Crise migratória

Ilha de Lampedusa tem aumento de desembarque de migrantes

Somente na noite da última quarta-feira, mil migrantes chegaram à ilha, tendo ocorrido a morte de uma menina de cinco meses

Da Redação, com Vatican News

No porto, migrantes aguardam transferência para o continente, na ilha siciliana de Lampedusa / REUTERS/Yara Nardi

A ilha de Lampedusa, localizada ao sul da Itália, tem registrado um aumento de desembarque de migrantes como nunca visto antes. Nos últimos dias, foram mais de sete mil pessoas chegando à ilha. Delas, mil chegaram na última quarta-feira, 13, sendo que uma menina de cinco meses morreu afogada na complexa operação de desembarque. E há previsão de chegada de mais barcos.

Lampedusa foi o primeiro destino de viagem do Papa Francisco quando foi eleito Papa em 2013. Ele esteve na ilha no dia 8 de julho daquele ano, diante da crise migratória à qual se assistia naquela região do Mediterrâneo.

Diante da situação atual, as autoridades locais pedem intervenção urgente do Estado: “Esta é uma emergência humanitária”. A casa de acolhimento de Imbriacola está transbordando, com mais de dez vezes a sua capacidade original de 600 pessoas. Esses são números que quebram todos os recordes anteriores de chegadas à ilha. Até mesmo para a Cruz Vermelha, a situação é “complexa” e uma fonte de alarme adicional: “o número de pessoas que chegam não parece estar diminuindo, e é de se esperar que os desembarques aumentem nas próximas horas”.

A cidade de Lampedusa pede apoio

O prefeito de Lampedusa, Filippo Mannino, fez um apelo veemente ao Estado, destacando a insustentabilidade da situação. Ele enfatiza a necessidade de intervenções estruturais após o término da emergência e propõe que se evite ao máximo os desembarques na ilha, transportando os migrantes diretamente para navios de resgate que os levariam para outras partes do país. Mannino também aponta para a necessidade de um sistema compartilhado de gestão da crise em nível europeu.

Contudo, em meio a essa crise, alguns países europeus vão na direção contrária. A França, por exemplo, reforçou a fiscalização em suas fronteiras com a Itália para combater a “imigração ilegal”. A Alemanha, por sua vez, anunciou que não receberá mais refugiados vindos da Itália, criticando a atuação do estado italiano e alegando que as políticas italianas não estão em conformidade com o Tratado de Dublin, que define os Estados competentes para receber pedidos de asilo. Essas ações destacam a crise na política comum de migração europeia.

De Roma o apelo à União Europeia

A Itália continua a argumentar que os fluxos migratórios não podem ser gerenciados de forma eficaz pelos países individualmente, enfatizando a necessidade de uma abordagem de solidariedade europeia.

A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, apoia essa visão, ressaltando que as soluções devem ser encontradas pela União Europeia, e incentivando a conclusão do “novo pacto sobre migração”. No entanto, esse pacto tem sido objeto de críticas por reduzir os padrões de proteção para os migrantes, levantando preocupações de organizações humanitárias.

A solidariedade dos paroquianos de São Gerlando

Por outro lado, em meio a essa crise humanitária, a comunidade paroquial de São Gerlando, em Lampedusa, demonstra uma admirável solidariedade. Padre Carmelo Rizzo, pároco da ilha, em entrevista ao Vatican News, destacou como os gestos de caridade de sua comunidade não cessam, mesmo diante de uma crise tão profunda.

“Não, não há cansaço entre os paroquianos. Há muita generosidade e força de vontade”, disse o sacerdote. Ele contou as duras condições que os migrantes tiveram que suportar assim que desembarcaram. “O dia no píer foi difícil, porque havia um sol escaldante e não tinha água. Foi uma longa espera para eles, devido às inúmeras chegadas. Gerou-se uma certa tensão, mas eles só precisavam se alimentar e matar a sede”.

Padre Carmelo destacou o grande senso de generosidade da população: “As pessoas aqui conseguem se organizar imediatamente, abrem suas portas e disponibilizam o que têm em casa. O resultado é realmente fazer o que é certo”.

Uma longa e emocionante procissão

Na noite desta quinta-feira, 14, uma vigília foi liderada pelo prefeito da cidade e pelo pároco, com a participação de centenas de pessoas, entre moradores da ilha e migrantes. Eles levaram uma cruz pelas ruas, enquanto todos ao redor continuavam com gestos de solidariedade para com os refugiados.

Nesse meio tempo, os desembarques continuaram na ilha: 14 resgates foram realizados no espaço de 12 horas, levando outras 560 pessoas para Lampedusa, entre elas estão 291 menores desacompanhados. Um deles é uma criança de apenas três anos de idade, cujos pais morreram durante a travessia do deserto da Líbia. “A paróquia de São Gerlando está cuidando dele: aqui, também, os voluntários continuam incansavelmente preparando refeições e distribuindo produtos de primeira necessidade”, afirmou o padre Carmelo Rizzo.

 

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