Reunidos para a celebração da santíssima Eucaristia, nós o acolhemos e saudamos, Santo Padre, com grande alegria e afeto. Estamos em festa, Santidade, por sua visita, pela realização, em terras brasileiras, da V Conferência Geral do Episcopado Latino- Americano e do Caribe e pela canonização de Frei Antônio de Santana Galvão. Quis a Divina Providência que o primeiro santo brasileiro canonizado fosse oriundo da abençoada Guaratinguetá, pertencente à Arquidiocese de Aparecida.
Santidade, a solenidade de inauguração da V Conferência coincide com a festa de Nossa Senhora de Fátima, muito querida e venerada em todo o Brasil.
No dia dedicado à Mãe de Deus, que se manifestou em Fátima, comemoramos também, neste ano, o Dia das Mães. Que a V Conferência, sob a inspiração de Maria, seja uma luz a orientar a missão da mulher latino-americana e caribenha na implantação da civilização do amor em nossos países. Seja um corajoso grito a favor da vida, tão ameaçada nos dias atuais. Relembramos hoje, no Brasil, a Abolição da Escravatura, início simbólico do processo de construção de uma sociedade em que a dignidade da pessoa humana se deve fazer respeitada e garantida por lei.
Santo Padre, a cor negra da imagem da Senhora Aparecida, retirada das águas do rio Paraíba em 1717, em pleno período escravagista no Brasil, não é, por certo, desprovida de significado. A devoção à Virgem Aparecida constitui, assim, importante fator de integração das diferentes etnias no Brasil. Santidade, sua vinda a Aparecida para a abertura da V Conferência demonstra paternal afeto e amor à Igreja presente na América Latina e no Caribe e a nossos povos.
Em nosso continente, têm crescido o empenho missionário e a vitalidade de nossas comunidades, bem como das pastorais específicas e dos movimentos eclesiais. Os ministérios confiados aos cristãos leigos têm fortalecido e renovado a vida de nossas comunidades e estimulado os presbíteros a crescerem na consciência de sua identidade e missão específica. Em diversas circunscrições eclesiásticas, tem aumentado significativamente o número de seminaristas, sobretudo os diocesanos. São esses, Santo Padre, alguns expressivos sinais da vitalidade da Igreja de Jesus Cristo presente na América Latina e no Caribe.
Com humildade, reconhecemos também nossas limitações. Em nosso continente, muitos batizados não são suficientemente evangelizados. Sem a prática religiosa, sem inserção na comunidade, permanecem indefesos diante do proselitismo de certas pregações. Temos envidado esforços por encontrar, métodos adequados para enfrentar determinados desafios pastorais, como a defesa da vida e da identidade da família, segundo o projeto de Deus.
Igualmente, temos nos empenhado em combater a permissividade moral, que impõe grandes danos a todos, especialmente às famílias, à juventude e à infância. Precisamos, ainda, atuar de modo mais insistente e eficaz junto aos meios de comunicação social, tornando-nos capazes de usá-los com competência na evangelização.
Reconhecemos que existe, no Brasil e em outros países da América Latina e do Caribe, esforço sincero das autoridades para diminuir os contrastes entre riqueza e pobreza, bem como para corrigir as distorções na distribuição dos bens. É forçoso, porém, verificar que estamos longe de resolver nossas graves questões sociais, entre tantas outras, a miséria e a violência. Esperamos que a V Conferência resulte, em âmbito continental, em ardorosa e fecunda missão para anunciar, em todas as nações latino-americanas e caribenhas, Jesus Cristo, único Salvador do mundo. Estamos certos, Santidade, de que sua palavra orientadora muito nos iluminará e fortalecerá nessa tarefa.
Com a nossa gratidão por sua presença, Santo Padre, expressamos-lhe fidelidade, obediência e afeto filial e pedimos a sua benção apostólica para todo o povo brasileiro.
Aparecida-SP, 13 de maio de 2007
Dom Raymundo Damasceno Assis
Arcebispo Metropolitano de Aparecida