Dez anos depois que o chamado Estado Islâmico massacrou cristãos e yazidis, o Patriarca de Bagdá disse que o sofrimento une todos os iraquianos
Da redação, com Vatican News
Dez anos atrás, na noite de 6 de agosto de 2014, 120 mil cristãos iraquianos foram forçados a fugir de suas casas durante a noite.
Além disso, um povo inteiro — os yazidis — sofreu uma tentativa de extermínio. Mais de 3 mil homens, mulheres, meninos e meninas foram mortos, e pelo menos 6.800 pessoas, especialmente mulheres, meninos e meninas, foram sequestradas pelo chamado Estado Islâmico. Este ataque foi reconhecido pelas Nações Unidas como genocídio.
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Foi uma “tragédia coletiva” para o povo iraquiano, disse o cardeal Louis Raphaël Sako, o patriarca caldeu de Bagdá, ao Vatican News. “Uma tragédia envolvendo cristãos e outras minorias que permanece gravada na mente das pessoas. É verdade que o ISIS foi derrotado, mas sua ideologia continua forte, e não apenas no Iraque.”
Vatican News — O que resta hoje da tragédia vivida pelos cristãos iraquianos e outras minorias há dez anos?
Cardeal Louis Raphaël Sako — As pessoas não têm muita fé no futuro. Todos continuam se perguntando: quando finalmente teremos um estado moderno, democrático e civil, onde todos possam ser cidadãos com direitos e deveres iguais? É por isso que muitos deixam o Iraque, não apenas os cristãos. Tento falar com as pessoas, assegurando-lhes que esse mal não durará e que elas precisam ser pacientes.
Vatican News — O que significa para os iraquianos a ausência de cristãos na Planície de Nínive?
Cardel Sako — Os cristãos continuam a temer por sua segurança porque o país não é estável, e eles são uma pequena minoria. Além disso, todos estão preocupados com as tensões decorrentes da crise do Oriente Médio.
Vatican News — Toda a população está sofrendo com essa ansiedade?
Cardel Sako — Tanto os cristãos da Planície de Nínive quanto os yazidis estão com medo. Precisamos mudar a mentalidade que fundamenta as guerras e a vingança. Precisamos aprender a dialogar e resolver problemas não com armas, mas por meio do diálogo — um diálogo sério e corajoso. Precisamos mudar os programas educacionais, a linguagem, os discursos que as pessoas fazem.
Vatican News — O Ocidente também é responsável pela situação que você descreve?
Cardel Sako — O Ocidente é um tanto tímido em relação àqueles que pensam que a única solução é a guerra. Como diz o Papa Francisco: a guerra nunca é uma vitória. Todos perdem! O problema com o Ocidente é a indiferença. Todos estão focados na lógica do lucro e carecem de valores morais e espirituais. Também podemos ver isso com o que está acontecendo na Ucrânia. É triste!
Vatican News — O que a experiência da comunidade cristã hoje, juntamente com o genocídio dos yazidis nas mãos do Estado Islâmico, ensina a nós?
Cardel Sako — Essa memória nunca será fácil de apagar. Continuam a haver muitos atos de ódio, como o ataque do ano passado em Qaraqosh, que causou mais de 133 mortes durante uma celebração de casamento. E o genocídio yazidi. Como se pode imaginar, no século XXI, que mulheres sejam vendidas e separadas de suas famílias apenas por causa de outra etnia? Quais valores existem? É uma coisa terrível, não apenas para nós, mas para o mundo inteiro, que não pode impedir que tais coisas aconteçam.
Vatican News — Você tem um apelo para que o mundo abra os olhos para a situação no Iraque?
Cardel Sako — Eu acho que não devemos esquecer nossos irmãos e irmãs na humanidade. Somos irmãos, e a vida é uma coisa maravilhosa. Não podemos deixar as pessoas morrerem sem fazer nada, seja no Iraque ou em outro lugar. Cada um de nós é responsável pelos outros, e quando morrermos, Deus não perguntará se sou cristão ou muçulmano, mas nos perguntará: o que você fez pelo seu irmão?