Dia Mundial

Pandemia: especialista comenta impactos no meio ambiente

Dia Mundial do Meio Ambiente é comemorado nesta sexta-feira

Denise Claro
Da redação

Dia Mundial do Meio Ambiente é comemorado nesta sexta-feira, 5./ Foto: NicoWall-Pixabay

Nesta sexta-feira, 5, é comemorado o Dia Mundial do Meio Ambiente. A data foi criada pela Organização Mundial das Nações Unidas (ONU) em 1972.

A atual pandemia do novo coronavírus trouxe muitas reflexões sobre diversos aspectos da sociedade, envolvendo também as questões ambientais. Questões como a mudança de hábitos e adoção de atitudes mais sustentáveis se tornaram ainda mais urgentes.

A principal medida adotada contra o contágio foi o isolamento social da população. Como consequência, a baixa atividade humana dos últimos meses gerou impactos na natureza. Quem já não se deparou com postagens nas redes sociais mostrando a limpeza de mares e rios, antes mais visivelmente poluídos, ou de animais que voltam a caminhar e a nadar onde antes não era possível por causa da presença do homem?

O professor do Programa de Pós-graduação em Ecologia, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Fabrício Alvim Carvalho, afirma que os vídeos nas redes sociais são reais, e isso é algo positivo. 

“A grosso modo, metade da população mundial ficou reclusa na quarentena, então tivemos uma diminuição das atividades humanas muito considerável. A população pode observar, por exemplo, golfinhos no canal de Veneza ou na Baía de Guanabara. Esses animais sempre estiveram lá, mas sua observação era dificultada pela poluição. Tivemos um alívio para a fauna nesse sentido.”

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Por outro lado, Carvalho salienta que esses acontecimentos foram provocados por algo pontual, uma imposição sanitária, e não uma medida de preocupação dos governos, o que torna a questão provisória.

“Não dá para dizer ainda que houve uma mudança de paradigma no ser humano, de que o homem esteja aprendendo a lidar melhor com a natureza. Esperamos que esses meses de quarentena levem, realmente, a um aumento da nossa consciência.”

O Conselho Central de Controle de Poluição da Índia (CPCB) verificou uma mudança significativa na qualidade do ar, que melhorou cerca de 33% entre os dias 16 e 27 de março.

Também no Brasil foi feito um estudo analisando a qualidade do ar no Rio de Janeiro, pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea). O resultado? Nos meses de abril e maio, houve redução de 91% na liberação de dióxido de nitrogênio (NO2) em algumas áreas e de 55% de monóxido de carbono (CO) em outras. O NO2 é emitido, principalmente, pela queima de combustível em veículos e atividades industriais. Segundo a  Organização Mundial da Saúde (OMS), está cada vez mais associado aos casos de bronquite, asma e infecções respiratórias. Já o CO é emitido pela queima de combustível de automóveis.

O professor ressalta que, em alguns lugares, como China, EUA e União Europeia, a paralisação das atividades resultou em uma redução da poluição em 1/4 do que é emitido ao ano. O valor supera as metas do Acordo Climático de Paris.

“O maior setor impactado foi o de transporte. A aviação, devido ao home office e às restrições de barreiras sanitárias, teve um impacto de redução de 80%. O de transportes de superfície, de 60%, e a redução de CO2 por parte das indústrias, de 40%”, diz.

O outro lado

Carvalho expressa preocupação em relação aos impactos negativos no ambiente neste período de pandemia. O uso aumentado de materiais como luvas e máscaras leva a um descarte maior, e a um aumento significativo do lixo nos hospitais e residências.

“A quantidade de lixo doméstico aumentou de 15 a 25%, assim como a dos resíduos hospitalares, que teve um aumento de 10 a 20 vezes. Um problema sério é a incapacidade de tratar esses resíduos adequadamente. Os resíduos hospitalares têm uma rede complexa de coleta, de aterros sanitários específicos para resíduos, e essa rede está sendo sobrecarregada. Além disso, a maior parte desse lixo é incinerada, o que gera emissão de CO2. Então, temos diversos fatores secundários que são potenciais poluidores da natureza.”

O professor ainda lembra que, na mídia, percebe que as questões ambientais estão em segundo plano, e que muitas realidades não são divulgadas. 

“Sabemos, por meio de pesquisas, que o desmatamento na Amazônia aumentou neste período. A Amazônia é o nosso principal tesouro ambiental e uma das áreas mais sensíveis no mundo em relação às questões climáticas. Há também a realidade das áreas rurais. O êxodo do meio urbano para o rural em países como a Índia está sendo equivalente ao que aconteceu na Segunda Guerra Mundial, principalmente de trabalhadores com baixa estabilidade financeira, que voltam para suas aldeias em um cenário de pobreza onde precisam coletar lenha e caçar para subsistência.”

Mundo pós-pandemia

O mundo vive ainda o início da quarta revolução industrial, em um processo de automatização, de inteligência artificial e de revolução tecnológica. Segundo os critérios da ONU, o Brasil está no nível 3 entre as potências mundiais. “Não somos dos países mais pobres, mas temos países africanos que vivem uma pobreza extrema, e para essas populações os impactos ambientais se mantém, e podem até se agravar.”

Para Carvalho, a tendência à diminuição dos efeitos impactantes do homem com relação ao meio ambiente existe, mas a exploração da natureza tende a continuar, e deve ser fiscalizada pelos governos.

“Meu único receio é o rebote, ou seja, o afrouxamento das legislações de restrição ambiental mundiais e, consequentemente, das nacionais e locais, justificada pela bandeira de reaquecimento da economia. Tudo vai depender se os líderes forem capazes de aceitar os cientistas e as políticas de ecofriendly, de preservação da biodiversidade, redução de co2 e consumo sustentável. Mas acho que isso tudo, de certa maneira, fará com que boa parte do mundo mais avançado em termos de ciência e tecnologia reflita sobre a necessidade de se adotar essas medidas.”

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