Para o Prefeito Emérito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, Cardeal Francis Arinze, a atenção do Papa João Paulo II pela África contribuiu para sensibilizar a opinião mundial sobre os problemas do continente.
“Ele dirigiu tantos apelos aos homens de Estado, de um país a outro da África e nas universidades. Sempre pensou no povo e no desenvolvimento dos países. Falou da justiça aos povos. Durante uma viagem a Nigéria, víamos diversos políticos de diferentes partidos sorrindo uns para os outros e conversando. Foi algo muito simbólico”, ressalta o prefeito emérito da Congregação para o Culto Divino.
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O cardeal nigeriano, de 78 anos, recorda a sensibilidade e a atenção do Papa Wojtyla, em especial em suas 14 viagens para a África, as quais o próprio cardeal ajudou a organizar. Dom Arinze lembra que depois do Congresso Eucaristico Internacional em Nairobi, em 1985, antes de voltar a Roma, João Paulo II se encontrou com 80 mil jovens muçulmanos no Marrocos. “Eles o aplaudiram espontaneamente, não como acontecia com alguns políticos – ao menos da Nigéria – que batiam palmas antes que o Papa dissesse algo significativo”, conta.
Para Dom Francis Arinze aquele evento foi muito significativo e ele recorda que o rei também recebeu João Paulo II muito bem. O Papa Wojtyla acreditava na fraternidade entre os povos e religiões destacando sempre a reciprocidade.
“Se trata de uma mensagem muito importante direcionada para uma cooperação necessária entre cristãos e muçulmanos, que juntos representam metade da humanidade. Há um provérbio na Nigeria que diz: uma mão lava a outra e uma mão não pode lavar-se sozinha”, enfatiza o cardeal.
Em 1994, João Paulo II visitou diversos lugares da África, entre eles Pretoria, na África do Sul, Yaoundé, na República dos Camarões e Nairobi, no Quênia.
“Devo, todavia, mencionar a segunda visita a Nigéria, em 1998, quando João Paulo II beatificou padre Cyprian Tansi, na qual eu não sou indiferente. Se trata, de fato, do primeiro sacerdote que conheci, ele me batizou, escutou a minha primeira confissão, dele recebi minha primeira comunhão, e eu fui seu assistente nas Missas em 1945 e quando me tornei arcebispo introduzi a causa”, destaca o cardeal nigeriano.
Dom Francis Arinze recorda que em sua primeira Missa, Karol Wojtyla disse: ‘Não tenha medo, abra as portas para Cristo’. “Durante todo seu pontificado ele alertava a humanidade para que esta não tivesse medo de Jesus, que Deus não é rival do homem. Deus não tira a alegria do homem”, ressaltou.
Em especial, os jovens, destaca o cardeal, compreenderam a mensagem do Papa João Paulo II e correram para se encontrar com ele nas Jornadas Mundiais da Juventude. Em cada edição do evento, crescia o público e o empenho religioso.
“Ele falou também com os homens da cultura, nas universidades, ele ia a casa deles. Mas era capaz também de falar aos homens de Estado e assim o fazia”.
Dom Francis Arinze salienta que João Paulo II tinha maior preocupação ao falar com algum ditador, justamente porque ele ressaltava que o homem é uma criatura de Deus. “Citava sempre a Gaudium et Spes: o homem é a única criatura no mundo que Deus criou para si mesmo. Ele recordava que o homem não deveria ser um objeto, mas sujeto. Ele encorajou o homem à liberdade”, conclui o prefeito emérito da Congregação para o Culto Divino.