Segundo Observador da Santa Sé na ONU, a recomendação que o Comitê faz à Santa Sé é de mudar sua posição em relação ao aborto
Liliane Borges
Da Redação, com Rádio Vaticano
O Observador permanente da Santa Sé, Dom Silvano Tomasi, criticou, nesta quarta-feira, 5, o relatório do Comitê de Direitos da Infância, ligado à ONU, sobre a postura da Santa Sé referente aos direitos das crianças e as questões ligadas ao abuso de menores.
Segundo Dom Tomasi, o Comitê critica o Vaticano por sua posição sobre os métodos contraceptivos, a homossexualidade e o aborto. O arcebispo afirma que o texto aparenta não ter levado em conta o relatório pedido à Santa Sé sobre as medidas tomadas nos casos de abuso sexual nem o cuidado que a Igreja tem para com os menores.
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“A primeira reação é de surpresa, porque o aspecto negativo do documento que fizeram aparenta que ele já estava pronto antes do encontro entre o comitê e a delegação da Santa Sé”, relata o arcebispo.
Dom Tomasi afirma que a posição do Comitê se mostra contraditória às exigências da Convenção Internacional dos direitos das Crianças, no que diz respeito à tutela da vida. Segundo o arcebispo, são pontos inegociáveis em relação ao que a Igreja pensa sobre o direito à vida.
“A recomendação feita à Santa Sé é a de mudar sua posição sobre a questão do aborto. É claro que, quando uma criança é morta, ela não tem mais direitos. Então, isso me parece uma contradição real com os objetivos fundamentais da Convenção, que é proteger as crianças”, alerta o arcebispo.
O observador da Santa Sé afirma ainda que o relatório parece estar permeado por posições ideológicas e de “organizações não-governamentais que têm interesses sobre a homossexualidade, o casamento gay e outras questões. Certamente, esses tiveram suas observações apresentadas e, de alguma forma, reforçaram uma linha ideológica”, alerta.
O arcebispo afirma ainda que a Santa Sé responderá o relatório de modo detalhado e com calma, uma vez que não há nada a esconder. Ele comenta ainda que o próprio Comitê havia declarado que o documento apresentando pelo Vaticano era o mais completo e claro entre todos os países que o entregaram.
“Vem a tentação de dizer que, provavelmente, o texto já estava escrito e não reflete os pontos e a clareza, mas sim uma adição precipitada (…). Por isso, devemos, com serenidade e com base na evidência – porque não há nada a esconder! – levar adiante as explicações das posições da Santa Sé”, conclui o arcebispo.
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