Ajudas destinadas à geração local de empregos e a potencializar os sistemas econômico, educacional e de saúde dos países pobres: essa é, no parecer do observador permanente da Santa Sé nas agências da ONU em Genebra, Suíça, Arcebispo Silvano Maria Tomasi, a estratégia adequada para combater a pobreza na sociedade globalizada.
Em pronunciamento feito dias atrás, na sessão do Conselho Econômico e Social das NN.UU. (ECOSOC), o prelado ressaltou a necessidade de uma análise profunda, por parte dos países industrializados, das causas e dos erros que até agora, impedem a solução do problema.
"Mudar a mentalidade local pode tornar-se uma estratégia vitoriosa na luta contra a pobreza" _ ressaltou o representante vaticano.
Dom Tomasi retomou as palavras de Bento XVI em sua carta de 16 de dezembro passado, à chanceler alemã, Angela Merkel, para ressaltar que se "deveria dar a máxima atenção e prioridade" à questão da pobreza "para o bem dos países ricos e dos países pobres". A carta do papa fora endereçada em vista da reunião do G-8 (grupo composto pelos sete países mais industrializados do mundo e mais a Rússia) na Alemanha.
Recordando que, ainda hoje, no mundo, quase um bilhão e 400 milhões de pessoas vivem com menos de dois dólares por dia, o representante vaticano evidenciou a urgência de "destinar as ajudas a projetos mais específicos e menos genéricos, capazes de reforçar, de modo tangível e verificável, a experiência diária de indivíduos e famílias, no tecido social da comunidade".
"Tal ajuda eficaz _ acrescentou _ requer múltiplos canais de distribuição e deveria alcançar as infra-estruturas de base das comunidades; essa ajuda deve ser garantida não somente pelos governos, mas também por organizações e instituições presentes na sociedade, inclusive as administradas por grupos religiosos, como escolas, hospitais e clínicas, centros sociais e programas de educação e recreação juvenil."
De fato, segundo o observador permanente da Santa Sé, "as pessoas instruídas podem estabelecer entre si, relações sociais baseadas não na força e no abuso, mas no respeito e na amizade". Nesse contexto _ continuou Dom Tomasi _ "se torna mais fácil reduzir a corrupção, uma das chagas dos países pobres", que pode também desencorajar a confiança e a intervenção dos países doadores.
Além disso _ frisou o prelado _ são necessários "novos acordos internacionais, que regulem a exploração dos recursos naturais, que recuperem fundos públicos subtraídos ilegalmente, que limitem o comércio de armas e eliminem a distribuição distorcida dos subsídios para a agricultura".
Portanto, se por um lado, os investidores estrangeiros devem contribuir para o desenvolvimento econômico dos países onde atuam _ precisou o prelado _ por outro, os vários governos devem "assegurar condições favoráveis a investimentos éticos, inclusive um sistema eficiente, um sistema fiscal estável, a proteção do direito de propriedade, e infra-estruturas que permitam o aceso dos produtores locais aos mercados regionais e globais".
"A erradicação da pobreza é um compromisso moral" _ concluiu Dom Tomasi.