Cerca de 300 pessoas morreram em protestos contra o governo da Nicarágua em três meses
Da redação, com Agência Brasil
A Organização dos Estados Americanos (OEA) se reúne nesta quarta-feira, 18, pela terceira vez em duas semanas, para discutir a escalada da violência na Nicarágua. Cerca de 300 pessoas morreram em três meses de protestos contra o governo.
Nos últimos dias, as forças de segurança e grupos paramilitares, simpatizantes do presidente Daniel Ortega, realizaram “operações de limpeza”, para recuperar universidades ocupadas por estudantes e derrubar barricadas, erguidas em várias cidades do país. A última delas, ocorreu na terça-feira, 17, na cidade de Massaya, e resultou na morte de, pelo menos, três civis e um policial.
O chefe da polícia de Massaya, Ramón Avellán, disse que estava cumprindo a ordem (de limpeza) do presidente e de sua mulher, Rosario Murillo, que também é vice-presidente. “Vamos cumpri-la, custe o que custar”, afirmou.
Com base em depoimentos das vítimas, imagens de enfrentamentos e análises balísticas, os investigadores da CIDH acusaram o governo nicaraguense de mandar “atirar para matar” os manifestantes. As vítimas – muitas delas jovens estudantes – foram baleadas na cabeça, no pescoço ou nas costas.
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Ofensiva
O último enfrentamento aconteceu nesta terça-feira, 17. Desde cedo, carros policiais, seguidos por caminhonetes com homens encapuzados e armados, cercaram Morimbó, um bairro indígena de Massaya, símbolo da resistência à ditadura de Anastasio Somoza.
Somoza acabou sendo derrubado, em 1979, pela Revolução Sandinista, liderada por Ortega. Passados 37 anos, o ex-guerrilheiro conquistou, em 2016, seu terceiro mandato presidencial consecutivo – numa votação, sem a presença de observadores internacionais, cujos resultados têm sido questionados pela oposição e também por antigos aliados.
Os protestos foram desencadeados por uma reforma da previdência, anunciada em meados de abril, que o governo acabou revogando. Mas as manifestações continuaram – desta vez contra a violenta repressão dos primeiros dias. Ortega aceitou dialogar com representantes da sociedade civil – estudantes, agricultores, empresários e organizações de Direitos Humanos, com a mediação da Igreja Católica, para buscar uma solução pacífica para a crise sem precedentes, desde o fim da guerra civil em 1990.
O diálogo foi suspendido depois que Ortega rejeitou a proposta de antecipar as eleições. Ele acusou a oposição de “golpista” e os manifestantes de “terroristas” e prometeu cumprir seu mandato até o fim, em 2021. Ha três semanas, endureceu seu discurso e lançou uma ofensiva contra os manifestantes, para retomar a Universidade Nacional Autônoma de Managua e o bairro de Morimbó, em Massaya.
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Terrorismo
A Nicarágua tem sido alvo de críticas cada vez mais frequentes da comunidade internacional. Pelo menos treze dos 34 países-membros da OEA querem aprovar uma resolução nesta quarta-feira, 18, condenando o governo de Ortega. Já o governo nicaraguense tem outra proposta de resolução, condenando “grupos internacionais do crime organizado e terroristas” de querer desestabilizar o país e afirmando que os nicaraguenses têm o direito de reestabelecer a paz, sem “ingerência externa”.
Na segunda-feira, 16, o Parlamento nicaraguense (de maioria governista) aprovou uma lei contra a lavagem de dinheiro e a proliferação de armas de destruição massiva, que caracteriza o delito de terrorismo e estabelece penas de até 20 anos.