Frei Francisco Lopes comenta como o modelo franciscano pode servir como base para uma nova economia
Denise Claro
Da redação
Nesta quinta-feira, 19, tem início o encontro do Papa Francisco com os jovens economistas, chamado de “Economia de Francisco”. A iniciativa é uma nova maneira de entender a economia de acordo com o espírito de São Francisco de Assis e da encíclica Laudato si’, que busque traduzir na vida cotidiana a encíclica Fratelli Tutti.
O encontro de três dias vai acontecer de forma on-line, por conta da pandemia de coronavírus. Serão abordados temas como trabalho, finanças, educação e tecnologia. O Papa Francisco explicou o nome do Encontro, em sua carta para o evento:
“O título deste evento — “Economy of Francesco” — refere-se claramente ao Santo de Assis e ao Evangelho que ele viveu em total coerência, inclusive nos planos econômico e social. Ele oferece-nos um ideal e, de certa maneira, um programa. Para mim, que escolhi o seu nome, é contínua fonte de inspiração”.
Franciscano capuchinho e doutor em Teologia e Comunicação, Frei Francisco Lopes lembra que o movimento “Economia de Francisco” vem acontecendo desde Bento XVI, com a encíclica Caritas in Veritate, em que o papa emérito retomou com muita força a Doutrina Social da Igreja. Na ocasião, a Europa atravessava uma crise financeira e voltava a viver questões como a imigração e o desemprego.
“Então, a Igreja ofereceu ajuda através das forças das Associações, pessoas de terceiro setor, o prof. Mario Monti (da Ação Católica Italiana), que se reuniram numa cidadezinha perto de Assis com empresários, economistas, onde puderam discutir e ouvir opiniões, e de lá foram à cidade de São Francisco. Agora, a Economia de Francisco vai aprofundar agora ainda mais os ideais e os princípios discutidos nesse encontro, sobretudo com uma outra visão da economia, não aquela do ganho individual, mas do bem comum que é a grande contribuição franciscana para a economia no mundo.”
O exemplo de São Francisco
Frei Francisco afirma que o grande exemplo do Santo de Assis foi de ter nascido em uma sociedade dividida em extratos, em classes sociais, e de não se render a este modelo.
“Em vez de seguir esses extratos, dos quais inclusive faziam parte a hierarquia e a estrutura da Igreja, Francisco cria um movimento chamado Fraternitas, uma fraternidade, onde a exemplo das primeiras comunidades cristãs, tinham tudo em comum. Sua forma de vida tornou-se uma provocação e um estímulo, mais adiante, com o movimento chamado pensamento franciscano.”
Esse pensamento franciscano se espalhou com os grandes pregadores e influenciadores da época, nos campos da educação, da política e da economia.
“Esse ideal de fraternidade, de que não é porque eu tenho mais, que eu sou nobre e rico, que sou mais importante do que o pobre. Essa é a nova visão que o pensamento franciscano traz ao mundo e que consegue implantar algumas iniciativas que para o futuro serão conservadas.”, diz o religioso.
A pobreza de Francisco foi encontrada em Jesus Cristo. Cristo pobre no presépio, Cristo pobre na Cruz. Francisco se encontrava nos materialmente pobres e também sabia olhar para os que viviam uma pobreza espiritual.
“Francisco também falava muito sobre a pobreza de Cristo na Eucaristia. Jesus que, sendo o Rei dos reis, o Senhor dos senhores, se apresenta de modo frágil, despojado, para ser alimento, para tornar-se partilha e saciar nossa fome. Uma imagem concreta daquilo que devemos fazer, da nossa solidariedade com quem sofre, sem julgamentos.”, reforça Frei Francisco.
O bom uso do dinheiro
O Santo de Assis mudou a visão sobre o dinheiro. “Ao usar o dinheiro como forma de se chegar ao bem comum ele encontra o verdadeiro sentido da caridade, que é aquela caridade na verdade. Os franciscanos começaram a criar os chamados ‘montes de misericórdia’. Hoje nós chamamos a palavra “montante” para nos referir a uma quantidade de dinheiro, e essa palavra vem justamente desse tempo. Eram montantes de dinheiro reservados para ajudar as pessoas nas mais variadas situações.”
Surgiram iniciativas como as cooperativas, os bancos dos pobres, em que benfeitores ajudavam os franciscanos a ter algum dinheiro, para que fossem dados aos pobres não somente para sua alimentação, mas quando uma moça pobre precisava de um ‘dote’, por exemplo, ou quando um pobre inocente era condenado e precisava de um advogado, e não tinha como pagar.
Tempos atuais
O religioso afirma que, com a Revolução Industrial e a automatização do mundo da economia, o pensamento franciscano se perdeu um pouco.
“É justamente isso que esse movimento agora quer reavivar, renovar, recomeçar, repensar, porque estamos vendo que o resultado daquilo que chamamos capitalismo e Revolução industrial não está sendo tão positivo para o bem comum, mas para o bem de alguns particulares.”
Hoje, o pensamento, os ideias e o modelo franciscano podem ser utilizados como base para uma nova e atual economia.
Frei Francisco observa que problemas que aconteciam naquela época, na idade média, voltam hoje à tona a nível internacional, com as guerras, imigrações coletivas, grandes desastres naturais e problemas ecológicos graves.
“São Francisco tem também essa capacidade de convergir para si pessoas de todos os credos, de todas as visões, de todas as condições. E o pontífice promove a cultura do encontro. Seu nome, Francisco, por si só é um símbolo de que os problemas da atualidade merecem uma resposta atual e eficaz como esse da fraternidade universal. O Papa nos recorda, e vemos que tudo isso converge para o pensamento franciscano, que é atualíssimo.”