Laringe é a área mais afetada por tumores, e diagnósticos em estágios avançados comprometem tratamento e cura da doença
Thiago Coutinho
Da redação

No Brasil, o INCA aponta que entre 2023 e 2025, surgiram 39.550 casos / Foto: AndreyPopov de Getty Images
O Ministério da Saúde promove neste mês a campanha Julho Verde, que alerta para o combate ao câncer de cabeça e pescoço. Estimativas oficiais apontam que dentre os tumores malignos de cabeça e pescoço, o de laringe é o mais comum. Tireoide e cavidade oral seguem como as outras áreas mais comuns atingidas pela neoplasia. Um detalhe: homens acima de 40 anos são os mais atingidos pela doença.
No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) aponta que entre 2023 e 2025 surgiram 39.550 casos. Um estudo inédito, feito em 2017, apontou que 80% dos tumores de cabeça e pescoço diagnosticados foram identificados em estágios avançados, evidenciando também a relação entre o nível de escolaridade e o estadiamento da doença. Esse dado compromete seriamente as chances de tratamento e cura, destacando a urgência de ações para levar ao diagnóstico precoce.
“A laringe é uma das regiões mais sensíveis às agressões provocadas pelo álcool e pelo tabaco, principais fatores de risco para os tumores de cabeça e pescoço”, explica Fabricio Colli Badino, cirurgião oncológico de cabeça e pescoço. “Estruturas como as cordas vocais e a supraglote são altamente suscetíveis a esses agentes agressores. O hábito de fumar, inclusive cigarros eletrônicos, aumenta em até 10 vezes a chance de desenvolver tumores nessa área. Quando associado ao consumo de álcool, esse risco pode aumentar de 30 a 40 vezes. Por isso, a laringe é frequentemente acometida por tumores malignos”, detalha o especialista.
Homens são mais vítimas da doença
Homens, especialmente acima dos 40 anos, são as vítimas mais frequentes deste tipo específico de câncer. E a culpa disso é dos hábitos pouco saudáveis que a maior parte dos homens arregimenta ao longo da vida.
“Esse grupo etário é mais afetado principalmente devido ao acúmulo prolongado da exposição ao álcool e ao tabaco, geralmente iniciada ainda na juventude, por volta da segunda década de vida”, explica o oncologista.
A doença se desenvolve pelo excesso de tempo de exposição a fatores que potencializam o seu surgimento. “Como o câncer de cabeça e pescoço está associado à exposição contínua a esses fatores de risco por 10 a 20 anos ou mais, é comum que os sintomas e o diagnóstico surjam a partir dos 40 anos, coincidindo com décadas de agressão às células dessas regiões”, especifica o oncologista.
Como suspeitar do surgimento do câncer nessas áreas?
Algumas manifestações e sinais podem indicar a presença do câncer. Nódulo, dor de garganta persistente, dificuldade para engolir, alterações na voz ou rouquidão por mais de 15 dias e feridas na boca, no rosto ou no couro cabeludo que não cicatrizam em duas semanas são sintomas que podem indicar câncer de cabeça e pescoço. “Esses sintomas devem ser avaliados, principalmente se persistirem, pois podem indicar tumores na região”, alerta Badino.
A má higiene bucal também pode influenciar no surgimento do câncer. “Além do álcool e do tabaco, a má conservação da cavidade oral é um fator de risco importante para tumores malignos na boca. Tumores de língua, gengiva, palato (céu da boca) e mucosa jugal (parte interna das bochechas) estão associados à má higiene bucal e ao descuido com os dentes. Portanto, cuidar da saúde bucal é essencial também para a prevenção do câncer”, afirma o oncologista.
Chances de cura e tratamento
Se descoberto precocemente, as chances de cura do câncer na cabeça e pescoço existem. “Tumores de cabeça e pescoço ientificados na fase inicial têm uma chance de cura superior a 90% com os tratamentos atualmente disponíveis”, assegura Badino.
Infelizmente, porém, a maior parte dos casos no Brasil é descoberta em estágio avançado, o que torna a cura mais difícil. “Nesses casos, mesmo com tratamento, a chance de cura cai drasticamente. Isso reforça a importância do diagnóstico precoce e das visitas regulares ao médico e ao dentista”, reitera.
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento para a doença. As principais opções de tratamento, segundo Badino, são as seguintes: cirurgia, que busca remover completamente o tumor; radioterapia, com uso de feixes de elétrons direcionados à área afetada; e quimioterapia, via oral ou intravenosa, com ação sistêmica.
“Em muitos casos, os tratamentos são combinados para aumentar a eficácia. Quando a cirurgia é possível, ela costuma ser a primeira escolha.
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece todas essas modalidades de tratamento para pacientes diagnosticados com câncer de cabeça e pescoço”, finaliza Badino.