Homilia do bispo de Texcoco, no México, Dom Carlos Aguiar, na Conferência de Aparecida (SP), nesta segunda-feira, 28.
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"Quem sou eu para que a Mãe de meu Senhor venha me visitar?" Assim falou Isabel, ao saudar Maria que, com pressa, subiu a montanha de Judá, ao saber que sua prima se encontrava grávida. "Quem é a Igreja na América para que a Mãe do meu Senhor venha visitá-la?" Assim saudamos hoje, nesta Eucaristia e nesta V Conferência Geral deste Santuário de Aparecida. Saudamos a Maria de Guadalupe que, com pressa, se fez presente na Montanha de Tepeyac, ao saber que estava em gestação um novo povo.
Maria e Isabel trocaram saudações e também compartilharam as maravilhas realizadas por Deus nelas. A que chamavam de estéril, viu-se fecunda em plena velhice e Maria, sem deixar de ser virgem, converteu-se na Mãe do Amor, na Teótokos. "Tu és bendita entre todas as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre", exclamou Isabel cheia do Espírito Santo, e acrescentou: "Bendita és tu por ter acreditado que se cumprirá o que te foi anunciado da parte do Senhor".
Maria e Isabel manifestam duas atitudes muito importantes para a vida dos discípulos e para a vida da Igreja como discípula. Primeiro, a sensibilidade para atender a Deus e descobri-Lo presente em suas vidas, aceitá-Lo como interlocutor e atuante em suas vontades e recebê-lo, assumindo na fé, os planos do Senhor. Segundo, a capacidade de buscar a quem também descobriu o Senhor e suas ações e encaminhar-se para encontrar-se com ela e compartilhar as maravilhas que o Espírito tem realizado. Maria não só visitou sua prima Isabel, mas também fez o mesmo conosco.
Maria de Guadalupe se encontra com São Juan Diego e lhe pede que ele vá em nome dela falar com o bispo do México para que ele lhe construa uma casinha, onde possa mostrar todo o seu amor, o Filho de suas entranhas, a uma sociedade que vivia na confusão e no desconserto, a uma mistura de raças e culturas que foi o surgimento de um novo povo.
Hoje, nossos povos latino-americanos, em meio a situações crônicas e reiterativas de iniqüidade crescente, autoritarismos que provocam violência e corrupção e sob o fluxo da globalização, da migração e mobilidade humana do intercâmbio cultural passam de uma etapa de transição de onde está surgindo, com dores de parto, a cultura que vem que previu a III Conferência Geral em Puebla, diante da qual o servo de Deus, João Paulo II, convocou a Igreja a uma nova evangelização.
Hoje, reconheçamos os dons recebidos graças à presença de Maria na América. Necessitamos ir e recorrer a Ela para que nos mostre ao Filho que traz ao mundo e, com sua ajuda, multiplicada à devoção mariana estendida a todos os nossos povos, possamos preparar a Igreja para enfrentar os novos desafios que estão tocando as portas das famílias e da sociedade inteira.
Sejamos uma Igreja como Maria de Guadalupe que, inculturada, mostre o rosto da misericórdia divina para consolo e fortalecimento espiritual, para redescobrir a dignidade de toda pessoa, independentemente de raça, língua, cultura e nação. Que promova crescimento e acompanhe o desenvolvimento dos novos discípulos e missionários de Jesus Cristo, saciando-os na sabedoria de amor, de temor, do conhecimento e da santa esperança.
Com Maria, discípula e mestra, sejamos uma Igreja que com pressa vai ao encontro tanto de quem, como Isabel, reconhece as maravilhas que faz o Senhor, como de quem, como São Juan Diego, atravessam por aflições e desconcerto, a incerteza ou a desesperança. Sejamos uma Igreja em estado permanente de missão. Com Maria, ouvinte da Palavra e sua fiel servidora, sejamos uma Igreja que vive o afirmado no Livro da Sabedoria: “Aos que me escutam não terão de que se envergonharem, e os que se deixam guiar por mim, não pecarão. Os que me honrarem, terão uma vida eterna”.
Com Maria, mulher eucarística, sejamos uma Igreja que redescobre e valoriza a Eucaristia Dominical e experimenta que “os que Me comem seguirão tendo fome de Mim; os que Me bebem, seguirão tendo sede de Mim”. Com Maria, escrava do Senhor, que caminha na obediência e na vontade do Pai e na comunhão com o Espírito de vida, sejamos uma Igreja que, apaixonadamente, se entrega à causa do reino de Deus, é casa para todos e escola onde se aprende, com o testemunho de quem a forma, a caridade e o amor.
Ontem, celebrávamos Pentecostes, acreditamos em Jesus Cristo, que conseguiu do Pai para nós o dom do Espírito Santo. Sejamos dóceis às suas inspirações para que Ele seja o artífice de uma Igreja na América renovada, que seja presente e reflita o amor misericordioso e na bondade infinita de Deus nosso Pai.
Convido-os a confiar como Maria e fazer nossa a experiência dela, para que possamos felicitar a Igreja na América: "Bendita és tu por ter acreditado que se cumprirá o que lhe foi anunciado da parte do Senhor".
E já próximo do término da V Conferência Geral, convido-os a exclamar: "Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito se exulta de alegria em Deus, meu salvador, porque Ele olhou com bondade a pequenez de sua servidora". Amém.