Publicado neste sábado, 28, relatório oferece reflexões e propostas sobre diversas temáticas que foram debatidas nos dias de assembleia sinodal
Da Redação, com Vatican News
Diversos temas são abordados no Documento Síntese da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, publicado neste sábado, 28. Com a conclusão dos trabalhos desta primeira sessão da fase universal do Sínodo sobre a Sinodalidade – que será retomada em outubro de 2024, o texto foi elaborado com o objetivo de oferecer reflexões e propostas sobre algumas temáticas.
São cerca de 40 páginas que abordam, entre outras questões, o papel das mulheres e dos leigos, o ministério dos bispos, o sacerdócio e o diaconato, a importância dos pobres e migrantes, a missão digital, o ecumenismo e os abusos. A Igreja tentou oferecer uma resposta aos pontos que foram debatidos nos Círculos Menores e nas intervenções, e tudo foi reunido no Relatório de Síntese, dividido em três partes e guia na jornada rumo ao trabalho a ser realizado na segunda sessão, no ano que vem.
Abertura a todos
Como na Carta ao Povo de Deus, a assembleia sinodal reafirmou “a abertura para ouvir e acompanhar todos, inclusive aqueles que sofreram abusos e ferimentos na Igreja” (1 e), em um caminho a ser percorrido “rumo à reconciliação e à justiça”. Um primeiro passo para esse objetivo é a sinodalidade, “um modo de ser Igreja que articula comunhão, missão e participação” (1 g).
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“Uma Igreja sinodal não pode prescindir das suas vozes, das suas experiências e da sua contribuição. Precisamos compreender as razões da resistência à sinodalidade por parte de alguns deles”, afirma o documento (1 n).
Missão
A sinodalidade está diretamente relacionada à missão. O texto aponta que é necessário que “as comunidades cristãs compartilhem a fraternidade com homens e mulheres de outras religiões, convicções e culturas, evitando, por um lado, o risco da autorreferencialidade e da autopreservação e, por outro, o da perda de identidade” (2 e). Nesse novo “estilo pastoral”, revela-se a importância de tornar “a linguagem litúrgica mais acessível aos fiéis e mais incorporada à diversidade de culturas” (3l).
No documento, os pobres ganham especial atenção, pedindo à Igreja amor por meio de “respeito, acolhimento e reconhecimento” (4 a). “Para a Igreja, a opção pelos pobres e descartados é uma categoria teológica antes de ser cultural, sociológica, política ou filosófica” (4 b), reitera o texto. Também são identificados como pobres os migrantes, os indígenas, as vítimas de violência, de abusos (especialmente mulheres), de racismo e tráfico, pessoas com vícios, minorias, idosos abandonados, trabalhadores explorados (4 c).
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Além disso, é afirmada a ciência “do grito dos ‘novos pobres’ produzido pelas guerras e pelo terrorismo, também causado por ‘sistemas políticos e econômicos corruptos’”. Neste sentido, o documento incentiva um comprometimento com a “denúncia pública das injustiças” por indivíduos, governos e empresas e com o engajamento ativo na política (4g). Ao mesmo, deve ser continuada a ação consolidada da Igreja nos campos da educação, da saúde e da assistência social, “sem qualquer discriminação ou exclusão de quem quer que seja” (4 k).
Confira, a seguir, outros tópicos abordados no Documento Síntese:
Migrantes
Face à discriminação e à hostilidade enfrentada pelos migrantes em todo o mundo, o Sínodo exorta a Igreja “a praticar uma acolhida aberta, a acompanhá-los na construção de um novo projeto de vida e a construir uma verdadeira comunhão intercultural entre os povos” (5d), com “respeito às tradições litúrgicas e às práticas religiosas”, bem como à linguagem.
Combate ao racismo e à xenofobia
O documento pede igual empenho e cuidado da Igreja “em educar para uma cultura do diálogo e do encontro, combatendo o racismo e a xenofobia, especialmente nos programas de formação pastoral” (5 p). Também é urgente “identificar os sistemas que criam ou mantêm a injustiça racial dentro da Igreja e combatê-los” (5 q).
