DESABRIGADOS

Em Marrocos, as feridas do terremoto de 2023 continuam abertas

No noroeste da África, o Marrocos ainda sente as marcas do terremoto de 6,8 graus. Dois anos depois da tragédia, o país vive realidades opostas.  Confira na reportagem de Wallace Andrade.

Imagens da Reuters

Montanhas do Alto Atlas, Marrocos. As feridas do pior terremoto do país em 120 anos ainda estão abertas. A tragédia da noite de 8 de setembro de 2023 tirou a vida de mais de 3.000 marroquinos e mudou a história deste agricultor de 72 anos. Lahcen Abarda está há 24 meses em uma barraca que precisa de remendas. “Você viu as condições? Vivo assim desde que a minha casa foi destruída. Não recebi nenhuma ajuda até agora. No ano passado, renovamos as barracas depois de danificadas pelo sol e pelo vento”, relatou o agricultor, Lahcen Abarda.

A situação é melhor para Mohamed Ait Batt, trabalhador da construção civil, recebeu uma quantia do governo para construir a nova casa, mas ainda não conseguiu terminar. “Morei muito tempo em um contêiner e uma barraca, até que nos deram uma casa que ainda não está pronta. Recebemos cerca de 8.000 doláres e não conseguimos terminar a obra. E ainda temos muito a fazer”, contou o operário da construção civil, Mohamed Ait Batt. 

No dia em que a tragédia completou dois anos, dezenas de sobreviventes fizeram um protesto em frente ao parlamento marroquino em Rabat. Eles foram pedir ao governo que levasse a sério a reconstrução da região, assim como tem feito com os investimentos para a Copa do Mundo de 2030, quando Marrocos vai ser sede de alguns jogos da competição.

O governo gastou 510 milhões de dólares em ajuda habitacional para vítimas do terremoto e já investiu mais de 2 bilhões e 200 milhões de dólares na preparação de estádios para o Mundial de Futebol. As autoridades marroquinas dizem que o investimento vai impulsionar a economia do país e gerar novos empregos.

O governo afirma que 8000 casas danificadas ainda precisam de reconstrução. Entre elas está a de Larbi Gilulate, que cumpriu toda a parte burocrática do processo. Mas na prática: “Há dois anos apresentei meus documentos às autoridades para receber ajuda, mas até hoje ainda não recebi resposta. Ninguém me ligou. Há outras pessoas na aldeia na mesma situação. Nem todas foram beneficiadas”, apontou o desabrigado, Larbi Com Jelloulat. 

Depois do terremoto, as áreas rurais do Marrocos têm níveis de pobreza acima da média, desigualdade que revela duas realidades em um único país.

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