Padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior*, Reitor do Seminário Arquidiocesano de Cuiabá, foi convidado pelo Padre Jonas Abib para estar junto com o Sistema Canção Nova de Comunicação, comentando os acontecimentos mais importantes da visita do Papa Bento XVI ao Brasil.
Em entrevista ao nosso site de notícias, ele fala sobre o Sumo Pontífice e as características que o tornam um dos teólogos mais importantes para a Igreja atual:
noticias.cancaonova.com: Quem é o Papa Bento XVI ?
Padre Paulo Ricardo: O Papa Bento XVI certamente é um maiores teólogos vivos na atualidade, ele não é somente o Papa, ele como pessoa já tem qualidades extraordinárias que fazem dele alguém muito especial.
O Papa Bento XVI nasceu na Alemanha, e encontrou na sua vida sacerdotal uma vocação especial, a vocação de teólogo. Esse foi sempre o gosto dele, o sonho dele, e assim que ele foi ordenado padre, já entrou para a vida acadêmica. Tornou-se professor, foi professor em várias universidades da Alemanha, e foi convidado pelo cardeal de Colônia para ser um dos especialistas, consultores, do Concílio Vaticano II, e foi justamente como grande teólogo que, no final da década de 70, ele foi escolhido pelo Papa Paulo VI, para ser o Cardeal Arcebispo de Munique, que é a diocese da qual ele provém.
O Papa Bento XVI então começou uma trajetória de serviço para a Igreja no mundo inteiro. Em 1981, ele foi convidado pelo Papa João Paulo II para ser Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, e terminou sendo escolhido como sucessor do Papa João Paulo II.
noticias.cancaonova.com: O que há de característico no pensamento de Bento XVI?
Padre Paulo Ricardo: Bento XVI é antes de tudo um teólogo muito fiel. A forma como ele faz teologia demonstra uma mentalidade muito sadia, existem teólogos que gostam de ser originais, querem mostrar para as pessoas pensamentos novos, originais, para mostrar que são grandes e que são importantes. Bento XVI não tem nada disso, ele quer simplesmente, como teólogo, prestar um serviço às pessoas, e é certamente isso que marca o pensamento dele. Ele reflete sempre como homem de Igreja, como alguém que recebeu a fé antes de si e que vai deixar a fé, também, depois que ele morrer. Então ele é simplesmente um herdeiro, que vai deixar uma herança, e essa é a grandeza do pensamento de Bento XVI.
noticias.cancaonova.com: Existe algum ponto específico que marca, como grande teólogo, o Pontificado do Papa Bento XVI?
Padre Paulo Ricardo: A grandeza deste Papa está justamente no fato de ele ser um homem com uma visão espiritual extraordinária, ele como um bom médico, é capaz de fazer o diagnóstico do paciente e de receitar o remédio exato. Aqui é que está o ponto mais importante. A Igreja Católica é como se fosse um grande hospital que tem uma quantidade enorme de recursos, remédios, instrumentais, mas todos esses recursos não servem para nada se não houver um médico que diga qual a doença do paciente. Se a doença não for identificada, os remédios serão inúteis.
noticias.cancaonova.com: E qual é a doença que o Papa identifica no homem atual?
Padre Paulo Ricardo: O Papa Bento XVI, com esta sua visão espiritual, foi capaz de compreender a gravidade da crise espiritual do cristianismo moderno. Ele deu uma longa entrevista para um jornalista, chamado Peter Seewald. Essa entrevista foi publicada num livro chamado Sal da Terra** e o jornalista pergunta assim:
A crise atual da Igreja é a maior crise da história da Igreja? O Papa responde dizendo que certamente é uma crise importante comparado a duas crises que ela viveu no início da sua historia. A crise gnóstica e a crise ariana. Quando o Papa disse isso o jornalista se espantou e perguntou para ele: “Mas, a crise protestante não foi uma crise importante também?” O Papa respondeu que certamente essa foi uma crise relevante, porém não tocou nas raízes da Igreja, porque os protestantes continuaram crendo em Jesus e na Santíssima Trindade; mas a crise da Igreja atual, a crise do cristão moderno, toca nas raízes dessa instituição.
