideração, inclusive, as observações recebidas pelas Conferências Episcopais.
Quais são as razões para atualizar o decreto da Congregação do Culto Divino sobre as indicações para a celebração do Tríduo Pascal, uma semana depois da divulgação do primeiro texto?
Dom Roche – “Para todos é evidente que vivemos em tempos de emergência, com situações em rápida evolução. Crises dessa dimensão, às vezes, requerem novas considerações e atualizações. O primeiro texto era de vários dias atrás. As atualizações foram indispensáveis, inclusive significativas, e sobretudo nos confrontamos com os episcopados dos países mais afetados pela pandemia. Procuramos considerar as observações que recebemos.”
Antes de mais nada, a data da Páscoa não foi adiada, como alguns imaginavam, em consideração à situação nos países atingidos pelo Covid-19. Por quê?
Dom Roche – “A data da Páscoa não pode ser diferida. Vamos celebrá-la depois da preparação deste período especial de Quaresma, tão marcado pela dor, pelo medo, pela incerteza. Recebemos, algumas semanas atrás, as cinzas colocadas sobre a cabeça, e nos foi recordado que somos pó e ao pó voltaremos. Mas somos um pó amado por Deus, resgatado por Deus. Jesus sofreu na Cruz, mas venceu a morte, e nós acreditamos na ressurreição dos corpos, na vida eterna. A Páscoa é a festa dessa vitória sobre a morte. Nos países mais atingidos pela doença, onde são previstas restrições estabelecidas pelas autoridades civis para evitar aglomerações e movimentos das pessoas, os bispos e os sacerdotes irão celebrar os ritos da Semana Santa sem o povo e num lugar adequado, evitando a concelebração e omitindo a saudação da paz.”
É impressionante esta Páscoa celebrada sem a presença dos fiéis, sem o povo de Deus…
Dom Roche – “É muito doloroso. Mas, neste período de isolamento, a gente viu, porém, como se multiplicou a criatividade dos sacerdotes, que, diariamente, encontram um modo para ficar próximos às pessoas, com todos os meios à disposição hoje. Muitas pessoas seguem, diariamente, a Missa do Santo Padre direto da Santa Marta e seguem outras celebrações pelas redes sociais. Muitos fiéis rezam o terço, conectados ao rádio, à TV e à internet. Vivemos um momento excepcional. Não esqueçamos que Jesus fala da oração pessoal, convidando-nos a fazê-la nos nossos quartos e, assim, nas nossas casas. Sabemos que, por natureza, a fé cristã é relação e é comunidade: a oração comum e a participação comum à mesa eucarística são fundamentais. Mas, neste momento de provação, devemos tentar parar o contágio, sem interromper a nossa oração, ao contrário, multiplicando-a. É importante que os fiéis sejam avisados a hora do início das celebrações, de modo que possam se unir em oração nas próprias casas e que possam segui-las ao vivo, participando desse modo.”
Pode explicar, em síntese, o conteúdo do decreto atualizado?
Dom Roche – “O Domingo de Ramos será celebrado dentro das igrejas, sem a procissão externa. A Missa Crismal, que prevê a participação de todos os sacerdotes do presbitério, poderá ser transferida para uma outra data. Foi deixada essa possibilidade aos episcopados, chamados a avaliar as diferentes situações nos próprios países. Na Missa na Ceia do Senhor, na Quinta-feira Santa, não haverá o lava-pés que, na realidade, já é facultativa, mesmo que se trate de um rito muito significativo. Não haverá a procissão com o Santíssimo ao final da Missa. A Liturgia da Paixão do Senhor, na Sexta-feira Santa, terá intenções especiais para os doentes, os defuntos, para quem sofre e se encontra em dificuldade. E o tradicional beijo à Cruz será dado somente pelo celebrante. A Vigília Pascal só será celebrada nas catedrais e nas igrejas paroquiais. Também indicamos que as expressões de piedade popular e as procissões que enriquecem os dias da Semana Santa e do Tríduo Pascal, segundo entendimento do bispo diocesano, possam ser transferidas para outros dias convenientes, por exemplo, para os dias 14 e 15 de setembro.”