Enquanto Paulo caminha pelo interior da Câmara Municipal de Guaratinguetá, observa cada cadeira que sentou ao longo dos três mandatos que ocupou como vereador: "todas as cadeiras", conta. Tinha apenas quinze anos de idade quando despertou o que ele chama de "missão". Nessa época atuou nos movimentos estudantis, começando pela Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundarista), depois Une (União Nacional dos Estudantes), para logo em seguida, ingressar na política como candidato a vereador. No penúltimo mandato chegou a ocupar a presidência da casa legislativa, "É um cargo de alta responsabilidade. É preciso ter conquistado a confiança da maioria para ocupar esta cadeira", afirma.
É cada vez mais raro encontrar vereadores idealistas hoje em dia. Nos acostumamos a ver candidatos com pouca convicção política que se arriscam (até de forma bizarra) diante das câmeras ou dos microfones para chamar a atenção do eleitor.
O salário atrativo, o status, podem ser os principais fatores que atraem a atenção de muitos candidatos, que certamente vêem no cargo a oportunidade de ascensão social. Mas a realidade dentro de uma Câmara Municipal por vezes diverge muito do sonho. Nos tempos atuais, o desgaste político é visível nas ruas. Não é incomum encontrar pessoas que reclamem da fraca atuação dos parlamentares, muitas vezes cooptados pelos interesses do prefeito.
Por outro lado, ainda há falta de critérios por parte do eleitores para eleger um parlamentar. A socióloga Lúcia Rangel, da Faculdade Tereza D' Ávila, em Lorena, SP, afirma que o período ditatorial tem parte de culpa nesse processo. "Ninguém pode ensinar o que não aprendeu ao longo da vida", afirma. "Quem nasceu em 1946, por exemplo, alcançaria maioridade para votar em 1964. Mas com o golpe militar, essa gente só foi votar 25 anos mais tarde. A essas alturas, com 43 anos de idade", justifica.
Em cidades pequenas, a proximidade com o candidato, o conhecimento e a convivência favorecem ao eleitor considerar mais a pessoa do que o partido na hora de escolher. "O certo seria estar atento aos dois critérios: partido e candidato", afirma a teóloga Rosana Manzini, diretora da faculdade Dehoniana de Taubaté. Para ela, hoje se faz necessário que o eleitor não somente vote, mas também acompanhe os trabalhos do vereador no decorrer do mandato dele. Tarefa difícil, afirma Paulo Rone. Ao longo dos doze anos de vida pública, o ex-vereador reconhece que as atividades do dia a dia normalmente dificultam esse acompanhamento.
Com conhecimento de causa, ele afirma que essa deveria ser cada vez mais a tarefa de associações de bairro, sindicatos e organizações não governamentais. "Onde há luz, não há fantasmas. A transparência nos ajuda a manter uma câmara mais limpa", justifica Paulo Rone. No próximo ano, ele pretende usar apenas as cadeiras do lado de fora da câmara, quando tiver tempo. Mas idealistas não foram feitos pra esperar sentado. Só o tempo poderá dizer o quanto Paulo Rone irá ficar longe das novas eleições.