O Papa Francisco se reuniu com os funcionários do Vaticano e pediu perdão pelos seus erros e de seus colaboradores
Da redação, Rádio Vaticano
O Papa Francisco recebeu no final da manhã desta segunda-feira, 22, na Sala Paulo VI, os funcionários do Vaticano para as felicitações de Natal. É a primeira vez que um Pontífice realiza este gesto.
Ao final do encontro, o Santo Padre aproveitou a ocasião para pedir perdão pelos seus erros e os de seus colaboradores. “Não quero acabar estas palavras de felicitações sem vos pedir perdão pelas faltas, minhas e de meus colaboradores, e também por alguns escândalos, que fazem tão mal. Perdoem-me”.
Todavia, o início do encontro foi de agradecimentos e ensinamentos do Pontífice aos funcionários do Vaticano. A maior parte dos funcionários são italianos, mas outros tantos vieram de outros países. A estes últimos, o Santo Padre agradeceu pelo trabalho generoso que realizam na Cúria, longe de sua pátria e de suas famílias, e afirmou que eles representam “a face da catolicidade da Igreja”.
O Pontífice também convidou os presentes a um “frutuoso exame de consciência em preparação ao Santo Natal”, exortando-os a se aproximarem do Sacramento da Confissão com um “espírito dócil, para receber a misericórdia do Senhor que bate à porta do coração”.
Dirigindo-se, de maneira especial, aos jardineiros, funcionários da limpeza, ascensoristas, porteiros e tantos outros funcionários “ocultos”, afirmou: “graças ao vosso empenho cotidiano, a Cúria se expressa como um corpo vivo e em caminho, um verdadeiro mosaico rico de fragmentos diversos, necessários e complementares”. E citando São Paulo quando fala do Corpo de Cristo, Francisco disse que os membros do corpo que parecem mais fracos são os mais necessários.
Depois disse que escolheu a expressão “cuidado, zelo” para caracterizar o encontro com os funcionários do Vaticano, e explicou o porquê: “Cuidar significa manifestar interesse diligente e premuroso, que compromete quer o nosso espírito quer a nossa atividade, para com alguém ou alguma coisa”, e fez uma comparação com uma mãe que cuida do filho doente:
“Me vem em mente a imagem de uma mãe que cuida de seu filho doente, com total dedicação, considerando como sua, a dor de seu filho. Ela não olha nunca o relógio, não se lamenta nunca de não ter dormido toda uma noite, não deseja senão vê-lo curado, custe o que custar”.
O Papa passou então às diversas exortações, começando pelo Natal, para que seja transformado em uma ocasião para “curar toda ferida e todas as faltas”. “Exorto-vos a cuidar de vossa vida espiritual, da vossa relação com Deus, porque esta é a coluna vertebral de tudo aquilo que fazemos e de tudo o que somos. Um cristão que não se alimenta com a oração, os Sacramentos, a Palavra de Deus, inevitavelmente perde o vigor e seca”.
No âmbito da família, Francisco pediu aos pais que deem aos filhos e aos “que lhe são caros” não somente dinheiro, mas sobretudo “tempo, atenção e amor”; “cuidado na relação com os outros, com obras boas, especialmente em relação aos mais necessitados”.
Depois exortou os fiéis quanto ao falar, a reconciliação, o trabalho e as relações humanas: “purificando a língua das palavras ofensivas, das vulgaridades e da linguagem da decadência mundana; nas feridas do coração, com o óleo do perdão; no trabalho, feito com entusiasmo, humildade, competência, paixão e espírito de gratidão ao Senhor; assim como no cuidado com a inveja, com a concupiscência, o ódio, os sentimentos negativos que destroem a nossa paz interior e nos transformam em pessoas destruídas e destrutivas”.
Francisco alertou também para “o rancor, que leva à vingança, ou para a preguiça, que leva à eutanásia existencial”; para o “apontar o dedo” que leva à soberba e do “lamentar-se continuamente”, que leva ao desespero.
“Eu sei que algumas vezes, para garantir o lugar do trabalho, se fala dos outros, para defender-se. Eu entendo estas situações, mas o caminho não acaba bem. No final, seremos todos destruídos entre nós, e isto não, não serve. Antes, devemos pedir ao Senhor a sabedoria de saber morder a língua a tempo, para não dizer palavras injuriosas, que depois te deixam a boca amarga”, completou.
O Papa exortou assim, para o cuidado com mais fracos, os anciãos, os doentes, os famintos, os sem-teto e os estrangeiros. “Por isto seremos julgados”, avaliou.
E em relação ao Santo Natal, o Papa pediu que “não seja nunca uma festa de consumismo comercial, de aparência ou de presentes inúteis, ou mesmo de desperdícios supérfluos, mas que seja a festa da alegria de acolher o Senhor no presépio e no coração”.
A família e o sentido do Natal
“Mas, o que devemos cuidar mais? Sobretudo a família”, indicou o Papa. “A família é um tesouro, os filhos são um tesouro. Uma pergunta que talvez os pais mais jovens poderiam se fazer: ‘Eu tenho tempo para brincar com os meus filhos, ou sempre estou ocupado, ocupada, e não tenho tempo para os filhos?’. Vos deixo esta pergunta. Brincar com os filhos, é tão bonito. Isto é semear o futuro”.
“Imaginemos como mudaria o nosso mundo se cada um de nós iniciasse logo, aqui, a cuidar-se seriamente e a cuidar generosamente da própria relação com Deus e com o próximo”, disse o Papa. “Se colocássemos em prática a regra de ouro do Evangelho, proposta por Jesus no Sermão da Montanha: ‘Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei também vós a eles: esta, de fato, é a Lei e os Profetas’”.
O Papa explicou então o que é o verdadeiro Natal: “A festa da pobreza de Cristo que aniquilou-se a si mesmo assumindo a natureza de escravo; de Deus que serve à mesa; de Deus que se esconde aos inteligentes e aos sábios e que se revela aos pequenos, aos simples e aos pobres; do Filho que não veio para ser servido, mas para servir e para dar a sua vida como preço de resgate para muitos”.