Lideradas por entidades católicas, mais de 300 instituições fazem grave de denúncia contra a permanência da mineração durante a pandêmia, colocando em risco, principalmente, a vida dos indígenas
Da Redação, com Vatican News
Um documento que reúnde mais de 300 instituições, entre elas a Pax Christi internacional, numerosas Comissões Episcopais de Justiça e Paz, traz um apelo aos governos para respeitar e apoiar os processos autônomos de organização e autodeterminação das comunidades afetadas pela mineração e dos povos indígenas. Pedem à comunidade internacional que não ignore o clamor das comunidades exploradas e contaminadas em seus direitos de habitantes do planeta
“Condenamos o modo como a indústria de mineração e muitos governos estão agindo, durante a pandemia da Covid-19, para encontrar novas formas de extração dos recursos minerais” alerta o documento ao mesmo tempo que denunciam as empresas multinacionais de mineração, que desfrutam da pandemia global.
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A denúncia da “Pax Christi” destaca, de modo particular, a situação das comunidades indígenas,que, muitas vezes, são as mais vulneráveis em seu direito de consentimento livre, prévio e notificado, diante do empobrecimento dos seus territórios ancestrais. “A extração de recursos – acrescenta a nota – é uma das indústrias mais destruidoras do mundo; as empresas de mineração estão tentando se aproveitar da crise atual para encontrar novas formas de mineração e estabelecer uma imagem pública positiva, hoje e no futuro”.
Mineradoras ignoram ameaças reais da pandemia
O Documento da organização internacional, intitulado “A solidariedade global com comunidades, os povos indígenas e os trabalhadores, que correm risco pelos especuladores da pandemia da mineração”, identifica, em quatro pontos, as ameaças mais urgentes, com base nos colóquios com as comunidades afetadas, os trabalhadores, as organizações da sociedade civil e mais de 500 fontes de notícias.
Em primeiro lugar, “as empresas de mineração ignoram as ameaças reais da pandemia e continuam a agir com todos os meios disponíveis”; Segundo, “os governos de todo o mundo estão tomando medidas extraordinárias para bloquear os protestos legítimos e promover o setor de mineração, imunes de supervisão e de críticas da opinião pública”; Em terceiro, “as empresas de mineração estão usando a pandemia como uma oportunidade para “franquear suas intenções desonestas, apresentando-se como salvadoras, por meio de doações, que representam uma ameaça de corrupção e impunidade”; No quarto e último ponto, “as empresas de mineração e governos estão aproveitando da crise atual para assegurar uma mudança nos padrões reguladores, para favorecer a indústria, à custa das pessoas e de todo o planeta”.
Trata-se de um quadro desolador, em que não faltaram ameaças de governos, mediante mobilização de forças estatais (militares e policiais), para suprimir protestos legítimos; a abundância de doações, em plena pandemia, visa mais entorpecer as consciências do que uma ajuda efetiva à saúde das comunidades; a pressão das multinacionais para que, em busca da recuperação econômica pós-Covid-19, sejam aceleradas as decisões administrativas, em detrimento das medidas de proteção das comunidades e territórios. “A retomada econômica – reitera a nota – não deve promover mais mineração, mas reconhecer e reforçar as iniciativas comunitárias”.
Um apelo à comunidade internacional
“Condenamos – lê-se neste documento – tais respostas à pandemia da Covid-19 como atos de agressão, que exacerbam as ameaças e os riscos, que afetam diariamente comunidades, povos indígenas, defensores da terra e mineiros, rejeitamos também o conceito de mineração como um serviço essencial, em meio a uma emergência de saúde e em detrimento das pessoas e territórios explorados”.
Por fim, no documento, estas organizações fazem um apelo aos governos, para que respeitem e apoiem os processos autônomos de organização e autodeterminação das comunidades afetadas pela mineração e dos povos indígenas. Enfim, pedem à comunidade internacional que não ignore o clamor das comunidades exploradas e contaminadas em seus direitos de habitantes do planeta.