Igrejas Orientais
Voltando o olhar para a Europa Oriental e os recentes conflitos que levaram à migração de numerosos católicos orientais para territórios de maioria latina, aponta-se a necessidade de “que as Igrejas locais de rito latino, em nome da sinodalidade, ajudem os fiéis orientais que emigraram a preservar a sua identidade”, sem passar por “processos de assimilação” (6c).
Unidade dos cristãos
O relatório fala de uma “renovação espiritual” (7 c) e retoma a expressão do Papa Francisco de um “ecumenismo de sangue” para ilustrar “cristãos de diferentes pertenças que juntos dão a vida pela fé em Cristo” (7d). Também é reiterado que a “colaboração entre todos os cristãos” é um recurso “para curar a cultura do ódio, da divisão e da guerra que coloca grupos, povos e nações uns contra os outros”.
Leigos e família
O documento recorda que os leigos, os consagrados e os ministros ordenados têm igual dignidade (8 b) e cita como os fiéis leigos “estão cada vez mais presentes e ativos também no serviço dentro das comunidades cristãs” (8 e). É afirmado que sua contribuição é “indispensável para a missão da Igreja” (8 e), e que os diferentes carismas que surgem devem ser “evidenciados, reconhecidos e plenamente valorizados” (8 f).
Mulheres
Pede-se um forte compromisso no acompanhamento e na compreensão das mulheres em todos os aspectos de suas vidas, incluindo os pastorais e sacramentais. O texto diz que elas “exigem justiça em uma sociedade marcada pela violência sexual e desigualdades econômicas, e pela tendência de tratá-las como objetos” (9 c).
Clericalismo e machismo
O texto relata que muitas mulheres “expressaram profunda gratidão pelo trabalho dos padres e bispos, mas também falaram de uma Igreja que fere” (9f). “O clericalismo, o machismo e o uso inadequado da autoridade continuam a marcar a face da Igreja e a prejudicar a comunhão”, demandando uma “profunda conversão espiritual e mudanças estruturais”, assim como “um diálogo entre homens e mulheres sem subordinação, exclusão ou competição” (9 h).
Diaconato feminino
O relatório registra diversas opiniões quanto ao acesso da mulher ao diaconato. Para alguns, é um passo “inaceitável”, “em descontinuidade com a Tradição”, e para outros, restauraria uma prática da Igreja primitiva. Há ainda quem o veja como “uma resposta apropriada e necessária aos sinais dos tempos” para “renovar a vitalidade e a energia da Igreja”. Por fim, alguns expressam “o temor de que esse pedido seja a expressão de uma perigosa confusão antropológica, aceitando que a Igreja se alinhe com o espírito dos tempos”. Diante disso, é solicitado que se continue “a pesquisa teológica e pastoral sobre o acesso das mulheres ao diaconato” e que, se possível, os resultados sejam apresentados na próxima sessão da Assembleia (9 n).
Discriminação
Reitera-se a urgência de “garantir que as mulheres participem dos processos de tomada de decisão e assumam papéis de responsabilidade no cuidado pastoral e no ministério”, com adaptações do Direito Canônico (9 m). Os casos de discriminação no emprego e remuneração injusta também devem ser abordados, inclusive na Igreja, onde “as mulheres consagradas são frequentemente consideradas mão de obra barata” (9 o).
O relatório também indica que o acesso das mulheres à educação teológica e aos programas de formação deve ser ampliado (9 p), incluindo a promoção do uso de linguagem inclusiva em textos litúrgicos e documentos da Igreja (9 q).
Vida consagrada
Observando a riqueza e a variedade das diferentes formas de Vida Consagrada, o Documento Síntese adverte contra a “persistência de um estilo autoritário, que não abre espaço para o diálogo fraterno” e gera casos de abusos de vários tipos contra pessoas consagradas e membros de agregações leigas, especialmente mulheres. O problema “requer intervenções decisivas e apropriadas” (10 d), aponta o texto.
