Política, economia, religião

Papa na Bósnia: professor analisa cenário do país europeu

Papa visita Sarajevo neste sábado; mestre em História analisa cenário complexo da Bósnia, país multiétnico, um dos mais pobres da Europa e marcado pela guerra

Jéssica Marçal
Da Redação

Logo da viagem do Papa a Sarajevo, com o tema da paz

Logo da viagem do Papa a Sarajevo, com o tema da paz

Um país multiétnico, considerado um dos mais pobres da Europa, marcado por um cenário de crise econômica e por um processo de reconciliação. Assim é a Bósnia-Herzegovina, país europeu que recebe a visita do Papa Francisco neste sábado, 6. Apesar do pouco tempo, já que Francisco fica apenas um dia na capital Sarajevo, grande é a expectativa pela visita, que tem como tema “A paz esteja convosco”.

A divisão em vários segmentos marca um cenário de conflitos político-religiosos na Bósnia. Em uma população de aproximadamente 4 milhões de habitantes, 40% seguem o Islã, 31% são cristãos ortodoxos e 15% de católicos.

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Outro fator agravante é o embargo econômico que Sarajevo vem tentando vencer desde meados de 1995, uma medida que lhe foi imposta devido ao chamado genocídio étnico ocorrido no país. Além disso, Francisco vai encontrar uma crise de desemprego que afeta principalmente os jovens em um país onde 18% da população vivem em extrema pobreza.

“Nessa sociedade multicultural, multiétnica, parece que a tarefa do Papa vai ser inaugural, no sentido de tentar restabelecer um diálogo. E a gente está vendo pelo noticiário que ele está sendo esperado com muita expectativa. Na figura dele há uma esperança de unidade”, diz o mestre História Mario Dias, que é  coordenador do curso de Filosofia do Centro Universitário Salesiano de Lorena (SP).

O acadêmico reconhece como um sinal dessa expectativa de unidade a própria fabricação da cadeira que Francisco vai utilizar no país: foram marceneiros muçulmanos que trabalharam na construção do objeto, não um católico romano.

“Isso já é uma notícia significativa. E esse processo de reconciliação é lento, mas a tentativa de consolidar a paz, a fraternidade, que é talvez a grande marca do Papa Francisco, pode inaugurar o que a OTAN tentou fazer e outros tantos tentaram, que é estabelecer um país que, com seus 4 milhões de habitantes, possa conviver com a dignidade, a respeitabilidade e, principalmente com a tolerância”.

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Guerra e o processo de paz

Por ter uma posição estratégica, já que liga três continentes – Europa, África e Ásia – a Bósnia sempre foi alvo de conflitos, conforme explica o professor Mário. Os interesses pela região figuraram no contexto da Primeira Guerra Mundial e também da Guerra Fria.

Não bastasse o sofrimento advindo de dois conflitos mundiais, o país ainda enfrentou uma guerra civil após a conquista da independência, em 1992. Nessa época, houve um genocídio em massa de milhares de habitantes e, como consequência, assistiu-se a uma fuga em massa para países vizinhos.

“Essa tentativa de processo de paz que vem seguindo desde 1994 ainda não foi resolvida. A maioria dos empregos na região é de natureza pública, poucas são as ofertas para o mundo privado. Isso acaba tendo um reflexo importante principalmente na intolerância religiosa e na crise econômica”, afirma Dias.

O professor explica ainda que os acordos internacionais acabam sendo dificultados principalmente no estímulo à entrada de empresas estrangeiras, porque o país ainda sofre parte do embargo econômico, mesmo com a recente tentativa de entrar na União Europeia.

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Diálogo na diversidade

O nacionalismo, segundo Mario, é sempre muito forte nos países e não é diferente no caso da Bósnia. A diferença está no fato de que, no país, a diversidade étnica e religiosa acontece em um pequeno território.

“Os sérvios, por exemplo, representam boa parte dos cristãos ortodoxos. Os croatas, são os católicos. E os muçulmanos, aqueles adeptos ao islamismo. A partir de 1993, se tenta associar a religião muçulmana como a religião da nação”.

Antes da guerra de 1992, essas questões religiosas eram “disfarçadamente” mais toleradas, explica Mario. Após a guerra, instalou-se a intolerância, que dificulta, de todos os lados, a possibilidade de diálogo. “Isso é um fator que o Papa vai encontrar nesses três grupos que acabam sendo oponentes, os sérvios, os católicos ortodoxos; os croatas que são católicos romanos e os bósnios, os muçulmanos”.

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