Conversa com o Papa

Íntegra da coletiva de Bento XVI aos jornalistas

Durante o vôo de Roma ao Brasil, o Papa Bento XVI concedeu entrevista aos jornalistas, entre eles, nossa correspondente de Roma, Liliane Borges, convidada pelo Vaticano para fazer parte da comitiva papal.

Confira a íntegra:

Bom dia, nos encontramos sobre o Sahara mas estamos indo em direção ao Continente da Esperança.
Vou com muita alegria e esperança a este encontro com a América Latina. Temos diversos pontos culminantes: Em primeiro lugar em São Paulo, o encontro com os jovens e, depois a canonização do primeiro santo nascido no Brasil. Esta é uma expressão importante da viagem. Um santo franciscano que atualizou no Brasil o carisma franciscano, reconhecido como um santo da reconciliação e da paz, uma personalidade que soube realizar a paz juntamente com a coerência social e humana.

Depois um encontro muito importante com a Fazenda da esperança, lugar onde a força curadora se faz ver, e faz abrir os horizontes. Problemas com as drogas escondem no fundo uma falta de esperança no fututo. E a fé que abre o futuro e a fé que abre esta força de cura e de um horizante .

O encontro com os Bispos do Celam, um momento de fé. Dar a vida a Cristo e fazer-nos discípulos de Cristo, sabendo que todos desejam ter a vida; devemos ser conscientes de que a vida não é completa se a não tiver um sentido, um caminho para andar. Esta condição religiosa da Igreja, abre os caminhos para as soluções dos grandes problemas sociais e políticos da América Latina
A Igreja não faz política como tal, respeitamos o laicismo, mas ela oferece as condições para uma política sã, que ofereça soluções aos problemas políticos, queremos ser cristãos conscientes do dom da fé, da alegria de conhecer a Deus. De conhecer o motivo da nossa vida, que é ser testemunhas de Cristo, aprender as grandes virtudes sociais, o sentido justo da formação de uma sociedade.

Queremos mobilizar forçar morais e religiosas que possam responder a específica missão da Igreja, a nossa responsabilidade Universal.

Violência no Brasil

Quem tem a fé em Cristo que é a reconciliação, não é violento e ajuda os outros a superarem a violência. O que podemos fazer é educar na fé em Cristo e aprender a mensagem da fé em Cristo e mobilizar forças contra a violência.

Aborto

Existe uma grande luta da Igreja pela Vida. João Paulo II fez um ponto fundamental de todo seu Pontificado esta luta e escreveu uma encíclica sobre isto “Donun Vitae”. Nós caminhamos com o pensamento que a vida é um dom, e não uma ameaça. Nas raizes destas legislações (que aprovam o aborto) está o egoismo e da outra parte uma dúvida sobre o valor da vida e sua beleza.

E também dúvidas com relação ao futuro, a Igreja quer dar respostas principalmente a estas dúvidas. A vida é bela, nao existem dúvidas sobre isso, é tambem um dom, e mesmo em condições difíceis permanece um dom. Recriar o conhecimento do Dom da Vida. Outra dúvida sobre o futuro. Naturalmente existem muitas ameaças no mundo, mas a fé nos dá a certeza de que Deus é sempre mais forte, está sempre presente na realidade da história. Podemos com confiança dar a vida a novos seres humanos E com esta consciência a fé nos garante a beleza da vida e no futuro podemos resistir a tantos egoísmos e medos que estão na raiz desta ameças.

América Latina

“Amo muito a América Latina, estive lá muitas vezes e tenho tantos amigos. Sei que são grandes os problemas e tambem quão grande é a riqueza humana deste continente. Nos últimos tempos os problemas do Oriente Médio, Iraque, Terra Santa e África tinham prioridades imediatas. Os sofrimentos da África são muitos.

Mas isso nao quer dizer que não me preocupo com a América Latina, amo o maior Continente Católico. Estou feliz que tenha chegado o momento para estar na América Latina, e confirmar os empenho iniciado por Paulo VI e João Paulo II. O continente católico deve ser um continente exemplar, onde sejam resolvidos os grandes problemas humanos, para trabalhar junto com o episcopado, bispos, sacerdotes, religiosos, leigos, para que este grande continente católico seja também um continente da vida e da esperança, com prioridade de primeira ordem.

Aborto no México e Excomunhão

Esta “excomunhão” não é algo arbitrário, mas é prevista pelo código. O assassinato de uma criança é incompatível com o direito a participar da comunhão do Corpo de Cristo. Eles não fizeram nada de novo, de surpreendente, eles trouxeram a luz e esclareceram publicamente aquilo que é direito da Igreja, de um direito que tem base na Doutrina da Igreja. O reconhecimento da vida e de sua individualidade, desde o primeiro momento da concepção.

Alemanha

Me sinto apoiado pelos alemães. É normal que em um país misto não estejam todos de acordo com o Papa, há um grande apoio de personalidades não-católicas na Alemanha. Sim o apoio é bom e me ajuda. Amo a Alemanha, Roma e, agora, sou cidadão do mundo e estou em casa em qualquer lugar.

Aumento das seitas na América Latina

Comum preocupação nesta V Conferência, queremos encontrar respostas convincentes, já está se trabalhando nisto. O sucesso das seitas demonstra que por um lado há uma sede de Deus, uma sede de religião, as pessoas querem estar próximas a Deus e buscam proximidade de Deus. Nós da Igreja Católica queremos nos tornar mais missionários e mais dinâmicos no oferecer respostas à sede de Deus e, ser conscientes que o povo e os pobres querem ter Deus como alguém próximo, aos seus irmãos, somos conscientes de que nesta resposta a sede de Deus, devemos ajudá-los a encontrar condições de vida justa. Seja econômicas e em situações concretas e, toda exigente justiça.

Teologia da Libertação

Com as mudanças da política, mudou também a situação da teologia da libertação, e é evidente que os falsos milenarismos que prometiam a libertação rápida, o acesso a uma vida justa, se mostraram como algo errado. Todos nós sabemos. A questão agora é como a Igreja deve ser presente na luta às reformas necessárias, na luta pelas condições de justiça. E neste ponto se dividem os teólogos. Nós com as nossas instruções de fé procuramos trabalhar no discernimento destas situações. Para assim sermos libertos de falsos milenarismos e de uma mistura errada da Igreja e política, e assim mostrarmos a missão específica da Igreja.

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