Pregador do Papa: Espírito de Amor do Ressuscitado faz novas todas as coisas
zenit.org – Publicamos o comentário do Pe. Raniero Cantalamessa, ofmcap, pregador da Casa Pontifícia, sobre a liturgia deste domingo, V da Páscoa.
V Domingo de Páscoa Atos 14, 20b-26; Apocalipse 21, 1-5a; João 13, 31-33a
Um mandamento novo
Há uma palavra que se repete várias vezes nas leituras deste domingo. Fala-se de "um novo céu e uma nova terra", da "nova Jerusalém", de Deus, que faz "novas todas as coisas", e finalmente, no Evangelho, do "mandamento novo": "Eu vos dou um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei".
"Novo", "novidade" pertencem a esse restringido número de palavras "mágicas" que evocam sempre significados positivos. Novo, recente, roupa nova, vida nova, novo dia, ano novo. O novo é notícia. São sinônimos. O Evangelho se chama "boa nova" precisamente porque contém a novidade por excelência.
Por que gostamos tanto do novo? Não só porque o que é novo, não usado (por exemplo, um carro) em geral funciona melhor. Se fosse só por isso, por que daríamos as boas-vindas com tanta alegria ao novo, a um novo dia? O motivo profundo é que a novidade, o que não é ainda conhecido e não foi ainda experimentado, deixa mais espaço à expectativa, à surpresa, à esperança, ao sonho. A felicidade é precisamente filha destas coisas. Se estivéssemos certos de que o ano novo nos reserva exatamente as mesmas coisas que o anterior, nem mais nem menos, deixaríamos de gostar.
Novo não se opõe a "antigo", mas a "velho". De fato, também "antigo" e "antiguidade" ou "antiquário" são palavras positivas. Qual é a diferença? Velho é o que, com o passar do tempo, se deteriora e perde valor; antigo é aquilo que, com o passar do tempo, melhora e adquire valor. Por isso se procura evitar a expressão "Velho Testamento" e se prefere falar de "Antigo Testamento".
Pois bem, com estas premissas, aproximamo-nos da palavra do Evangelho. Propõe-se imediatamente uma questão: como se define como "novo" um mandamento que era conhecido já desde o Antigo Testamento (cfr. Lev 19, 18)? Aqui volta a ser útil a diferença entre velho e antigo.
"Novo" não se opõe, neste caso, a "antigo", mas a "velho". O próprio evangelista João, em outra passagem, escreve: "Queridos, não vos escrevo um novo mandamento, mas o mandamento antigo, que tendes desde o princípio… E contudo vos escrevo um mandamento novo" (1 João 2, 7-8). Em resumo, um mandamento novo ou um mandamento antigo? Um e o outro.
Antigo segundo a letra, porque se havia dado há muito tempo; novo segundo o Espírito, porque só com Cristo se deu também a força de colocá-lo em prática. Novo não se opõe aqui, dizia, a antigo, mas a velho. O de amar ao próximo "como a si mesmo" se havia convertido em um mandamento "velho", isto é, fraco e desgastado, pela força de ser transgredido, porque a Lei impunha, sim, a obrigação de amar, mas não dava a força para fazê-lo.
É necessária, por isso, a graça. E de fato, por si, não é quando Jesus o formula durante sua vida que o mandamento do amor se transforma em um mandamento novo, mas quando, morrendo na cruz e dando-nos o Espírito Santo, nos torna de fato capazes de amar-nos uns aos outros, infundindo em nós o amor que Ele tem por cada um.
O mandamento de Jesus é um mandamento novo em sentido ativo e dinâmico: porque "renova", torna novo, transforma tudo. "É este amor que nos renova, fazendo-nos homens novos, herdeiros do Testamento novo, cantores do cântico novo" (Santo Agostinho). Se o amor falasse, poderia fazer suas as palavras que Deus pronuncia na segunda leitura de hoje: "Eis aqui que faço novas todas as coisas".