Presidente da ONG “Uma ponte para…” comenta atrocidade cometida pelo Estado Islâmico, que queimou vivas 19 jovens no Iraque
Da redação, com Rádio Vaticano
O Estado Islâmico queimou 19 jovens da minoria Yazidi por se recusarem a serem escravas sexuais. As meninas foram trancadas em uma gaiola de ferro e queimadas vivas em praça pública em Mossul, no Iraque, posto do Estado Islâmico desde a ocupação ocorrida em junho de 2014.
“Estas 19 mulheres eram yazidis, são algumas das 3.500 mulheres e crianças que ainda são escravas do Estado Islâmico. Foram queimadas vivas e infelizmente se espera que nestes dias o autoproclamado Estado Islâmico coloque também online o vídeo para documentar este crime atroz, como já fez no passado com o piloto jordaniano”, explica a presidente da Associação não-governamental “Uma ponte para…”, Martina Pignatti Morano, presente há mais de 25 anos em território iraquiano para ajudar a população.
Para Martina, essa atrocidade é uma ação de represália contra o governo iraquiano, a comunidade internacional, o governo do Curdistão iraquiano e contra a ofensiva militar que, neste momento, está crescendo com a libertação das áreas conquistadas pelo Daesh.
Nesse sentido, segundo ela, o fato destas mulheres não terem desposado os combatentes é apenas um pretexto. “Faz parte de uma estratégia clara, dentro da qual o Estado Islâmico está também queimando vivas pessoas muçulmanas das áreas ocupadas, acusadas de serem espiãs. Escolheram o primeiro dia do Ramadã para fazê-lo, depois de terem sequestrado também, em toda a Planície do Nínive, as antenas satelitares das pessoas, para impedir que assistissem aos telejornais e entendessem o que está acontecendo: deixar os civis na escuridão assim, de forma a poder organizar a própria ofensiva e a própria defesa militar”, destacou.
Proximidade e apoio
De acordo com a presidente da instituição, neste momento, é importante promover abordagens não-militares para a libertação destas áreas e a negociação entre as comunidades, e assim, conseguir reconstruir uma frente política anti-Daesh.
“Antes de pensar em punir os culpados, devemos pensar em reparar a violação sofrida pelas vítimas: todas estas mulheres yazidis, curdas, muçulmanas, atingidas pelo Estado Islâmico, estão recebendo na realidade pouca ajuda da comunidade internacional para uma recuperação física e psicológica. Existe realmente necessidade de apoiar, neste momento, como comunidade internacional, quer as ONGs ou as instituições, no apoio a estas mulheres. Isto é possível! Não devemos esperar que as áreas do Daesh sejam libertadas. Neste momento as vítimas pedem de nós proximidade e apoio”.
Mobilização civil
Martina destaca um projeto implementado pela associação, juntamente com as Nações Unidas, na Planície de Nínive, no incentivo das comunidades sunitas, xiitas, curdas, turcomanas, yazidis e cristãs trabalharem juntas para a convivência pacífica.
Segundo ela, são essas comunidades que tornarão possível, mais tarde, a libertação daqueles territórios aos cidadãos e aos civis, mesmo porque, o EI se aproveitou dos conflitos internos, já existentes, para entrar na região.
“Enquanto não trabalharmos nestes processos políticos e sociais, não haverá libertação do Estado Islâmico, porque não existe um cenário de transformação do conflito. Nós trabalhamos sobre isto e vemos que não somente as associações, os movimentos de mulheres, mas também os líderes tribais têm muita vontade, capacidade e responsabilidade em trabalhar na construção da paz”.