Segundo Dom Eduardo Hiiboro Kussala, embora a Constituição garanta direitos iguais para todos os sudaneses, sem distinção de religião, os cristãos são tratados como cidadãos de segunda classe
Da Redação, com Ajuda à Igreja que Sofre
“A situação jurídica dos cristãos no Sudão é muito preocupante”, afirma o bispo da Diocese de Tambura-Yambio, Dom Eduardo Hiiboro Kussala, à instituição Ajuda à Igreja que Sofre.
Segundo o bispo, embora a Constituição garanta direitos iguais para todos os sudaneses, sem distinção de religião, os cristãos são considerados e tratados como cidadãos de segunda classe.
“Os membros do clero não podem obter um passaporte e sair do país. Quando eles saem, nunca sabem se poderão retornar. Muitos sacerdotes foram expulsos e os bispos são obrigados ao silêncio, porque eles não podem expressar suas opiniões livremente”, denuncia Dom Kussala.
O bispo ressalta que, no país, os cristãos são autorizados a participar das celebrações litúrgicas, mas o governo não protege verdadeiramente a liberdade religiosa. Dom Kussala recorda o recente caso de Meriam Yahia Ibrayim Ishaq, que foi condenada à morte por apostasia.
“A fé de Meriam era bem conhecida de todos, mas, de repente, um dia ela foi ameaçada e, em seguida, condenada. E o governo não agiu, deixando que os líderes islâmicos decidissem o futuro da mulher”, conta.
O bispo destaca que Meriam não foi “convertida” ao Cristianismo, mas foi educada desde criança na fé cristã. “Seu pai era sim muçulmano, mas ele deixou a família quando ela tinha apenas cinco anos, e a menina cresceu na fé de sua mãe, cristã ortodoxa, e casou-se com um cristão”. O bispo destaca que a libertação da jovem só ocorreu por causa da forte pressão internacional, mas, mesmo assim, ela ainda foi forçada a dar à luz na prisão.
Dom Kussala lembra que a discriminação contra os cristãos não é um fenômeno novo no Sudão, porém, após a separação do Sudão do Sul, que tem grande número de cristãos, a perseguição aumentou muito.
“A Igreja sudanesa apoiou abertamente o nascimento do Sudão do Sul, chamando as autoridades a respeitarem a vontade do povo, e agora é responsabilizada pela separação dos dois Estados. Mesmo que nós tenhamos apenas exortado o Governo a garantir a liberdade de religião e de consciência”, concluiu o bispo.