O Cardeal Jorge Urosa Savino, Arcebispo de Caracas, considera que aqueles que atacam Bento XVI por suas declarações sobre a evangelização dos indígenas não levaram em consideração o contexto em que ele as pronunciou.
Na sexta-feira, o presidente venezuelano Hugo Chávez pediu ao Papa que se desculpasse diante dos povos da América Latina por haver afirmado que a evangelização católica se realizou sem imposições.
Em um informe enviado a seus fiéis desde Aparecida, onde participa da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, o arcebispo da capital venezuelana esclarece que no discurso de inauguração dessa reunião eclesial, no dia 13 de maio, o Papa "não se referiu à controvérsia sobre a conquista e a colonização espanhola".
"Nem tampouco destacou, porque não era seu objetivo, a tarefa de defesa dos indígenas e dos africanos que a Igreja levou denotadamente a cabo, contra a ambição e a crueldade de muitos conquistadores", acrescenta o Dom Savino.
"Ele falou sobre a evangelização e aceitação da fé pelos povos originários, e o que disse textualmente foi: 'O anúncio de Jesus e do seu Evangelho não supôs, em nenhum momento, uma alienação das culturas pré-colombianas, nem foi uma imposição de uma cultura estranha'", recorda o cardeal.
Segundo o arcebispo, "o drama histórico da conquista e da colonização da América, com suas luzes e sombras, não entrava no objeto do discurso papal, nem é responsabilidade da Igreja então ou agora, como tampouco o é a atuação dos governos em nossos dias".
"É preciso dizer, isso sim, que a Igreja foi defensora incansável dos indígenas, e isso explica por que, ao contrário da América do Norte, onde os indígenas quase desapareceram, nossos povos são mestiços, e por que, em países como o México, Guatemala, Equador, Peru e Bolívia se conserva uma imensa população indígena".
"Isso explica por que, aqui em Aparecida, vêm anualmente mais de oito milhões de brasileiros humildes, descendentes de indígenas e afro-americanos, manifestar sua fé católica", diz o purpurado.
"A responsabilidade do drama da conquista e da colônia não recai sobre a Igreja, mas sobre outros atores", sublinha.
"O Papa não tem, então, que pedir desculpas por um pretendido genocídio ou holocausto, que a Igreja não propiciou, mas combateu", afirma.
"A polêmica desatada e os ataques lançados são injustos, sem base histórica, e sem uma leitura atenta do discurso de Bento XVI", destaca.
"Como venezuelano e como cardeal arcebispo de Caracas", conclui fazendo-se "totalmente solidário do Santo Padre nesse momento difícil, inscrito no meio de um processo de transformação política e cultural que está acontecendo na Venezuela".
E convida "todos os sacerdotes, consagrados e consagradas, leigos comprometidos e fiéis em geral, como bons filhos da Igreja nesta arquidiocese de Caracas, a sentir essa mesma solidariedade".