Missa no Bahrein

Papa: Amar a todos, superando a utopia e as inimizades

“Jesus não é utópico, mas realista: fala explicitamente de ‘maus’ e de ‘inimigos’. Sabe que acontece uma luta diária entre amor e ódio, no âmbito dos nossos relacionamentos”. Palavras do Papa na homilia durante a Missa pela Paz e Justiça, celebrado no Bahrein

Da Redação com Vatican News

Papa na missa do Bahrein Vatican Media/IPA/Sipa USA via Reuters Connect

O primeiro compromisso do Papa Francisco neste sábado, 05, foi a Santa Missa pela Paz e Justiça, celebrada no Estádio Nacional do Bahrein, em Awali. Francisco iniciou sua homilia citando Isaías que afirmou que o Messias que vem é verdadeiramente poderoso, mas não como um líder que guerreia e domina sobre os outros, mas como Príncipe da paz, como Aquele que reconcilia os homens com Deus e entre si. A grandeza do seu poder não se serve da força da violência, mas da debilidade do amor.

“Este é o poder de Cristo: o amor. E confere também a nós o mesmo poder, o poder de amar, de amar em seu nome, de amar como Ele amou. Como? De modo incondicional: não só quando as coisas correm bem e temos vontade de amar, mas sempre; não apenas aos nossos amigos e vizinhos, mas a todos, mesmo inimigos”, disse o Pontífice.

Amar sempre

Em seguida convidou a refletir sobre estes dois temas: “amar sempre e amar a todos”. Ao falar sobre amar sempre recordou as palavras de Jesus que nos convidam a fazer isso, isto é, “a permanecer sempre no seu amor, a cultivá-lo e praticá-lo qualquer que seja a situação onde vivermos”.

Francisco advertiu em seguida: “Mas atenção! O olhar de Jesus é realista; não diz que será fácil nem propõe um amor sentimental e romântico”, esclarecendo, “Jesus não é utópico, mas realista: fala explicitamente de ‘maus’ e de ‘inimigos’. Sabe que acontece uma luta diária entre amor e ódio, no âmbito dos nossos relacionamentos”.

Acrescentou também que Jesus vê e sofre ao contemplar em muitas partes do mundo, no cotidiano, os exercícios de poder que se nutrem de opressão e violência, aumentando o espaço próprio e restringindo o dos outros, impondo o próprio domínio, limitando as liberdades fundamentais, oprimindo os mais frágeis. “Ele bem sabe que há conflitos, opressões, inimizades”.

Permanecer fiel no amor

Colocando a questão na prática o Papa se pergunta: “Que havemos de fazer quando nos encontramos em situações do gênero? A proposta de Jesus é surpreendente, intrépida, audaz. Pede aos seus a coragem de arriscar por algo que, na aparência, é perdedor; pede-lhes para permanecerem sempre, fielmente, no amor, apesar de tudo, mesmo perante o mal e o inimigo”.

O Santo Padre exortou o pedido do Senhor: para que não se sonhe de forma idealística, com um mundo animado pela fraternidade, mas que cada um se comprometa a viver de forma concreta e corajosa a fraternidade universal, perseverando no bem mesmo quando se recebe o mal, quebrando a espiral da vingança, desarmando a violência, desmilitarizando o coração.

Observando em seguida que o convite de Jesus não tem a ver primariamente com as grandes questões da humanidade, mas com as situações concretas da nossa vida: os nossos laços familiares, Francisco refletiu que “Haverá atritos, momentos de tensão, conflitos, diversidade de perspectivas, mas quem segue o Príncipe da paz deve procurar sempre a paz porque é preciso desativar, quebrar a cadeia do mal, romper a espiral da violência”.

Acredita que devemos permanecer no amor sempre, pois trata-se do caminho de Jesus para dar glória ao Deus do céu e construir a paz na terra.

Amar a todos

Ao falar sobre o segundo aspecto “amar a todos”, Francisco disse que “podemos empenhar-nos no amor, mas não basta se o circunscrevermos à esfera restrita das pessoas de quem recebemos igualmente amor”.

Recordou que também neste caso, o convite de Jesus é surpreendente, porque amplia os confins da lei e do bom senso. “Já é difícil, embora razoável, amar o próximo, quem é nosso vizinho”.

O questionamento seguinte foi sobre o diferente, o distante, o estrangeiro, o de outro credo, que vem para perto de nós e torna-se nosso vizinho de casa. “Precisamente esta nação é uma imagem viva da convivência na diversidade, do nosso mundo marcado sempre mais pela migração permanente dos povos e pelo pluralismo de ideias, usos e tradições”.

O Santo Padre confirmou que o verdadeiro desafio, para ser filhos do Pai e construir um mundo de irmãos, é aprender a amar a todos, mesmo o inimigo.

“Na realidade, isto significa escolher não ter inimigos: ver no outro, não um obstáculo a superar, mas um irmão e uma irmã a amar. Amar o inimigo é trazer à terra um reflexo do Céu, é fazer descer sobre o mundo o olhar e o coração do Pai, que não faz distinções nem discrimina, mas ‘faz com que o sol se levante sobre os bons e os maus e faz cair a chuva sobre os justos e os pecadores’”.

Graça

Ao concluir, o Pontífice disse ainda que o poder de Jesus é o amor, e Jesus dá-nos o poder de amar desta maneira, de uma forma que nos parece sobre-humana. Na verdade, uma tal capacidade não pode ser fruto apenas dos nossos esforços; é, antes de mais nada, uma graça; uma graça que deve ser pedida com insistência. Sugeriu em seguida: “Frequentemente confiamos à atenção do Senhor muitos pedidos, mas o pedido essencial para o cristão é este: saber amar como Cristo”.

Finalizou aludindo que deste modo, a partir da vivência do amor, lentamente vão caindo os muros que endurecem o coração e encontram a alegria de praticar obras de misericórdia para com todos. “Então, compreendemos que uma vida feliz passa através das Bem-aventuranças e consiste em sermos construtores de paz.

 

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