MENSAGEM

Dia Mundial da Saúde: por um mundo mais saudável e justo

Em mensagem assinada pelo Cardeal Turkson, a Igreja reforça o
desejo de um mundo menos desigual

Da redação, com Boletim da Santa Sé

Cardeal Peter Turkson, prefeito do Dicastério do Vaticano para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral / REUTERS – Stefano Rellandini

O Dia Mundial da Saúde é celebrado anualmente em 7 de abril. Foi estabelecido pela primeira Assembleia Mundial da Saúde em 1948 com o objetivo de aumentar a conscientização sobre a saúde. O tema deste ano será “Construção de um mundo mais justo e saudável para todos”.

O ano de 2020 será lembrado como um divisor de águas que separa o “antes” e o “depois”. A pandemia afetou profundamente nossas vidas e nossa sociedade; intensificou as desigualdades.

O impacto da pandemia foi mais severo nas comunidades mais vulneráveis, que estão mais expostas à doença, com menos chances de ter acesso a serviços de saúde de qualidade.

Vivemos uma crise, mas como recorda o Papa Francisco, não saímos da crise como antes, saímos melhores ou piores. Este ano difícil também nos lembrou a importância da solidariedade humana e a consciência de que ninguém se salva sozinho.

A este respeito, o Papa nos convida animar e colocar no centro das nossas ações os valores da fraternidade, da justiça, da equidade, da solidariedade e da inclusão, para não permitir que as várias formas de nacionalismos fechados ou de leis de mercado nos impeçam de viver uma família verdadeiramente humana.

Saúde pertence ao valor da justiça

A pandemia aumentou o espaço entre os países mais favorecidos e os menos no que se refere o acesso aos cuidados de saúde. Um fato lamentável que persiste, apesar da condenação desta situação em várias ocasiões.

Existem disparidades e desigualdades inaceitáveis que negam saúde a grande parte da população nas “periferias do mundo”. A humanidade hesita em aceitar que “o direito fundamental à preservação da saúde diz respeito ao valor da justiça, sem distinção entre povos e etnias, levando em conta situações objetivas de vida e estágios de desenvolvimento, em busca do bem comum, que é ao mesmo tempo o bem de todos e de cada indivíduo.

Entre outras coisas, a comunidade civil em particular deve assumir esta responsabilidade pelo bem comum.Espera-se que “o direito à saúde e o direito à justiça sejam conciliados, garantindo uma distribuição justa dos serviços de saúde e recursos financeiros, de acordo com os princípios da solidariedade e da subsidiariedade”.

Sistemas de saúde mais equânimes e justos podem ser construídos com base nesses dois princípios. Mas, para isso, é necessário, antes de mais nada, repensar o conceito de saúde, como saúde integral.

Para uma saúde integral

Para um mundo mais justo e saudável, é necessário adquirir uma visão diferente sobre a saúde humana e o cuidado que leve em consideração as dimensões física, psicológica, intelectual, social, cultural e espiritual da pessoa.

Esta visão integral permite compreender o que fazer com que todos recebam os cuidados de saúde necessários é um ato de justiça, ou seja, dar à pessoa o que é seu direito.

Estendemos nossa estima e gratidão aos cuidadores que, apesar das tantas limitações e deficiências dos sistemas de saúde, não desistiram, lutando pela saúde de seus pacientes; eles foram fiéis à própria vocação, que encontra sua fonte na compaixão.

“A compaixão é também uma forma privilegiada de promover a justiça, pois a empatia com os outros nos permite não só compreender as suas lutas, dificuldades e medos, mas também descobrir, na fragilidade de cada ser humano, o seu valor e dignidade únicos. Na verdade, a dignidade humana é a base da justiça para superar todas as disparidades”.

Para um mundo mais saudável

Na atual experiência pandêmica, descobrimos que somos irmãos e irmãs, estamos todos no mesmo barco.

A humanidade redescobriu o sentido de interdependência mútua: uma casa comum, para um cuidado comum pela criação. A pandemia, em particular, ensinou-nos que a saúde é um bem comum.

Na atual experiência pandêmica, descobrimos que somos irmãos e irmãs, estamos todos no mesmo barco, responsáveis ubs pelos outros, e que nosso bem-estar depende também do comportamento responsável de todos. A humanidade redescobre o sentido de interdependência mútua.

Uma questão que merece atenção especial é a saúde mental, severamente posta à prova, neste período pandêmico. A esse respeito, o Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral elaborou um documento, que pode ser consultado em seu site, intitulado: “Acompanhar pessoas em sofrimento psíquico no contexto da pandemia Covid-19. Membros de um só corpo, amados por um só amor”.

Este documento oferece alguns elementos de reflexão para quem está próximo às pessoas afetadas pela pandemia e para todos aqueles que são chamados a acompanhá-los tanto nas famílias como nas unidades de saúde.

Devemos necessariamente cuidar daqueles que cuidaram de nós. Aqueles que governam, bem como os legisladores resta a responsabilidade de garantir melhores condições de trabalho aos profissionais de saúde.

Isso tudo requer investimentos econômicos prudentes e éticos, que visem acompanhar o desenvolvimento do potencial humano; da mesma forma, implica a formação de profissionais de saúde como um bem às pessoas e à comunidade; isso exige a promoção da prevenção, do tratamento e da pedagogia para a educação integral em saúde.

Maior atenção também deve ser dada às instituições de saúde, em particular àquelas sem apoio financeiro do Estado, como as da Igreja e de outras comunidades religiosas, em várias partes do mundo.

As desigualdades em saúde são injustas, mas também podem ser evitadas por meio de estratégias voltadas aos mais vulneráveis. Isso só pode ser alcançado por meio de um compromisso moral renovado dos países ricos com os países mais necessitados.

É desejável que a cobertura universal de saúde seja garantida a todos os indivíduos e todas as comunidades. Esta é uma meta urgente a ser alcançada para construir um mundo mais justo, com a paz que sonhamos.

Evite nomes e testemunhos muito explícitos, pois o seu comentário pode ser visto por pessoas conhecidas.

↑ topo