Diáconos e formação
“Chamados a viver seu serviço ao Povo de Deus em uma atitude de proximidade com as pessoas, de acolhimento e de escuta de todos” (11 b, os diáconos são alertados quanto ao constante perigo do clericalismo, uma “deformação do sacerdócio” a ser combatida “desde as primeiras etapas da formação”, por meio de “um contato vivo” com o povo e com os necessitados (11 c). Nesse contexto, pede-se também que os seminários ou outros cursos de formação dos candidatos ao ministério estejam ligados à vida cotidiana das comunidades (11 e), a fim de evitar “os riscos do formalismo e da ideologia que levam a atitudes autoritárias e impedem o verdadeiro crescimento vocacional”.
Celibato
O tema foi mencionado durante as discussões, e o documento sinaliza que “todos apreciam seu valor profético e o testemunho de conformação a Cristo; alguns se perguntam se sua adequação teológica com o ministério sacerdotal deve necessariamente se traduzir na Igreja latina em uma obrigação disciplinar, especialmente onde os contextos eclesiais e culturais o tornam mais difícil. Esse não é um tema novo, que precisa ser aprofundado” (11 f).
Papel dos bispos
O texto reserva uma ampla reflexão sobre o papel dos bispos, chamado a ser “um exemplo de sinodalidade” (12 c) ao exercer a “corresponsabilidade”, ou seja, o envolvimento de outros agentes dentro da diocese e do clero, para aliviar a “sobrecarga de compromissos administrativos e jurídicos” que muitas vezes atrapalham sua missão (12 e). Contudo, o bispo “nem sempre encontra apoio humano e espiritual” e “a experiência dolorosa de certa solidão não é incomum” (12 e), alerta o relatório.
Casos de abusos
Sobre a questão dos abusos, que “coloca muitos bispos na dificuldade de conciliar o papel de pai e o de juiz” (12 i), sugere-se “considerar a possibilidade de confiar a tarefa judicial a outro órgão, a ser especificado canonicamente” (12 i).
Formação
Pede-se uma “abordagem sinodal” para a formação, com a recomendação de “aprofundar o tema da educação afetiva e sexual, acompanhar os jovens em seu caminho de crescimento e apoiar o amadurecimento afetivo daqueles que são chamados ao celibato e à castidade consagrada” (14 g). Também é pedido o aprofundamento do diálogo com as ciências humanas (14 h) de modo a desenvolver “questões que são controversas até mesmo dentro da Igreja” (15 b), como as “relacionadas à identidade de gênero e à orientação sexual, ao fim da vida, a situações matrimoniais difíceis e a problemas éticos relacionados à inteligência artificial”.
Escuta
O documento renova o convite a uma escuta “autêntica” das “pessoas que se sentem marginalizadas ou excluídas da Igreja, por causa de sua situação conjugal, identidade e sexualidade” e que “pedem para serem ouvidas e acompanhadas, e que sua dignidade seja defendida”. Elas expressam o desejo de voltar para a Igreja, afirma a assembleia, recordando que “os cristãos não podem deixar de respeitar a dignidade de qualquer pessoa” (16 h).
Poligamia
A partir das experiências relatadas por alguns membros do Sínodo da África, o SECAM (Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar), é incentivada a promoção de “um discernimento teológico e pastoral” sobre a questão da poligamia e “o acompanhamento de pessoas em uniões poligâmicas que estão chegando à fé” (16 q).
Cultura digital
Por fim, o Documento Síntese fala sobre o ambiente digital, com o incentivo para “alcançar a cultura atual em todos os espaços onde as pessoas buscam significado e amor, incluindo seus celulares e tablets” (17 c). Deve-se levar em conta que a Internet “também pode causar danos e lesões, por exemplo, por meio de bullying, desinformação, exploração sexual e dependência”. É necessário, portanto, “refletir sobre como a comunidade cristã pode apoiar as famílias para garantir que o espaço on-line não seja apenas seguro, mas também espiritualmente vivificante” (17 f).