A canonização do Papa João Paulo II, marcada para o dia 27 de abril de 2014, pelo Papa Francisco, causou comoção e alegria em fiéis de todo o mundo. A notícia, para o postulador da causa de canonização, monsenhor Slawomir Oder, é a "coroação" de um intenso trabalho de oito anos e meio.
O sacerdote polonês, em entrevista ao site da diocese de Roma, fala sobre o caminho percorrido e o milagre que possibilitou a elevação do Papa Wojtyla aos altares. Monsenhor Oder destaca também a escolha do Papa Francisco em canonizar juntamente com João Paulo II o Papa João XXIII, conhecido como o "Papa bom".
O que representa essa data, monsenhor Oder?
Monsenhor Slawomir Oder – É uma grande alegria para mim, pois constitui um coroamento de um caminho desenvolvido em oito anos e meio. Um sinal de reconhecimento do pontificado de João Paulo II, que será recordado como o Papa da Divina Misericórdia.
O que o senhor pode dizer sobre o milagre vivido pela mulher de Costa Rica que permitiu chegar à canonização?
Monsenhor Slawomir Oder – Tudo começou com um e-mail que chegou à minha caixa de e-mail, informando o fato: uma mulher curada após um aneurisma cerebral. Graças ao trabalho do Tribunal Eclesiástico de Costa Rica, foi possível apresentar à Congregação para a Causa dos Santos a documentação que depois foi avaliada pelos médicos, teólogos, e cardeais. Assim, em julho, o Papa autorizou a publicação do decreto de canonização.
Quais suas impressões sobre a mulher que recebeu o milagre?
Monsenhor Slawomir Oder – Eu tive a sensação de encontrar-me diante do mistério de Deus. É uma mulher de fé simples, autêntica, com um grande sentido de pertença à Igreja. E isso se encaixa na lógica do Pontificado do Papa Wojtyla. Trata-se de uma mulher, mãe, avó, que sofre com a enfermidade e, com a cura, é restituída ao convívio com as pessoas que lhe são queridas. Outra vez, João Paulo II intervém na história como um Papa da família.
No trabalho do Processo de Canonização, o que destacaria?
Monsenhor Slawomir Oder – É um trabalho que tornou tangível historicamente o julgamento do povo de Deus sobre a santidade, frequentemente com o grito “Santo súbito”, sob a onda de emotividade coletiva que nós acompanhamos já nos dias precedentes e posteriores à morte do Papa.
Qual foi a parte mais trabalhosa?
Monsenhor Slawomir Oder – Certamente a parte para o reconhecimento das virtudes heroicas, com o recolhimento dos testemunhos e documentação. Mas há um outro aspecto, externo ao processo, que me ocupou muito: o relacionamento com os jornalistas. Às vezes queriam percorrer o andamento processual, indicando datas, vencimentos, tornando o trabalho menos sereno. Reconheço o bom trabalho que foi feito, mantendo viva a presença de João Paulo II nos meios de comunicação, mas foi um elemento que atrapalhou um pouco.
Após a beatificação, continuou o fluxo de cartas e e-mails para contar as graças recebidas e testemunhos sobre JPII?
Monsenhor Slawomir Oder – Continuou, mesmo se o maior fluxo tenha sido antes da beatificação. Muitas pessoas depositam mensagens diante do túmulo do Papa, chegam cartas, e-mails. Em todas essas mensagens, o que impressiona é a proximidade, pois todos o consideram como um membro da família.
Que significado tem a canonização contemporânea de dois Papas?
Monsenhor Slawomir Oder – Existem tantos elementos que unem as grandes figuras desses dois santos, como o relacionamento com as pessoas, a simplicidade, a profunda humanidade e o senso de humor. Um outro ponto de encontro é o Concílio Vaticano II: um Papa que abriu com coragem essa nova estrada para a Igreja e um Papa, que de certo modo, a percorreu com tenacidade e determinação. João Paulo II, podemos dizer, “encerrou” o Concílio, com a publicação do Código de Direito Canônico e o Catecismo da Igreja Católica.
Como será o dia 27 de abril?
Monsenhor Slawomir Oder – Será uma grande festa de Pedro. E espero que, de alguma forma, o Papa Emérito Bento XVI esteja presente.