Sacerdote afirma que realidade da Faixa de Gaza em 2025 é de extremo sofrimento humano; há três meses local não recebe comboio de ajuda humanitária
Da redação, com ACN

Padre Gabriel Romanelli /Foto: PA Images via Reuters
Durante três meses consecutivos, a Faixa de Gaza ficou sem receber nenhum comboio de ajuda humanitária. Isso forçou a única paróquia católica da região a racionar os poucos recursos disponíveis para alimentar os cristãos abrigados e algumas famílias vizinhas. A situação é descrita como “muito ruim” pelo responsável pela paróquia católica da Sagrada Família (única no território), padre Gabriel Romanelli. Segundo ele, o cenário é de extrema escassez e sofrimento constante.
Com o início da guerra em Gaza, toda a comunidade cristã local se refugiou na paróquia e no complexo ortodoxo ao lado. Atualmente, cerca de 500 pessoas, entre homens, mulheres e crianças, vivem abrigadas na paróquia, incluindo um grupo de pessoas com deficiência assistidas pelas Missionárias da Caridade.
Vida dentro da paróquia: oração, rotina e resistência
Em entrevista à ACN, padre Romanelli contou que, apesar do medo constante, a comunidade tenta manter a fé e a esperança. “Dentro do complexo paroquial estamos tão bem quanto possível, embora escutemos muitos bombardeios e, às vezes, estilhaços alcancem o nosso terreno”, relata.
Um dos principais desafios do sacerdote é organizar a vida diária no abrigo. Para isso, mantém uma rotina religiosa rigorosa, que inclui oração silenciosa diante do Santíssimo Sacramento todas as manhãs, além da recitação do terço e celebração da missa à tarde.
As crianças que vivem na paróquia seguem com aulas regulares para tentar salvar o ano letivo, e são promovidas atividades para crianças, adolescentes e famílias. Também há grupos de estudo bíblico que se reúnem semanalmente.
Gaza: racionamento e solidariedade
Os recursos enviados por benfeitores são compartilhados com todos os moradores do abrigo e também com famílias muçulmanas vizinhas, reforçando o espírito de solidariedade. No entanto, Israel bloqueou a entrada de ajuda humanitária durante os últimos três meses.
Em 22 de maio, o governo israelense autorizou a entrada de apenas 90 caminhões com ajuda humanitária, número muito abaixo da demanda diária estimada de 500 caminhões. A situação se agravou, exigindo medidas ainda mais rigorosas de racionamento.
“Há três meses não recebemos nenhuma ajuda. Então, por enquanto, estamos racionando tudo o que temos e, só depois desse racionamento, conseguimos distribuir aos refugiados no complexo e a pessoas de fora”, explicou o padre. Apesar disso, ele relatou que recentemente conseguiu distribuir água dentro e fora do abrigo.
Conflito em Gaza: impactos severos na comunidade cristã
Desde os ataques terroristas de 7 de outubro de 2023, perpetrados pelo Hamas e outros grupos jihadistas, a Faixa de Gaza está sob cerco. Em resposta, Israel lançou uma campanha de bombardeios e uma invasão terrestre, que permanecem em curso e já deixaram dezenas de milhares de mortos.
A comunidade cristã também sofre diretamente. Cerca de 52 cristãos, entre católicos e ortodoxos, morreram nos ataques ou em decorrência de doenças causadas pela falta de atendimento médico.
Mesmo em meio à luta diária por sobrevivência, padre Gabriel nota sinais crescentes de sofrimento mental entre os refugiados. “O mais grave que vemos é que ninguém fala sobre o fim da guerra ou sobre o direito de permanecer aqui, de reconstruir casas, de recomeçar”, lamenta.
Apelo por paz: oração e esperança
Apesar de todas as adversidades, o padre e a comunidade se mantêm firmes na fé. “Por isso, rezamos, e pedimos que as pessoas rezem e trabalhem pela paz”, conclui.
A realidade da Faixa de Gaza em 2025 é de extremo sofrimento humano, isolamento e incerteza quanto ao futuro. A paróquia da Sagrada Família permanece como símbolo de resistência e cuidado em meio ao caos da guerra.