Um caso que chocou grupos católicos italianos está sendo investigado pela Procuradoria de Milão no qual um feto saudável, gêmeo de outro que iria desenvolver má formação, foi morto por engano em um aborto. O procedimento foi realizado numa grávida de 38 anos internada no hospital São Paulo de Milão em junho deste ano.
O jornal vaticano, na edição italiana, distribuído nas bancas nesta terça-feira, comenta o caso e o atribui à "cultura da perfeição, que impõe a exclusão de tudo o que não parece belo, resplandecente, positivo, cativante".
Um hospital italiano confirmou neste domingo que, durante um aborto seletivo por uma alteração cromossômica em um de dois gêmeos, a equipe médica a cargo da intervenção eliminou equivocadamente o feto saudável. O hospital São Paulo, de Milão, explicou que se tratou de "uma terrível fatalidade", dado que os embriões, que estavam no terceiro mês de sua gestação, mudaram de posição na placenta antes da intervenção.
Segundo informou o hospital, os médicos conheciam só a posição do embrião enfermo, já que as ecografias realizadas antes da intervenção mostravam que ambos bebês eram morfologicamente iguais, pelo que não apresentavam diferença alguma.
Mas antes da intervenção, mudaram de posição e o feto saudável se situou no lugar que ocupava o gêmeo com a alteração cromossômica. A polícia de Milão iniciou uma investigação para elucidar as circunstâncias do acontecimento, mas sem fazer referência a indagações nem a hipóteses de delito, segundo deram a conhecer a mídia local nesta segunda-feira.
Com o título "Não há direito", o L’Osservatore Romano constata que no final "morreram duas meninas, assassinadas como conseqüência de um aborto seletivo".
"Uma decisão radical levou a repetir o aborto da irmãzinha que havia ficado com vida", a menina com síndrome de Down.
Mas ninguém, segundo o diário vaticano, "tem direito de eliminar outra vida. Nenhum homem tem direito de tomar o lugar de Deus. Por nenhum motivo".
"E, contudo, inocentes continuam morrendo. Suas palavras não pronunciadas, seus sorrisos nunca expressados, seus olhares nunca acolhidos, contiunuam suscitando desdém, ou ao menos as necessárias, profundas e sérias reflexões".
"É uma decisão ilegítima, ainda que esteja autorizada pela lei, como acontece na Itália", acrescenta. Comentando a notícia do aborto, o bispo Elio Sgreccia, presidente da Comissão Pontifícia para a Vida, fez um chamado a acolher toda vida humana.
"Só com este ato fundamental da parte de todas as pessoas interessadas, alcança-se a verdadeira serenidade, a verdadeira paz da consciência e o verdadeiro bem da sociedade", esclareceu nesta segunda-feira em declarações à "Rádio Vaticano".
"Temos de sentir-nos interpelados, todos, por este e por outros muitos casos que se repetem diariamente, para assumir um compromisso novo e diferente pelo respeito da vida humana desde o primeiro momento, pois estas criaturas têm a mesma dignidade que nós".
"E no caso de que padeçam alguma enfermidade, simplesmente têm um motivo a mais para ser ajudadas", conclui.