31/05

Dia Mundial Sem Tabaco conscientiza sobre os males do tabagismo

Tabagismo causa doenças conhecidas no pulmão, mas também afeta coração e está ligado ao câncer de bexiga; médicos explicam os males

Jéssica Marçal
Da Redação

O cigarro tem de 40 a 50 substâncias que são extremamente nocivas ao organismo, frisa urologista / Foto: jaouad.K by Getty Images

Conscientizar sobre os malefícios do tabaco para a saúde. Esta é principal proposta do Dia Mundial sem Tabaco celebrado nesta segunda-feira, 31.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que o tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas por ano. Desse total, mais de 7 milhões são ocasionadas pelo uso direto do tabaco e cerca de 1,2 milhão é o resultado de não-fumantes expostos ao fumo passivo.

No Brasil, o percentual de adultos fumantes vem caindo nas últimas décadas. Em 1989, 34,8% da população acima de 18 anos era fumante, segundo a Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição (PNSN). Os dados mais recentes do ano de 2019, a partir da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), apontam o percentual total de adultos fumantes em 12,6 %.

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Cigarro e as doenças cardiovasculares

O câncer de pulmão é um dos problemas mais conhecidos atrelados ao tabagismo, mas não é o único. Fumar afeta negativamente vários sistemas do corpo humano, causando sérios danos também ao coração.

“O tabagismo é um dos fatores de risco que influencia demais no desenvolvimento, ocorrência e piora da doença cardiovascular”, afirma o cardiologista Hélio Castello.

Ele explica que o cigarro aumenta a chance de depósito de gordura nos vasos, o que causa obstruções que podem levar ao infarto e AVC. Também influencia no aumento da pressão arterial. “Isso sem contar problemas vasculares periféricos, como obstrução de artérias. Aumenta a chance de disfunção sexual masculina”, acrescenta o médico.

Vários componentes do tabaco podem aumentar a coagulação do sangue, o que também favoreceria os problemas citados. Outro efeito é o aumento da frequência cardíaca, o que constitui um mecanismo de defesa do coração para a diminuição de oxigenação no pulmão por inalar a fumaça do cigarro. E isso ocasiona uma sobrecarga no coração, já que, na prática, o órgão precisa trabalhar mais.

“É tudo um mecanismo interligado, onde os componentes do cigarro fazem mal em várias partes do nosso corpo e principalmente no aparelho cardiovascular e respiratório”.

Os prejuízos não são só para quem fuma, mas também para as pessoas ao seu redor. É o chamado “fumante passivo”. “Hoje, já existem estudos mostrando que adultos, jovens e até crianças que vivem com fumantes que esses usam cigarro próximo deles têm maior chance de desenvolverem doenças próprias do cigarro”.

Tabagismo e o câncer de bexiga

“Sabemos que em torno de 50 a 70% dos pacientes que desenvolvem câncer de bexiga têm relação direta e indireta com o cigarro. Tanto o paciente fumante ativo como o passivo têm mais ou menos a mesma predisposição em relação ao desenvolvimento do câncer de bexiga”, explica o dr. Fernando Leão, urologista e cirurgião robótico.

Câncer de ureter e renal também têm uma ligação direta com o tabagismo. Dr. Leão lembra que o cigarro é composto por cerca de 40 a 50 substâncias que são extremamente nocivas, estimulando o surgimento de câncer.

Uma vez inaladas, essas substâncias tóxicas passam pelos pulmões, são absorvidas na corrente sanguínea e, no sangue, vão percorrer todos os sistemas do nosso organismo. O sangue será filtrado nos rins e esses elementos nocivos serão eliminados na urina.

“Como a urina fica armazenada na bexiga, esse tempo de armazenamento geralmente é propício para que, em contato com a parede da bexiga, essas substâncias gerem um processo inflamatório nessas células superficiais da bexiga e desse processo inflamatório existe predisposição de transformação em células cancerígenas”, explica dr. Leão.

O urologista ressalta que todo esse processo demanda tempo, que está diretamente ligado ao tempo de exposição ao cigarro. Também tem relação direta com a predisposição genética que algumas pessoas têm ao desenvolvimento de câncer, seja ele qual for.

Parando de fumar

A nicotina tem um alto poder viciante e por isso mesmo o tabagismo precisa ser encarado como uma doença, explica dr. Hélio.

Para parar de fumar, ele cita como fundamental a força de vontade. O mesmo é ressaltado pelo urologista, que destaca a importância do paciente se conscientizar sobre as consequências do tabaco.

Também são importantes nesse processo o apoio da família e amigos, além de acompanhamento psicológico e atividade física. Os médicos lembram que ainda há recursos como medicamentos, chicletes e adesivos que vão controlar a ansiedade e tirar a dose de nicotina aos poucos. “Parar de fumar não é fácil, e é importante ter um acompanhamento multiprofissional e ter muita gente apoiando”, frisa dr. Hélio.

Existem equipes multiprofissionais e multidisciplinares especializadas em grupos antitabagismos. Quem recorda é o dr. Luciano Curuci, ginecologista, acupunturista e especialista em dor. Ele lembra, inclusive, a existência desse trabalho pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

“A Acupuntura também entra como uma das ferramentas terapêuticas para que se possa controlar essa ansiedade e ajudar o paciente a parar de fumar, ou pelo menos começar iniciando gradativamente, diminuindo a quantidade de números de cigarros por dia que esse paciente fuma”.

Dr. Luciano explica que a acupuntura ativa áreas do sistema nervoso central, aumentando e liberando endorfinas, o que leva a uma diminuição da ansiedade. “A Acupuntura também auxilia no padrão de sono dos pacientes (diminuição de insônia) e promove um equilíbrio em doenças crônicas e casos alérgicos”.

Quem conseguiu: mudança de vida

O casal Lúcia e José Augusto Ribeiro venceu o vício da nicotina há mais de 20 anos. Lúcia fumou por cerca de 11 anos; o marido, por 24. Quando decidiu parar, teve dificuldades. Ela testemunha que tinha uma “vontade louca” de fumar, mas no fim pensava mais em si e se apegou a Deus. “Minha vida melhorou em tudo: atividade física, alimentação, enfim. Eu me senti uma outra pessoa”.

Uma vez que venceu o vício, ela acabou influenciando o marido, que também estava nesse processo. “Eu parei primeiro, fui fazendo penitência e jejum. Eu precisava tirar de mim para poder pedir a Deus por ele, porque o meu marido fumava mais que eu”.

José Augusto transformou o cigarro em uma penitência de Quaresma e assim conseguiu largar o vício. Também se sentia mal no início, mas alcançou a graça, e hoje testemunha melhoria no sono e mais disposição para trabalhar. “Outra qualidade de vida”, conclui.

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