Especialista em Recursos Hídricos da Agência Nacional de Água (ANA) afirma que a questão é, antes de mais nada, pensar as águas residuais antes deste estágio
André Cunha
Da redação
Celebrado desde 22 de março de 1993, o Dia Mundial da Água deste ano vai discutir sobre Água Residual, aquela resultante de algum processo e que geralmente pode ser reutilizada para fins que demandem menos qualidade.
Águas residuais podem originar-se desde trabalhos mais simples, como lavar uma calçada, até processos industriais, que neste caso, podem ser reutilizadas, por exemplo, para resfriar equipamentos de grande porte.
Popularmente conhecidas como esgoto, as águas residuais compreendem todo o volume de água que teve suas características naturais alteradas após o uso doméstico, comercial ou industrial. Trata-se de uma substância com grau de impureza que varia de acordo com sua utilização, mas que sempre contém agentes contaminantes e potencialmente prejudiciais à saúde humana e à natureza de modo geral.
Uma estimativa da Organização Mundial da Saúde aponta que mais de 80% da água usada no mundo – em mais de 90% nos países em desenvolvimento – não é coletada e nem tratada.
No Brasil, a coleta e tratamento das águas residuais configuram-se como grande desafio para o saneamento ambiental. Segundo o Instituto Trata Brasil, apenas 48,6% da população tem acesso à coleta de esgoto, sendo que deste efluente coletado somente 40% passa por algum tipo de tratamento antes de ser descartado no meio ambiente.
O “x” da questão
Para o especialista em Recursos Hídricos da Agência Nacional de Água (ANA), Cláudio Itaborahy, a questão é, antes de mais nada, pensar as águas residuais antes deste estágio. Ele explica que as águas residuais são a mostra dos processos ineficientes utilizados na sociedade. Portanto, se houvesse clareza quando à forma de uso, os resíduos seriam menores ou quase zero.
Cláudio ressalta que, se as pessoas e as indústrias pensassem melhor, em muitos serviços não seria necessária a utilização de água. Como exemplo, ele cita algumas indústrias de cana de açúcar que usam ar para limpar maquinário, ao invés de água.
Ele também cita o uso eficiente, ou seja, se for realmente necessário usar água, deve-se buscar a maneira mais eficiente de fazê-lo. “Você decidiu que precisa usar água para determinado trabalho, mas você vai buscar consumir a menor quantidade de água possível e gerar menor quantidade de efluente ou água residual”, explica o especialista.
“O efluente é uma mostra de ineficiência daquele processo que você está usando. Logicamente, algum efluente é gerado na maioria dos processos. Mas quanto menos melhor, inclusive, se não for necessário dar alguma destinação a ele, porque o volume é mínimo ou zero”, acrescenta.
Reuso domiciliar
Cláudio destaca que o aproveitamento de água residual tem que atender normas e regulamentos. É uma questão muito séria, disse ele, e que deve ser sempre orientada por profissionais qualificados, tanto nas grandes atividades, indústrias, agricultura, em edificações, ou mesmo no ambiente domiciliar.
“O poder público tem que ter muito cuidado ao incentivar o uso de água residual em ambiente domiciliar. Isto, porque, a maioria das pessoas não está educada ou capacitada para isso. Mesmo essas águas de máquina de lavar, de chuveiro, de pia, embora não sejam tão agressivas quanto o esgoto, também tem bactérias e vírus. Tem que ter cuidado! Então, se a pessoa for fazer reuso em casa, deve estar devidamente orientada ou mesmo capacitada para isso”, disse.
Dia Mundial da Água
A data mundial para pensar a questão da água foi recomendado pela ONU durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Eco-92). Desde então, as celebrações ao redor do mundo acontecem a partir de um tema anual, definido pela própria Organização, com o intuito de abordar os problemas relacionados aos recursos hídricos.
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