A mediação que João Paulo II promoveu há 30 anos em plena crise entre a Argentina e o Chile constitui ainda hoje um exemplo para as nações, reconhece Bento XVI em uma mensagem lida pelo núncio apostólico, Dom Adriano Bernardini, aos participantes das jornadas sobre os frutos da paz daquela intervenção do Papa Karol Wojtyla, organizadas pela Universidade Católica da Argentina 16 de outubro (UCA).
Conhece-se como Conflito do Beagle o desacordo sobre a soberania das ilhas localizadas ao sul do Canal Beagle e seus espaços marítimos adjacentes, protagonizado pela República Argentina e a República do Chile.
O conflito podia ter acabado em guerra se não tivesse sido pela intervenção de João Paulo II, que, assistido pelo cardeal Antonio Samoré, como responsável de seus bons ofícios, mediou para conseguir um acordo entre os dois países sul-americanos.
"Trinta anos após aqueles fatos, a mediação do Beagle continua sendo um exemplo que se pode pôr para chamar a atenção da comunidade internacional, que demonstra, junto à paciência e à responsabilidade das partes envolvidas, como, em todas as controversas, o diálogo não prejudica os direitos, mas amplia o campo das possibilidades razoáveis para resolver as divergências", diz a carta.
O Papa considerou necessário "continuar recorrendo à diplomacia e a seus métodos de negociação, para garantir a paz, a segurança e o bem-estar", e tendo presente as lições da história, antiga e recente, convidou as novas gerações "a olhar o futuro com olhos de esperança e a comprometer-se na realização da civilização do amor, da qual João Paulo II foi profeta, ainda que nem sempre tenha sido escutado".
Após desejar que a iniciativa acadêmica da UCA "contribua para reforçar os vínculos de paz e amizade entre os povos irmãos da região", o Santo Padre invocou sobre todos os participantes "abundantes graças divinas" e enviou a benção apostólica às "queridas populações argentina e chilena, como sinal de sua paterna solicitude".
Bento XVI sustenta que as celebrações programadas "querem recordar a mediação pontifícia que contribuiu para resolver uma controversa, que corria o risco de converter-se em um conflito, e refletir sobre os frutos da paz que dela derivaram até nossos dias", e insistiu em que "a lembrança dos acontecimentos de 30 anos atrás está indissoluvelmente unida à amada figura do Papa João Paulo II e à destacada obra de seu delegado especial, o cardeal Antonio Samoré, ambos muito comprometidos na busca da paz e da concórdia entre os povos argentino e chileno, unidos há séculos por sólidos vínculos de fé e solidariedade".
"É obrigatório mencionar também o cardeal Agostino Casaroli, então secretário de Estado, e seus colaboradores que, após a morte do cardeal Samoré, finalizaram os trabalhos de mediação, até conseguir a assinatura de um Tratado de Paz e Amizade, que aconteceu no Vaticano em 29 de novembro de 1984."
"Foi um exemplo admirável de construção da paz através da via mestra e sempre atual do diálogo, que tem como finalidade não a supremacia da força e do interesse, mas a afirmação de uma justiça equânime e solidária, fundamento seguro e estável da convivência entre os povos", sublinhou.
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