Ou seja, o que o Papa está dizendo é que o problema verdadeiro do cristão moderno é que ele não crê mais em Jesus. Ele quer ser cristão, mas não crê mais em Jesus, por isso é uma crise que toca nas raízes da Igreja.
noticias.cancaonova.com: E como é que o Santo Padre pensa em resolver esta crise?
Padre Paulo Ricardo: O Papa Bento XVI está propondo novamente para os católicos – e não somente para os católicos, mas para o mundo inteiro –, a figura de Jesus de Nazaré. No último dia 16 de abril, ele publicou um livro chamado “Jesus de Nazaré”, que em breve será lançado também no Brasil. Nesta obra, o Papa apresenta a pessoa de Jesus de uma forma extraordinária. Nela, ele fala da vida de Jesus, mas apresentada com uma tal inteligência espiritual e teológica, que certamente, ele marcou a história de seu Pontificado com essa obra. Na minha opinião o livro “Jesus de Nazaré” é a obra mais importante do Pontificado de Bento XVI até agora.
noticias.cancaonova.com: E o que o Papa diz nesse livro?
Padre Paulo Ricardo: O Papa apresenta a figura de Jesus, mas ele quer, como teólogo, resgatar a fé em Jesus, porque existe uma tendência no mundo moderno de ler os Evangelhos a partir daquilo que ele chamou de “dogma dos tempos modernos”.
noticias.cancaonova.com: E qual é o dogma dos tempos modernos?
Padre Paulo Ricardo: É a convicção de que Deus não interfere no mundo. A partir desse ponto de vista é que as pessoas querem ler a Bíblia, ou seja, de que Deus não interfere no mundo. Se é assim, Deus não pode fazer milagres. Não pode entrar na nossa vida, porque Ele não interfere. Quando o Evangelho diz que Jesus multiplicou os pães, logo os teólogos modernos dizem: não se trata de um milagre, Jesus ensinou a partilhar o pão.
Quando o Evangelho diz que Jesus curou um leproso, os teólogos modernos dizem: Não, não se trata de um milagre, é que os leprosos eram excluídos e Jesus os incluiu de novo na sociedade. Se é assim, a conclusão deles é clara: Não há interferência de Deus no mundo. E se não há interferência de Deus no mundo, Jesus não é o Filho de Deus que se fez homem. Ele é simplesmente um profeta, um pregador. E assim as pessoas querem aos poucos ir tirando esta centralidade da figura de Cristo. O Papa quer justamente propor Jesus como remédio para a crise atual.
Então, esse é o diagnóstico de sua Santidade: o cristão atual quer seguir o cristianismo, mas já não crê mais em Jesus como Filho de Deus, que se fez homem e que veio nos visitar e caminhar conosco neste mundo. O homem moderno crê em Jesus como figura admirável da história. Só existe um remédio: mais uma vez responder àquela pergunta que Jesus fez a Pedro: “E vocês o que dizem que eu sou”?
Precisamos voltar à fé dos apóstolos, à fé de Pedro, e essa é a maravilha da Visita de Bento XVI ao Brasil. Ele é Pedro, que mais uma vez vem responder quem é Jesus.
——-
* Padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior pertence ao clero da Arquidiocese de Cuiabá (MT) e é reitor do Seminário Cristo Rei, de Cuiabá. Nasceu no dia 7 de novembro de 1967 e foi ordenado sacerdote no dia 14 de junho de 1992.
Atualmente, leciona nos cursos de Filosofia e Teologia, além de servir à Câmara Eclesiástica de Cuiabá, à Paróquia Nossa Senhora das Dores (Barão de Melgaço – MT) e ao Sínodo Arquidiocesano de Cuiabá.
Em 2002, a Santa Sé o nomeou consultor da Congregação do Clero, em assuntos de catequese.
**Sal da Terra – O Cristianismo e a Igreja Católica no limiar do Terceiro Milênio
Joseph Ratzinger – Diálogo com Peter Seewald.