Discurso

Cardeal Parolin pede negociações verdadeiras para uma paz justa

Secretário de Estado Vaticano discursou no terceiro dia da Cátedra de Acolhimento, evento que será concluído nesta sexta-feira, 28, na Fraterna Domus, em Sacrofano, perto de Roma

Da redação, com Vatican News

Negociações “sem condições prévias” para uma paz justa e duradoura na Ucrânia, um “senso de moderação” por parte de Hamas e Israel, e soluções “sem recurso a armas” para Gaza. O Secretário de Estado Vaticano, Cardeal Pietro Parolin discursou no terceiro dia da Cátedra de Acolhimento, evento que será concluído nesta sexta-feira, 28, na Fraterna Domus, em Sacrofano, perto de Roma. O evento buscou promover a cultura da solidariedade e a arte do encontro e do diálogo.

Em sua fala, o purpurado demonstrou seu olhar de apreensão para as guerras que estão dilacerando o mundo, aquelas travadas na Europa e no Oriente Médio, mas também as guerras verbais que estão agravando uma época de tensão.

Desejo de recuperação do Papa

Parolin foi protagonista de um debate sobre atualidade com o delegado papal na Pontifícia Universidade Urbaniana,Vincenzo Buonomo. Anteriormente, ele respondeu perguntas de jornalistas no contexto do evento, começando por aquelas sobre a saúde do Papa, que está em repouso na Santa Marta. O purpurado manifestou o desejo de que Francisco possa “descansar” e “recuperar-se um pouco de cada vez”.

O Secretário de Estado Vaticano recordou também a Statio Orbis – que completou cinco anos nesta quinta-feira, 27.  “O Papa está bem conectado com toda a Igreja e com todos os fiéis”, enfatizou. “Isso foi demonstrado por todas as manifestações de afeto e, especialmente, de oração com as quais ele foi acompanhado durante os dias de sua doença e que continuam” até hoje.

“Desarmar” a linguagem

O olhar do cardeal se ampliou então para o mundo e chegou até aos EUA, de onde vêm as recentes declarações “fortes” do presidente Donald Trump contra os europeus definidos como “parasitas”. Parolin defendeu o “desarmamento das palavras”, retomando a bela expressão escrita pelo Papa Francisco em sua carta ao diretor do Corriere della Sera, Luciano Fontana, em 18 de março. “Desarmar as palavras para evitar que se tornem conflitos e se tornem uma guerra guerreada”, disse o Secretário de Estado. “Isto vale para todos. E especialmente hoje, quando há uma situação tão tensa em todas as áreas, é bom usar poucas palavras, ficar em silêncio, e se usar as palavras, que sejam palavras sábias, palavras que podem ajudar a dialogar, a se encontrar e não a dividir.”

Negociações na Ucrânia e soluções para Gaza

Sobre a Ucrânia, enquanto as negociações para uma trégua estão em andamento, o purpurado manifestou a esperança de que sejam “realmente” alcançadas “conclusões positivas”: “Acredito que o importante é que as negociações sejam realizadas sem pré-condições, para que um acordo possa ser encontrado e que uma trégua possa ser alcançada, agora e depois, uma negociação verdadeira para chegar àquela paz justa e duradoura que todos nós esperamos e que eu penso que as próprias partes também desejam obter”.

Parolin também pediu soluções em Gaza, manifestando o desejo de “uma trégua permanente”, de modo a “iniciar um percurso de pacificação e reconstrução”. “Acredito que as duas partes precisam ter um grande senso de moderação, que talvez não tenha sido exercido nem pelo Hamas nem pelos israelenses. Tentar encontrar uma maneira de resolver o problema que existe, sem ter que recorrer a armas”, enfatizou.

Posse de armas nucleares é imoral

O Secretário de Estado Vaticano também falou sobre a paz no debate sucessivo com Buonomo, destacando que “todos pensavam que essa paz continuaria (…). Bastou muito pouco para que essa ilusão desaparecesse”. O problema, segundo Parolin, é a “visão cada vez mais individualista do ser humano”, bem como a falta de confiança recíproca. “Tudo isso tem repercussões a nível internacional”, afirmou. “Ninguém mais confia em ninguém. E isso vem de não saber cultivar as relações e leva ao rearmamento, a atacar antes de ser atacado e cria-se essa situação de conflito permanente”. Para o cardeal “a posse de armas nucleares é imoral devido às consequências que podem causar”.

Vontade dos Estados de observar as regras

Referindo-se à cúpula da “coalizão dos dispostos” em Paris, ele reiterou que “toda a vida internacional se desenvolve com base na vontade dos Estados de observar as regras que eles mesmos estabeleceram”. “Se não houver essa vontade política, não há possibilidade de uma vida internacional pacífica e construtiva”, disse Parolin, lembrando como os organismos internacionais nasceram num contexto de Guerra Fria e após os grandes conflitos mundiais que ensanguentaram a Europa no século passado.

“Hoje, o mundo mudou profundamente. Há tantos centros de poder e talvez não tenha havido um compromisso suficiente por parte dos organismos internacionais para se adaptarem a essas novas realidades do mundo”. Talvez, de acordo com o purpurado, “tenha se perdido a esperança de mudar esse sistema, que é um sistema de bloqueio mútuo que não permite que os problemas reais da sociedade sejam abordados”. 

O cardeal reforçou ser necessário “adaptar os organismos internacionais à realidade que ocorreu nas últimas décadas”. A questão é se há “interesse em reformá-los para que funcionem adequadamente” ou “se prefere se inspirar em outros princípios”. Daí, uma reflexão também sobre a comunicação e a função dos meios de comunicação como amplificadores dos temas da paz e do diálogo. Em particular, “como cristãos”, disse Parolin, “temos o dever e o compromisso de retornar a esses temas que tendem a ser esquecidos por razões nacionais ou porque a mídia não dedica muita atenção a eles”.

Acolhimento dos migrantes

O debate também abordou a questão da migração, com o Secretário de Estado Vaticano observando uma “atitude negativa” em relação à migração “ao mesmo tempo em que reconhece que a Europa tem uma necessidade extrema de migrantes”. “A tentativa que está sendo feita é reduzir os fluxos irregulares”, afirmou, e em referência aos sentimentos das pessoas “que os políticos depois escutam”, acrescentou: “Há muito medo generalizado em nossa Europa de uma invasão, deveríamos ser capazes de desmantelar essa visão e ter uma abordagem mais positiva em relação a esses nossos irmãos e irmãs que estão fugindo de situações de extrema pobreza ou conflito. Acho que oferecer espaços para acolher os migrantes é fundamental”.

Quanto à fuga dos cristãos do Oriente Médio, o purpurado definiu como grande tragédia do ponto de vista religioso, “porque estes são os lugares onde o cristianismo nasceu”, mas é uma tragédia “também para as próprias comunidades” porque elas “são uma presença de moderação em muitas situações e podem contribuir para aliviar as tensões”. “Uma sociedade sem cristãos – concluiu o Secretário de Estado – corre o risco de se tornar radicalizada, extremista”.

Evite nomes e testemunhos muito explícitos, pois o seu comentário pode ser visto por pessoas conhecidas.

↑ topo