A 25 de Março de 1995 o Papa João Paulo II assumia a proposta da Congregação para o Clero de se celebrar um Dia pela Santificação dos Sacerdotes, por ocasião da solenidade do Sagrado Coração de Jesus. Almejava que tal iniciativa ajudasse os sacerdotes a “conformarem-se cada vez mais com o coração do Bom Pastor”.
A iniciativa, anualmente retomada, tem contribuído para alargar no Povo de Deus a estima e a oração pelos seus sacerdotes, particularmente necessárias quando eles envelhecem e escasseiam, não podendo aliás ser sempre substituídos onde estejam.
Referindo-se à nossa Diocese do Porto, o Anuário Católico de Portugal traz os seguintes números: para 2 064 813 habitantes e 477 paróquias ou equiparadas, há apenas 348 sacerdotes incardinados e 22 religiosos no serviço diocesano (números de 2005).
Os números falam por si. Tanto mais se considerarmos que este reduzido grupo é em boa parte constituído por sacerdotes de mais de setenta anos, que desenvolvem um esforço generoso e mesmo heróico para acompanharem pastoralmente as comunidades que lhes estão confiadas. O clero da Diocese do Porto, idoso ou mais jovem, é, na dedicação que geralmente manifesta, um alto exemplo do que pode a graça divina em corações generosos e prestantes, que vão muito além do humanamente previsível e socialmente habitual.
Os sacerdotes santificam-se exactamente assim, pela prestação abnegada do seu múnus, fazendo jus à doutrina do Concílio Vaticano II: “Os presbíteros alcançam a santidade, de maneira autêntica, pelo exercício do seu ministério, desempenhado sincera e infatigavelmente no Espírito de Cristo” (Decreto Presbyterorum Ordinis, nº 13). Ou, como escreveu recentemente o Papa Bento XVI: “A espiritualidade sacerdotal é intrinsecamente eucarística; a semente desta espiritualidade encontra-se já nas palavras que o Bispo pronuncia na liturgia da ordenação: ‘Recebe a oferenda do povo santo para a apresentares a Deus. Toma consciência do que virás a fazer, imita o que virás a realizar, e conforma a tua vida com o mistério da cruz do Senhor’” (Exortação apostólica pós-sinodal Sacramentum Caritatis, nº 80).
Mas santificam-se também, os sacerdotes de qualquer idade, pela oração premente e fervorosa dos crentes em geral. A Igreja aproxima-se de Deus por um movimento conjunto de louvor, intercessão e entreajuda.
Cada sacerdote é um dom de Deus à Igreja, que se agradece, acompanha e estimula pela oração de todos. E o mesmo se diga das vocações na sua origem, em que se aliam a iniciativa divina e a colaboração dos crentes. Lembrava-o a Exortação apostólica pós-sinodal Pastores dabo vobis, de João Paulo II: “A vocação sacerdotal é um dom de Deus, que constitui certamente um grande bem para aquele que é o seu primeiro destinatário. Mas é também um dom para a Igreja inteira, um bem para a sua vida e missão. A Igreja, portanto, é chamada a proteger este dom, a estimá-lo e amá-lo: ela é responsável pelo nascimento e pela maturação das vocações sacerdotais” (nº 41).
Sirva então este Dia de Oração pela Santificação dos Sacerdotes para que se renove em todas e cada uma das paróquias e comunidades da Diocese a oração quotidiana e fervorosa pelo dom do sacerdócio ministerial e pela sua realização em sacerdotes santos, onde se manifeste a caridade pastoral que ardia no coração de Cristo.
O futuro do sacerdócio ministerial na nossa Diocese depende em grande parte da intensidade da nossa oração no presente, com tal objetivo. Não podemos dispensar-nos daquilo que o próprio Deus nos confiou, como responsabilidade e encargo.
15 de Junho de 2007