retiro quaresmal

"Concentrar no encontro com Deus", pede padre Bovati à Cúria Romana

Neste domingo, 1º, foram iniciados os Exercícios Espirituais da Cúria Romana; Pregador falou sobre a intimidade com Deus estabelecida através da oração

Da redação, com Vatican News

“Você pode ser um artesão do sagrado ou amigo de Deus, a chave está em como se vive a oração, o único ‘exercício’ que leva a criatura à intimidade com o Criador”. É o que afirmou neste domingo, 1º, o teólogo da Pontifícia Comissão Bíblica, padre Pietro Bovati. O sacerdote é o pregador do retiro quaresmal da Cúria Romana que acontece até esta sexta-feira, 6, em Ariccia, província de Roma.

Em sua primeira pregação do ciclo de meditações, o sacerdote apontou a oração como um “caminho”, que segue “traços divinos”. O dinamismo de Moisés e sua amizade com Deus foram grandes destaques da pregação de padre Bovati. Na abertura dos Exercícios Espirituais, foi lida uma pequena mensagem na qual o Papa Francisco, com resfriado, escreveu: “Eu os acompanharei daqui. Vou fazer os Exercícios no meu quarto, seguindo as pregações do padre Bovati, a quem muito agradeço. Rezo por vocês: por favor, rezem por mim”.

No início de sua pregação, o sacerdote recordou a narração do livro do Êxodo em que Moisés vai à tenda do encontro, colocada fora do acampamento. Segundo o pregador, o local “é o caminho do desejo”, em que Moisés deixa tudo para ir ao encontro com Deus, e a nuvem que desce sobre a tenda à medida que o profeta se aproxima é o sinal do Altíssimo que “vai ao seu encontro”.

“Isto anula uma ideia bastante difundida que identifica a oração com uma palavra que o homem dirige ao Senhor”, quase uma forma de recitação, enquanto a oração autêntica é, ao contrário, fundamentalmente uma experiência profética, aquela através da qual a criatura humana pode, em silêncio, escutar a voz do Senhor. É um face a face no qual, diz a Bíblia, Deus fala a Moisés como a um amigo”, observou.

O texto bíblico mostra o primeiro valor da oração, que tem o que o teólogo jesuíta chama de “prodigiosa familiaridade “. “Aqui, a familiaridade com Deus nada tem a ver com a familiaridade nos assuntos religiosos, nem mesmo com uma boa cultura teológica ou bíblica. Pelo contrário, é fruto exclusivo da oração autêntica, na qual é dado ao homem ver e saborear o plano de amor de Deus, a sua vontade benéfica a ser posta em prática concreta, pronta e generosamente. Sem esta experiência de familiaridade não há vida autenticamente religiosa, mas apenas – na melhor das hipóteses – o ofício das coisas sagradas”.

A confidência não é algo improvisado, esclareceu padre Bovati, mas o ponto final de um processo. “É de certa forma uma transfiguração semelhante à que Moisés viveu através da experiência da sarça”. Para alcançar esta intimidade com Deus, o sacerdote apontou ser necessário ter repetidas experiências de fogo. A sarça, segundo o pregador, pode representar a pessoa humana na sua fragilidade, fraqueza e miséria como a de um espinheiro, que no entanto é investido por uma perene força de vida: o fogo.

“Não se trata simplesmente de atualizar um pouco o fervor da nossa alma através de algum exercício apropriado de devoção, mas de assumir com renovado compromisso da verdade, com uma sincera abertura de coração o dom que Jesus veio trazer ao mundo. Quando exclamava: ‘Eu vim para lançar fogo sobre a terra, e como eu gostaria que já estivesse aceso!'”, sublinhou.

Para o sacerdote, este é o fogo que o mundo de hoje necessita constantemente. O pregador afirmou que a sociedade vive condições de necessidades espirituais urgentes e até dramáticas, que requerem forças espirituais de cura que só Deus pode dispensar. 

Padre Bovati pontuou também que a Igreja está sempre desejosa de se renovar espiritualmente e é chamada a um processo de reforma que certamente não pode limitar-se a medidas disciplinares e administrativas, porque o Espírito solicita impulsos e mártires que só os santos podem assumir.

“O que podemos fazer agora, na consciência da nossa responsabilidade como crentes, é subir à sala do andar superior, como narrado nos Atos dos Apóstolos, e em segredo, perseverantes e concordes na oração, esperar humildemente o poder do Espírito Santo que descerá, segundo a promessa, sobre todos aqueles que rezam”.

Em um percurso meditativo que vai entrelaçar o Livro do Êxodo com o Evangelho de Mateus, assim como a leitura dos Salmos, o último “ícone” que o pregador indicou é o de Moisés tirando as sandálias ao aproximar-se da sarça ardente. “É a pausa diante do divino é o convite a parar, a não distrair o coração com outros pensamentos, mas concentrar no encontro com Deus todas as energias do coração”, concluiu.

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